Capitulo dezessete- 'A última vez que a vi estava triste amargurado'...

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No dia 6 de abril de 2007 eu estava prestes a passar por grandes mudanças.Já fazia sete anos que eu e minha família morávamos no Pernambuco, sete anos de amizade com minha querida Quitéria. Meu pai havia decidido morar em Brasília novamente, apenas comigo e minha irmã, meus irmãos foram, mas logo voltariam com minha mãe para o Pernambuco, eu já tinha passado por muitas despedidas, mas aquela seria especialmente difícil, eu teria que ir me despedir de minha inestimável amiga Quitéria.

Meu pai ,meus irmãos e eu, fomos até a casa dela, ao chegarmos lá batemos em sua portinha de madeira branca e logo veio Quitéria, que estava no auge dos seus 101 anos, lentamente se aproximando da porta e logo perguntando quem era, nos identificamos e ela abriu a porta com muita alegria, nos abraçando como de costume e beijando ternamente as mãos de cada uma das quatro crianças ali.

Aquele foi o momento da nossa despedida, então naquela ocasião contei a ela que naquele mesmo dia eu estava completando 14 anos e que estava me mudando para morar em Brasília. Lágrimas escorreram pelo nossos olhos, Quitéria estava muito emocionada (um filho seu tinha ido para Brasília e não voltou mais de lá) bem no fundo eu e ela sabíamos que aquele seria nosso último momento juntos, mas eu me negava a pensar assim, eu dizia pra mim mesmo que Quitéria seria igual aqueles idosos do Guinness' Book, que alcançam os 120 anos facilmente, passamos uma  tarde maravilhosa juntos . Ela me deu muitos conselhos amorosos, infelizmente não lembro das palavras exatas faladas nesse dia; nem de todos os detalhes. Porém, eu lembro exatamente de como me senti, a dor que é a despedida de alguém que temos tamanha estima e consideração. E como precisamos estar atentos as pessoas importantes em nossas vidas, pois dificilmente saberemos que aquela é nossa última conversa ou oportunidade de estar juntos. E realmente aquela foi a última vez que a vi.

No começo de 2009 meu pai foi visitar o Pernambuco e não voltou sem antes ir até a casa de vozinha(como ele chamava Quitéria) que já estava com 103 anos.

Eu, infelizmente não pude ir por que era muito dispendioso e na época  não foi possível. Mas eu pedi a meu pai que tirasse fotos no celular da Nokia dele, e mandasse meu forte abraço para ela, naquele ano os celulares com câmera estavam começando a fazer sucesso, e meu pai registrou uma foto e meu irmão que tinha 12 anos gravou um vídeo que fez meu coração derreter por um momento , infelizmente não tenho mais o arquivo de vídeo só a foto, mas lembro exatamente do que ela dizia no vídeo:

- um abraço João Paulo e Gestika! ( ela não conseguia dizer Gessyka)

Que presente maravilhoso eu recebi ao ver esse vídeo! Que de certa forma foi nossa última comunicação, eu mandei um recado e ela mandou outro com 103 anos e bastante lúcida. Ela ficava muito satisfeita com essa consideração que mostrávamos por ela. Naquele mesmo ano em Novembro aconteceria aquela ligação mencionada no primeiro capítulo. Uma ligação que partiu meu coração porque faltava pouco tempo para eu voltar para o Pernambuco e ainda tinha esperança de vê-la. Na verdade eu ainda tenho esperança de que um dia estaremos novamente reunidos. Mas isso é assunto pra outro capítulo.

Bem essa história ainda não acaba por aqui! Porque não é só minha, ela tinha muitos amigos e uma família de fé e de coração. Quero compartilhar ainda como foi um pouco de minha vida ao retornar para minha terra natal e também outras pessoas que compartilharam generosamente algumas de suas preciosas memórias que irei revelar nos últimos capítulos desse livro.

Uma amizade inesperadaOnde histórias criam vida. Descubra agora