Capítulo dezoito-" E me perguntaram "'por que tanto choras?""

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Por causa de dois meses mais ou menos eu não pude me despedir da minha amiga, por um lado foi bom ficar somente com boas lembranças de nossos poucos, mas preciosos, anos de amizade.Em janeiro de 2010 eu estava mais uma vez em um daqueles momentos divisores de águas, estava indo de volta para o Pernambuco depois de três anos intensos em Brasília e Goiás, agora de volta para minha terra de origem, junto com meu pai e minha irmã.

Fomos pegar um ônibus na rodoviária de Brasília, chorei muito na noite anterior por causa de uma ligação muito carinhosa de alguém que havia me apoiado muito, não daria tempo de vê-la uma última vez, choramos os dois ao telefone, não pude me conter. Mas naquela manhã bem cedo já estávamos na rodoviária, mais uma vez, outros grandes amigos foram até a rodoviária, nos despedimos e nos abraçamos, lá de cima pela janela do ônibus um pensamento me levou as lágrimas: " e se eu nunca mais puder vê-los novamente e se essa for a última vez?' As lágrimas saíram sem nenhuma cerimônia.

Só me restava aceitar meu destino, eu iria rever tantos amigos no Pernambuco, minha mãe meus irmãos,os quais já não via há 3 anos, e pensava em todas as minhas idealizações de uma família unida e feliz. Ao chegar ao Pernambuco foi muita felicidade,revi amigos de muitos anos, meus avós minha mãe e irmãos. Logo voltariam as aulas, começaria a rotina. Fui dar uma volta no meu antigo bairro, de repente parei de frente a casinha de Quitéria, respirei fundo, e sorri, cada momento que passamos valeu a pena, não há espaço pra tristeza, tive a oportunidade de entrar ali, a casa não tinha mais o mesmo brilho e vida, estava vazia de amor e alegria, cortaram o pau-brasil que Quitéria tanto prezava e ficava de frente a sua casa, os dois pés de manga em seu quintal também já não existiam mais.

Alguns anos mais tarde eu tive uma surpresa muito desagradável, aquela casinha na rua José Pereira, estava sendo derrubada, eu não sabia o porquê, mas aquela cena me deixou muito triste, eu poderia facilmente querer parar aquela obra com as minhas próprias mãos, mas não o fiz é claro! Agora jaz nesse lugar a última testemunha de sua vida, sua simples casinha rosa veio abaixo! Agora uma estrutura mais moderna com primeiro andar ocupa o mesmo espaço.Somos meros espectadores nesse mundo observando idas e vindas até chegar nossa vez, nada nos pertence de verdade, então bens materiais ficam e são usufruídos por totais estranhos.

A morte é algo tão surreal para os humanos que por mais que se explique racionalize, nós não a compreendemos, parece que aquela pessoa foi passear e logo volta, mas eu tenho certeza que no caso da minha inesquecível amiga e companheira, isso é verdade logo ela voltará e nós vamos sentar a mesinha de madeira dela, e tomar um cafezinho da tarde junto com nossos gatos.

'Aqui nesse terminal

Eu termino minha sina

Aqui nesse terminal

É aqui que a vida ensina

que termino uma rotina

Um ciclo que cria que seria

Interminável...''

João Paulo Ferreira

Uma amizade inesperadaOnde histórias criam vida. Descubra agora