Capítulo 24

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Outubro

Dora

- Vai contar para ele?

Dan surge na porta do meu quarto, ele me acompanhou na ultrassom e segurou minha mão enquanto eu ouvia o coraçãozinho do mais novo membro da família.
O caminho de volta foi um completo silêncio, não falamos quase nada, ele parece não acreditar que vai ser tio.

- Eu não sei... Ele está mais disposto. Mas não sei qual seria a reação dele ao saber que será pai.

Dan entra no quarto e senta na cama ao meu lado, deito minha cabeça em seu ombro e meu irmão me embala acariciando meu cabelo.

- Falamos uma vez sobre um filho. Mas foi uma conversa rápida e eu nunca pensei que aconteceria de verdade.

- Se já falaram sobre, quer dizer que ele vai gostar da ideia.

- Pode ser que sim... Mas sabe - levanto minha cabeça e olho para Dan. - Acho que estou feliz.

- Acha?

Ele sorri.

- É como se a vida desse uma chance ao Lucas de lutar mais pela vida e... e... viver. Eu tenho esperanças de que com esse bebê, o Lucas fique bem e vivo. Se ele morrer, - respiro fundo. - Se o Lucas morrer eu acho que não vou suportar.

- Se ele morrer, você vai ter a gente ao seu lado, as pessoas que te amam. E ainda terá esse bebê - ele coloca a mão em minha barriga, ainda pequena. - qur vai ser o seu acalanto na dor, maninha.

- Obrigada, Dan! Obrigada...

- Vem cá, mana!

Deitei minha cabeça mais uma vez sobre o ombro de Dan e respirei fundo sentindo o carinho do meu irmão, que sinceramente, é o que mais me importa nesse momento.
Não quero pensar na morte de Lucas, quero pensar que ele vai sobreviver e que vamos criar esse bebê juntos.
Mas eu preciso, eu tenho que pensar nas duas opções.
Na morte e na sobrevivência dele.

- O que está fazendo?

Pergunto encostando no batente da porta do quarto de Lucas, depois de ficar horas sendo mimada pelo meu irmão mais velho, vim passar o resto da tarde com meu amor.

- Uma surpresa para você, então não saia daí até eu guardar isso.

Balanço a cabeça assentindo e rindo da forma com que ele guarda as coisas, papel, caneta e uns envelopes dentro da gaveta do seu criado-mudo.
Quando termina, ele respira fundo e pega a bolsa de rodas que está com o cilindro do oxigênio, assim que ele senta na cama, entro no quarto e beijo seus lábios, sorrimos juntos e sento ao seu lado, acariciando sua bochecha.

- Como você está, meu amor?

- Com um pouco de dor de cabeça. Mas estou bem.

- Há dois dias você sente dor de cabeça. Não acha melhor irmos ao médico ver o que é?

- Está tudo bem, meu amor. Deve ser por cansaço de ficar dentro de casa. Está na hora de você me levar para outro lugar.

Franzo a testa.

- Que lugar? Tem ideia de algum?

- Eu queria visitar um lugar que tenho muita vontade de conhecer, vai me levar?

Respiro fundo, me lembro do pedido de Nando dias antes de nos deixar.

- Que lugar, amor?

- Gramado. Rio Grande do Sul. Vamos?

- Será que você pode, amor? Eu...

- Ei - pega minha mão. - Não é um último desejo. Eu só quero ir e ficar ao seu lado, na cidade que eu tanto tenho vontade de conhecer.

- Não está parecendo isso...

- Mas é - ele beija meus lábios. - Acredite, é, meu amor!

Sorrio.

- Tudo bem! Nós vamos, eu vou comprar nossas passagens pela internet e ver o dia que podemos ir, está bem?

- Combinado!

Voltamos a nos beijar, quando nos afastamos, sorrimos e selo meus lábios em sua careca, ele abre um sorriso largo e da uma gargalhada contagiante.
Quando faço menção de levantar, Lucas pega minha mão, franze a testa e pergunta:

- Tem alguma coisa para me dizer?

- O que? Como assim?

- Não sei... Você está estranha. Um pouco tensa. Aconteceu algo?

Nego com a cabeça.

- Tem certeza?

- Está tudo bem, meu amor! Deixa de bobagem. Agora, - pego sua mão o puxando para levantar e ele o faz, ainda me encarando tentando desvendar o que se passa comigo. - enquanto não  vamos para Gramado, nós dois vamos lá fora no Jardim para você receber vento nesse seu rostinho lindo!

Pego a bolsa de rodas que está com o cilindro e saímos do quarto andando em direção às escadas, logo fito Érica sentada no sofá lendo um livro, quando percebe nossa presença, sorrindo, ela acena para nós, em seguida volta sua atenção para seu livro.
Assim que chegamos no Jardim, Lucas e eu sentamos no banco e encaramos a vista verde que o jardim da família nos proporciona.
Coloco a bolsa ao seu lado e cruzo as pernas, deitando minha cabeça em seu ombro após beijar sua bochecha.
Lucas me envolve em seus braços e sorrio sentindo o contato de seus lábios com minha testa.

- Está grávida, não está?

Levanto rapidamente e o encaro sem entender absolutamente nada, Lucas me olha e vejo lágrimas se formarem em seus olhos, balanço a cabeça negando.

- Sei que temos pouco tempo. Mas eu te conheço bem e sei que você está diferente. Amor, o seu corpo está diferente...

Ele sorri.

- Diga... Você está grávida, não está? Vamos ter um filho.

Não consigo controlar as lágrimas que descem por minhas bochechas sem que eu as deixasse.

- Sim, Lucas, vamos ter um filho.

- Ah, meu amor! Meu Deus, vamos ter um bebê. Isso é bom, eu sei que você está com medo de algo acontecer comigo, mas isso é bom, meu amor! Isso é muito bom!

- É bom... - sorrio. - Não é só bom, é ótimo, amor. Eu... Eu só...

- .... Só ficou com medo de me contar por causa da doença - ele diz me interrompendo. - Mas é o nosso bebê - Lucas abre um sorriso largo me olhando com uma felicidade visível. - e mesmo que eu morra, eu vou saber que eu tenho um pedaço meu com a mulher que eu amo.

Lucas me puxa e deito minha cabeça em seu peito deixando as lágrimas descerem por minhas bochechas sem qualquer cerimônia.

- Vamos ter um filho, meu amor! Um bebê e... - ele da uma gargalhada com a voz embargada. - E eu me sinto o homem mais feliz do mundo.

- Eu te amo!

Levanto minha cabeça e beijo seus lábios, quando nos afastamos, sorrimos, Lucas coloca um tufo do meu cabelo atrás de minha orelha.

- Te amo, meu amor!

- Vamos ser papais...

Digo rindo e chorando, volto a deitar em seu peito ele acaricia meu braço e meu antebraço, repetindo o que eu disse.
Vamos ser papais...
Estamos os dois chorando e não sei exatamente o que aconteceu para estarmos assim.
Talvez medo.
Talvez felicidade.
Talvez os dois.
Eu não sei exatamente, mas eu sei que o Lucas mudou e ainda está mudando toda a minha vida e para melhor.

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Até a próxima

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