10 - Por vias tortas

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A noite chega e com ela toda a malícia e lascívia da cidade que espreita das sombras que acordam com o som das luzes cínicas acesas pelas ruas frias.

Tatiana convenceu Ticiana a encontrá-la num bar pra discutir a relação que esfriava, seja pelas ocupações e problemas do dia a dia e pela a cabeça de Tati cheia de ciúme e mentiras.

Quando chegou na rotisserie, Ticiana já lanchava, faminta pelo dia de estágio e estudo.

Tatiana sentou-se e sorria feita uma boba, o texto decorado na sua cabecinha pronto pra rodar.

– Olha, vamos jantar que eu quero falar com você em particular. – Tatiana quis dar um beijinho mas Ticinha devorava um filé de frango com muita vontade.

– Eu tava planejando uma maratona de Star Trek com a minha irmã, você quer conversar antes disso? – Depois de mastigar muito, falou com pressa e dispersa.

– Pode ser, mas eu queria um tempo pra nós, tenho uma confissão pra te fazer, é muito sério. – Tatiana soou o mais séria que pôde, engolindo em seco.

– Você falou com a psicóloga dos pesadelos?

– Ela me deu mais uma porrada de remédios que me deixam lesada, eu não vou mais tomar aquilo, minha prima me deu um remédio muito bom, mas teve um efeito colateral que acho que você vai odiar.

– Você ficou com tremedeiras outra vez? Sonolenta?

– Não. – Pediu uma taça de vinho ao garçom e pousou os cotovelos na mesa – Eu acho que virei um monstro, alguma coisa se soltou e tou com medo de te machucar se a gente continuar junta.

– Do que você está falando? Você se machucou?

Tatiana segurou o sorriso e tentou falar a sério outra vez – Eu acho que estou virando homem, estou perdendo minha identidade, ficando doida mesmo...

Ticinha riu mas encontrou uma careta a julgando. – Você faz esse drama todo por falta do que fazer, ocupa sua mente e pára de inventar.

– Você acha engraçado? Eu fiquei ressentida quando você me disse que sentia falta do seu ex.

– Mas eu falei ironicamente, eu não quero mais aquele vagabundo nem pintado de ouro, falei que sentia falta dele que nem sinto falta de levar tapas na cara.

– Então você não gosta de uns tapas? Eu achei que gostasse.

– Não confunde as coisas. Se eu quisesse outro cara não tinha ficado contigo esse tempo todo mas a gente não tá encaixando, acho que era melhor dar um tempo.

O coração de Tati apertou, mas ela quis continuar a atuação. – Se a gente não virar inimigas pra mim tá bem mas eu preciso da sua ajuda, não quero falar aqui.

Respirou fundo e passou o resto do encontro segurando o choro sentindo-se uma estranha, impulsionada pela mistura explosiva de desejo e paixão apostando na surpresa pra reacender a relação.

Depois da janta apressada, foram pra casa de Ticinha e já no táxi Tati parecia incomodada com a frieza da namorada.

Tentou abraçá-la, mas o suor e a saciedade abafaram seus carinhos sutis.

Ticinha notou um cheiro estranho no ar, provavelmente o motorista fedendo, um odor forte e desinibido.

Em casa, sua irmã a aguardava com pipoca e bebidas pra maratona de seriados.

– Oi Liane, tudo bem?

– Oi Tati, nem sabia que você vinha, vou fazer mais pipoca.

Incomodada com o cheiro que parecia ser dela mesmo, Ticinha foi tomar banho e deixou as duas a sós.

Paradoxo Sexualmente TransmissívelOnde histórias criam vida. Descubra agora