Casa Madame Bovary, Belfast, maio de 1871
Katerina Abbott, mais conhecida como Kate, estava sentada na escada que levava ao segundo andar de sua casa, olhando para uma mulher aos prantos. Lady Chérie, ao menos era assim que Kate a conhecia, estava sentada no chão do segundo andar, no corredor ao lado de uma porta, tinha os braços em volta dos joelhos e a cabeça abaixada. Kate não entendia a tristeza daquela mulher, mas se compadeceu de seu choro e foi até ela.
Colocou sua mão em seu ombro e Lady Chérie percebeu a sua presença levantando a cabeça, demonstrando seus olhos vermelhos e a maquiagem borrada.
- Ah... você está aí, Kate - disse ela limpando o nariz de forma nada educada.
- Por que você está chorando? - disse, sentando-se ao seu lado.
- Ah, meu amor, quando você crescer você vai entender que os homens podem ser muito maus - disse colocando a mão nos braços de Kate como se fosse ela quem precisasse de consolo.
- Mas eu já tenho seis anos!
- Eu sei, e já é uma mocinha linda! Mas ainda tem muito o que viver, e precisa ter cuidado, pois um dia você pode se apaixonar e fazer uma besteira. Amorzinho, nunca confie em homem nenhum, está bem?
- Está bem. Mas o que o Sr. Turner lhe fez?
- Você é muito espertinha! Sabe até o nome dele.
- Ele vem aqui bastante, eu o vi algumas vezes no salão e minha mãe o chamava por esse nome.
Lady Chérie deu um suspiro alto, abaixando os braços.
- Estou grávida, meu amor - disse colocando as mãos na barriga - e o Sr. Turner não quer saber desse neném.
- Mas por quê?
- É uma história longa e complicada, coisa de adulto.
- Então você vai cuidar do neném sozinha, não vai? Quer dizer, nós vamos ajudar também! Igual ajudamos o Benny e a Tina.
Lady deu um sorriso triste e passou os dedos no rostinho de Kate.
- É verdade, sempre nos ajudamos, e dessa vez, não será diferente.
Kate se levantou e deu um abraço em Lady Chérie que a abraçou de volta, levantou, enxugou as lágrimas e voltou para dentro do quarto. Kate pode ouvir ela começar a chorar novamente, e se sentiu confusa. Como um homem não iria querer um neném? Seu pai não se casou com sua mãe, Kate não entendia direito porquê, mas sabia que ele as amava muito, sempre que podia estava com elas, trazia presente para as duas e passavam momentos muito felizes juntos.
3 anos depois
- Maria, eu não sei o que fazer... Eu o amo tanto e isso me dá ódio! Dói meu coração, ele nem olha para o pequeno Kevin - Lady Chérie levou as mãos ao rosto.
Kate ouvia no corredor a conversa entre sua mãe e Lady Chérie, sabia que não era correto ouvir conversas, mas a curiosidade era mais forte.
- Eu sei, eu sei - ouviu sua mãe falando - é uma situação complicada. Querida, tem certeza que é amor que sente por ele?
- Pareço louca, não pareço?
- Não! Não parece. Mas eu pergunto, pois é comum nós confudirmos nossos sentimentos, sei que ele a trata bem, mas tem ciência de quem você é, ele nunca irá assumir uma mulher da vida, muito menos uma criança bastarda.
- Eu sei, eu... não, eu não sei, na verdade. Eu não sei porque pensei que ele iria ver o Kevin e amá-lo, que iria aceitá-lo quando ele nascesse. Ele me ama, diz isso e mostra também, mas me dói demais saber que ele nem quer ver o filho.
- Por isso que eu sempre recomendo às minhas meninas para não seguirem com a gravidez.
- Eu não me arrependo nem por um segundo de ter tido o Kevin. Eu nem teria coragem. Pode ser loucura, mas é minha única ligação real com o pai dele. Sei que ele não pode me assumir, nem como amante dele, mas com o Kevin, sinto que tenho uma parte dele comigo.
- Esses nobres desgraçados!
- Fico triste pelo Kevin que nunca poderá ter o que o pai tem, nunca será um filho legítimo. Enquanto os irmãos dele tem tudo do bom e do melhor.
- Sim, a vida não é justa, e é por isso que sempre tento abrir os olhos de vocês. Se apaixonar por seus clientes nunca é benéfico para ninguém e as crianças são as que mais sofrem.
Kate ficou pensando em Kevin e o que Lady Chérie havia dito sobre ele não ter o mesmo que os irmãos. Era tão injusto! Ela adorava Kevin, era uma criança tão doce, não merecia ser rejeitado pelo pai. Ela precisava ajudar! E precisava criar um plano.
E foi com essa motivação que Kate, aos nove anos de idade, furtou pela primeira vez.
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Uma Ladra Bastarda [Completo]
RomanceEla é uma ladra solitária que precisa de alguém em quem confiar Ele é um abastado solitário que precisa de alguém por quem dedicar a vida