Capítulo 12

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"Não há solidão mais triste do que a do homem sem amizades. A falta de amigos faz com que o mundo pareça um deserto." Francis Bacon

Gael abriu os olhos lentamente, evitando a claridade que vinha da janela, revelando que o sol já estava alto. Fazia tempo que não dormia tão bem, considerando que havia voltado de uma viagem de navio, logo após toda a fuga ocorreu, e a prisão tampouco fornecia instalações confortáveis. Mas não era somente os aspectos físicos que descansaram, dormiu despreocupado e feliz após a noite que teve com Kate, conseguiu finalmente chegar ao seu coração, conhecê-la por inteiro. Queria ajudá-la não somente a se tornar uma pessoa melhor, mas queria ser alguém importante em sua vida, que ela pudesse contar com ele para tudo, fazer valer todos os votos que havia feito. Tateou a cama em busca dela, mas não a encontrou. Se sentou rapidamente e percebeu que estava sozinho no quarto. Havia um pequeno pedaço de papel na estante que fez Gael se sentir profundamente preocupado. Foi em direção ao pequeno papel, imaginando o que estaria escrito e esperando profundamente que fosse apenas uma pequena nota de desci para o café da manhã. Porém, como previa, não era, ainda mais quando viu que o anel de casamento era usado como peso de papel.

Eu não tenho palavras para agradecer o que fez por mim, mas eu não posso seguir sendo um fardo para você. Casamos, pois era a única saída para eu ser liberta da prisão, e agora que eu estou livre, não mais te perturbarei, afinal lembro-me que não gostava da minha companhia, então não será tão ruim assim. Peça a anulação do casamento, aos olhos dos outros ele não foi consumado. Eu não direi nada e você não ouvirá mais de mim, fique tranquilo e siga sua vida, seus afazeres, e espero do fundo de meu coração, se é que tenho um, que encontre a felicidade. Sinto muito por ter causado o que causei em sua vida, espero que possa virar essa página, eu certamente mudei para melhor e lhe sou grata eternamente. Por último, você tem, afinal, um advogado e tanto, agradeça a Ronan por mim e peça por mim desculpas pelo que furtei.

Sua ladra bastarda, K A

Um peso enorme caiu sobre o estômago de Gael, que por sorte estava vazio.

Afinal lembro-me que não gostava da minha companhia.

Ele podia ver ela sorrindo ao escrever esta frase, língua afiada que tinha. Não podia estar mais longe da verdade. Havia se apegado a ela, a sua companhia que há muito não via em uma presença feminina. E agora ela tinha fugido, cumprido sua palavra, mesmo depois do que aconteceu na noite anterior. O pior de tudo, que apesar de se sentir mal por aquilo, ele não conseguia imaginar ela fazendo algo diferente. Ela era orgulhosa demais para simplesmente aceitar uma vida de casada, uma vida presa a uma algema invisível, ainda que muito mais agradável que a física. Era demais para uma pessoa que há recém se deixou confiar em alguém. Ele a entendia, mas isso não diminuía o aperto em seu coração. E, por mais que poderia simplesmente aceitar o fato, respeitando seu desejo e deixá-la ir, não conseguia, precisava encontrá-la, precisava dela em sua vida. Poderia ser egoísmo de sua parte, querer fazer ela feliz, querer protegê-la, querer mudá-la para melhor, mas naquele momento não tinha forças para impedir a si mesmo. Talvez ela ainda não estivesse tão longe, talvez conseguiria achá-la com facilidade.

Se arrumou depressa e saiu, indo até o quarto de Ronan, porém não havia ninguém, desceu e o encontrou tomando café.

- Logo imaginei que não iriam querer seguir viagem logo cedo, por isso, deixei os pombinhos dormir um pouco mais... – Ronan foi baixando o tom de voz à medida que reparou na expressão do amigo. – O que houve?

- Ela se foi.

Ronan não pode negar a surpresa.

- Como assim?

Gael entregou o bilhete a Ronan que leu rapidamente.

- Anular o casamento? Mas que história é essa?

Uma Ladra Bastarda [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora