Clube Black Horse, Belfast, agosto de 1891
Ah... nada como o cheiro de casa.
Gael não estava em casa, estava em um clube de cavalheiros na sua cidade natal, a querida Belfast. Teria que analisar o conceito de casa, pois preferia passar mais tempo no clube do que na mansão que tinha num bairro luxuoso da cidade.
O cheiro que mencionava era o de seu país, pois encontrava-se há bastante tempo fora do solo irlandês, em solo americano, fechando negócios rentáveis, ele esperava.
Se alongou na cadeira confortavelmente, tomou mais um gole de seu scotch e suspirou pesado, descansando finalmente após tantos meses.
- Se considere um homem morto, seu desgraçado!
Gael se levantou rapidamente alarmado com o novo integrante de sua sala particular.
- E por qual motivo sou fadado à morte?
- Você me deve. - O intruso se aproximava em passos lentos.
- É mesmo? E o que eu devo a você, tenho o direito de saber? - O intruso já o havia alcançado.
- Dinheiro. Perdi aos montes apostando nas pessoas erradas.
- E o que eu tenho a ver com isso?
- Você era meu lutador da sorte, oras.
- Se você é um péssimo apostador, isso não é problema meu, mas como sou uma alma caridosa, pode se juntar a mim no scotch.
Eles se abraçaram rindo calorosamente.
- Desgraçado, nem me avisou que havia voltado!
- Se eu te avisasse, não iria perder tempo em me trazer pilhas de papel para eu assinar.
- É isso que pensa da nossa amizade?
- Algo do tipo.
Riram mais uma vez, Gael serviu bebida para seu amigo e se sentaram. Ronan Boyle era seu amigo de infância e seu advogado. Conseguiam separar muito bem as duas coisas, e no quesito profissional, Ronan cumpria muito bem o seu dever, já havia ajudado Gael com várias negociações redigindo e revisando contratos importantes, que fizeram de Gael não somente um proprietário de várias terras, assim como sócio de várias empresas, incluindo recentemente algumas nos Estados Unidos.
- Como te informei recentemente, estou perdendo dinheiro há tempo demais. Quando voltará a lutar?
Luta era um dos passatempos de Gael. Ronan sempre o acompanhava e levava sorte em apostar em Gael quando ganhava, pois, ele não era totalmente invicto. Os clubes em que lutava eram dotados de lutadores diversos, nem sempre Gael conseguia ganhar. Talvez fosse modéstia de sua parte, porém se via muito distante de um lutador imbatível.
- Hoje mesmo, não vou negar que sinto falta de uma boa luta.
- Isso muito me interessa, onde será desta vez?
- No Clube Ádh.
- Estarei lá, agora preciso me retirar. Como sabe, tenho que preparar alguns documentos para um recém-chegado cliente assinar. - Deu um sorriso e com um rápido cumprimento com a cabeça, se retirou.
Gael terminou seu scotch lentamente e foi para sua casa, a casa oficial. Havia chegado de viagem e ido diretamente ao clube, utilizava sua casa basicamente para dormir, passava o dia fora trabalhando e não havia nada nem ninguém em sua casa que o fizesse voltar antes de uma longa passada no clube de cavalheiros ou de luta, ou nos dois.
Não havia conhecido sua mãe que faleceu em seu parto, deixando um pai e um filho recém-nascido apenas com a companhia um do outro. Seu pai nunca se casara novamente, pois dizia que nunca poderia substituir a amada esposa, e falecera há dez anos, deixando Gael com o legado de continuar com a administração das propriedades da família em conjunto com as empresas que já possuía. Era sozinho, e já estava acostumado, pelo menos era o que dizia a si mesmo, quando um sentimento não identificado ameaçava perturbá-lo. Talvez inconscientemente era esta a razão de evitar permanecer em casa por mais tempo que o necessário. Seja lá qual fosse o real motivo, ele não estava disposto a investigar a fundo, afinal, vivia uma vida confortável e calma, se considerava realizado, com constantes desafios de suas empresas e propriedades, tinha amigos fiéis e ainda podia dispor de passatempos diversos. Essa, se poderia dizer, era uma vida abençoada, não era?
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Uma Ladra Bastarda [Completo]
Roman d'amourEla é uma ladra solitária que precisa de alguém em quem confiar Ele é um abastado solitário que precisa de alguém por quem dedicar a vida