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Passaram-se duas semanas, um mês, dois, desde que o toque de recolher fora imposto. Grande parte das pessoas estava aterrorizada, os pais não deixavam os filhos saírem de casa e tampouco eles mesmos saíam. A outra parte, não deu muita bola para o aviso e tenho certeza de que alguns se arrependeram drasticamente.

Algumas pessoas foram inteligentes o bastante para ver que aquilo não era um episódio normal, mas continuavam com a ideia plantada na cabeça de que a culpa daquilo tudo era da suposta "gangue terrorista"

Minha vida se tornava cada vez mais monótona e reclusa: pesquisas, mais pesquisas, até os momentos divertidos com Scott se tornaram cada vez mais raros à medida que a necessidade de procurar mais, procurar melhor, vinha a tona.

Mas, apesar de não haverem descobertas novas, muitas coisas mudaram quase impercetívelmente aos olhos de quem não estava a par de tudo. O tempo se tornara mais sombrio e parecia que a felicidade havia se extinguido da cidade. Acidentes sem explicação se tornavam frequentes. O que me consolava era saber que se não tivessemos imposto o nosso toque de recolher mais pessoas estariam morrendo.

Os intervalos entre as visitas de Julian haviam diminuído com a necessidade que tínhamos de obter o máximo de informações possíveis para poder encontrar alguma coisa. Claro que no fundo sabíamos que não encontrariamos nada na internet e não haveria nada de revelante nos livros. Aquele que havia na biblioteca só nos informava o que eram os Glions e nada mais. Só que não podíamos nos dar por vencidos.

Eu em particular já não sabia o que fazer. Nenhum sinal explícito de guerra foi percebido, Julian já não trazia tantas informações como no inicio, desconfiavamos que os Glions sabíam que ele estava nos trazendo informações e pararam de dalas e ele.

Scott por sua vez havia perguntado a Julian sobre os Trils, a raça inimiga dos Glions que haviamos encontrado no livro. Ele ao que parecía não sabia de nada, mas se habilitou a tentar descobrir alguma coisa.
 

Agora eu estava saindo da escola depois de mais uma quarta-feira monótona, quando avistei o carro de Scott parado do outro lado da rua. Ele abriu o vidro e acenou para mim. Pude ver Julian no banco de trás, como sempre com um olhar precupado.

De todos nós Julian era o que mais estava se afetando com aquilo tudo. O por que, acho, é óbvio. Ele estava servindo como um intercambio entre nós e os Glions, e aquilo era arriscado demais. Sempre adimirei a coragem com que ele fazia as coisas, com determinação e sem medo, mas como todo ser humano normal (ou quase normal), ele estava cansado e exigindo demais de sí mesmo.


Eu guardei o livro que tinha em mãos na mochila e a arrumei nas costas. Olhei de um lado para o outro antes de atravessar até onde Scott e Julian estavam. Nenhum carro. Era estranho, em geral aquela rua estava sempre movimentada, hoje porém estava sem movimento algum.

Comecei a andar cada vez mais próxima deles. Eu estava no meio da rua quando ouvi o barulho de um carro surgindo do nada em alta velocidade. A última coisa que me lembro foi quando o carro bateu em mim me arremessando para longe.

E apaguei.


                            Scott
   
- Julian mas isso não é possível!Ganhar uma guerra contra eles sem aliados e isentos de nenhum poder é simplesmente impossível!

Eu e Julian estávamos dentro de meu carro a caminho da escola de Jenny. Já era a quarta vez naquele dia que Julian tentava me convencer de que tínhamos uma chance de vencer uma Guerra contra os Glions sem praticamente nenhum recurso. É claro que eu tinha um plano.

Mais cedo naquele dia Julian nos trouxera informações sobre os Trils. Melhor, eu não sabia como, ele havia conseguido falar com um deles. Bem, é claro que eu tentaria algum laço de parceria. Em minha mente seria o mais óbvio a se fazer já que os Glions estavam dispostos a travar uma guerra contra o mundo humano.

O único problema é que eles não avisaram isso ao próprio mundo humano. Eles tentariam nos pegar desprevenidos é claro. Só que no que dependesse de mim, depois de tudo o que eles me fizeram passar eles não saíriam dessa ilesos.

Julian havia desistido de argumentar, o que era o mais inteligente a se fazer já que eu não iria ceder às suas investidas.

Parei o carro do lado oposto da escola de Jenny e cinco minutos depois a avistei  saindo para a rua. Abri o vidro e acenei para ela: ela arrumou a mochila e começou a andar em nossa direção pela rua vazia. Vazia demais para uma quarta feira.

Jenny já estava perto de nos alcançar quando um carro desgovernado surgido sabe-se lá de onde a derrubou.
 
- JENNY!

Eu abri a porta com força e Julian fez o mesmo e corremos até ela o mais rápido que conseguimos. Ela estava deitada no chão em um ângulo estranho, estava sangrando muito e havia um corte profundo em seu braço. Julian rasgou um pedaço de sua camisa e enfaixou o corte, nós a pegamos nos braços e a levamos rapidamente até o carro.

Não...a Jenny não..qualquer um menos ela...

Dirigi o mais rápido que pude até chegar ao hospital mais próximo. Ingnorei três sinais fechados. Danem-se as regras!Eu não podia perder a Jenny, não..de jeito nenhum...eu não iria perdê-la...

Chegamos ao hospital e assim que a descemos do carro uma equipe de enfermeiros a colocaram em uma maca e saíram a toda por um corredor. Eu e Julian estavamos prestes a fazer o mesmo quando um homem forte nos impediu.
   
- Descupem rapazes - ele falou com um ar de que realmente sentia muito - mas vocês terão de esperar aqui, da maneira como ela estava será um procedimento difícil, vocês não podem acompanhá-la.

Droga de hospital! como eles ousavam não me deixar ir com ela? mas...eu não podia fazer nada, percebi.

Caminhei até um banco daquele maldito hospital, sentei-me lá e chorei. Chorei por que não poderia perdê-la. Chorei por que a amava.

   

Toque de RecolherOnde histórias criam vida. Descubra agora