Toque de Recolher

14🌑

Nossos aposentos eram simples, porém sofisticados. Minha cama era grande e confortável, e era revestida com lençóis de seda. O quarto possuia um banheiro com uma banheira enorme, que caberiam 5 de mim. O quarto de Scott ficava ao lado do meu e ele não me disse nada mais que um "Boa noite" antes de se trancar no quarto. Dormi bem naquela noite, mais tranquilamente do que a muito tempo tinha dormido.

🌑

Acordei cedo no dia seguinte, ou melhor, me acordaram.

Eu estava sonhando, um sonho estranhamente bom, quando senti que me sacudiam. Abri os olhos espantada e me deparei com um par de olhos negros a centímetros dos meus, que se afastaram antes mesmo de eu gritar tal qual foi o meu susto.

- Pronta para treinar, novata? - falou Akira já andando pelo meu quarto e abrindo as janelas, luz do sol encheu o quarto me despertando.

- Por que diabos você está no meu quarto?! - exclamei irritada, se ele pensa que por ter um cargo importante poderá sair por aí invadindo quartos está muito enganado!

- Imaginei que precisaria de ajuda para acordar - falou ele simplemente se virando para mim - Tome - disse ele jogando o que pareciam ser roupas negras em minha cama - vista-as e me encontre lá fora em 10 minutos.

Ele saiu de meu quarto e eu precisei de um minuto para me recompor da invasão. Fui até o banheiro e tomei um banho rápido, escovei os dentes e me pus a vestir as roupas que Akira havia me entregado. Quando terminei me olhei no espelho: eu estava vestida em uma calça apertada, de um tecido macio mas resistente que eu não saberia dizer qual era, eu também vestia uma blusa solta, meio curta do mesmo tecido. A roupa me permitia ter uma boa articulação. Como ele não havia me dado nada para calçar peguei meus tênis que havia calçado no dia anterior.

Eu sai e encontrei o mestre espião me esperando prontamente, ele me avaliou e me lançou um olhar de aprovação, que logo se transformou em desaprovação assim que viu meus tênis.

- Pegue - ele falou jogando uma maçã em minha direção - coma e me siga.

Não ousei desobedecer.

Paramos na frente de uma espécie de galpão, o mestre espião parou por um momento comtemplando o prédio e começou a caminhar em direção a única porta visível comigo em seu encalço. Ele a abriu e quando entramos meu queixo caiu. Aquilo era melhor que a forja de armas, o chão era recoberto por colchões para aliviar a queda caso ocorresse algum acidente, as paredes cheias de armas de todos os tipos, sacos do tipo que usamos para praticar box estavam dispostos por todo aquele lugar. Mas o lugar estava vazio, o que era estranho. Como se lesse meus pensamentos Akira falou:

- Bem-vinda a minha academia de treinamento, a reservei só para nós enquanto concluimos o treinamento inicial.

- Que vai durar...? - ele me interrompe.

- Se você tiver inteligência e força o suficiente, 5 dias a primeia fase - ele me olha de cima abaixo - mas primeiro, vamos nos aquecer, vamos, quero 50 abdominais. Ah, e tire os sapatos.

Olho para ele incrédula, mas ele já começou uma espécie de aquecimento próprio, então tiro os sapatos e começo os abdominais, quanto antes isso terminar melhor.

Depois de um tempo acabo e ele vem até mim, sempre com um olhar sarcástico e superior no rosto.

- Para ser uma boa guerreira e saber lutar, é preciso saber manusear uma espada, e é justamente por ai que iremos começar. Não é o certo, antes disso você deveria passar por um treinamento muito mais complexo, mas não temos tempo para atrasos. - ele aponta para as paredes cheias de armas - escolha a sua.

Eu o olho cética, como vou saber qual arma escolher? Será que ele não sabe que nunca peguei em uma arma na vida?

- Não posso fazê-lo por você. - fala ele lendo minha expressão - O guerreiro escolhe sua espada. Ou melhor dizendo - acrescenta ele com um sorriso divertido - A espada escolhe o seu guerreiro.

Não perco tempo e me adianto para a fileira de espadas a minha direita. Dezenas de lâminas, retas, curvadas, algumas com ângulos extremamente estranhos e símbolos complexos. Variadas cores e materiais, ouro, bronze, prata, ferro e algumas que eu não saberia distinguir.

- Conta a nossa história - fala Akira atrás de mim - que ninguém entra nesta academia se este não estiver destinado a isso, não sabemos como, nem o porquê disso, apenas acontece. Parker por exemplo, - notei o uso do sobrenome de Scott - não será treinado nesta academia, assim como tantos outros não tiveram a honra de entrar aqui. Foi muito surpreendente para mim Jenny quando Kalel me falou que uma descendente mesmo que artificial de Glion seria treinada aqui, por mim. Se meses atrás alguém me dissese que eu treinaria um Glion, eu teria rido de sua cara, mas não posso contrariar o destino. Algumas dessas armas entraram aqui hoje antes do alvorecer, mas algumas estão aqui a séculos, por que não pertenciam a nenhum guerreiro que já foi treinado aqui, conheço cada uma delas como a palma de minha mão, cara uma tem singularidades próprias, ou seja, cada uma é única. Escolha bem Jenny, a partir do momento que a tomar como sua, ela não poderá ser tirada de você nunca mais.

Todas as palavras pronunciadas por Akira me trouxeram deslumbramento, e curiosamente senti uma afeição e respeito enorme por ele, comecei a caminhar pela academia adimirando as espadas, e o senti sempre próximo a mim, seu olhar atento a cada movimento meu.

Caminhei por um minuto inteiro até que uma força invisível me fez parar, levantei o olhar para a parte superior da parede e um modelo me chamou a atenção. Na verdade, não era apenas um, mas um par. Um par de lâminas negras, retas até certo ponto mas com as partes mais próximas aos cabos curvadas. Elas possuiam um cabo prata, e eu não saberia dizer de que material eram feitas. Deslumbrantes, estranhamente familiares, lâminas gêmeas, elas me pertenciam.

Olhei para Akira e poderia jurar que ví algo faíscar em seus olhos, algo como surpresa e possesão, senti que não precisava expressar qual era a minha escolha, ele já sabia. Abri a boca para falar, mas ele me interrompeu.

- São suas - falou num susurro rouco, e apontou a mão para as espadas que magicamente vieram até mim.

Assim que as peguei vi que o encaixe delas com minhas mãos eram perfeitos, surpreendentemente perfeitos. Akira fez um gesto rápido e sacou as próprias lâminas gêmeas das costas. Senti algo como um soco no estômago, agora eu via o porquê do reconhecimento quando olhei para as lâminas negras, minhas lâminas: elas pareciam formar um conjunto, algo planejado com as de Akira. Ele fez um gesto como se fosse se preparar para lutar, mas hesitou no último segundo e guardou as lâminas.

- Continuaremos amanhã.

- Mas nós mal começamos! - eu estava louca para usar as espadas.

- Não insista - ele falou num tom gélido que me deixou arrepiada, e logo em seguida me ofereceu um sorriso, o mais lindo que eu já o vira usar. - Descanse, Jenny.

Ele me deu as costas e sumiu no ar, para onde e por quê, eu não sabia.