23 - parte 2🌑

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- Cuidado - Akira diz enquanto subimos em silêncio a escada de ferro e pedra.

Eu assinto e continuo alerta a seu lado. A montanha parecia sussurrar em nossos ouvidos, e aquilo me perturbava infinitamente, os corvos pretos que rodeiam a montanha se aproximam e se afastam de nós frequêntemente como se para nos provocar. Minhas botas estão cobertas da terra vermelha e preta da qual a montanha é feita, e eu suava devido ao esforço de subir a escada de degraus largos.

- Abaixe-se! - grita Akira e eu me esquivo bem na hora que uma criatura parecida com um gavião enorme de bico afiado passa por onde nossas cabeças estavam a segundos atrás.

- É melhor nos apressarmos - digo e nós começamos a subir mais rápido, as espadas posicionadas para atacar a qualquer sinal de luta.

O Gavião, ou seja lá o que for aquela criatura nos assombra mais três vezes, na quarta, Akira faz sua espada brilhar nos raios de sol e deslizar pelo pescoço da criatura, respingando sangue dourado em nós.

Chegamos a uma parte da montanha que mais parecia uma pequena caverna, é preciso passar por ela para chegar a segunda escada segundo Akira, que conhecia a montanha como a palma de sua mão devido as várias histórias ouvidas ao longo do tempo. No meio da caverna há um pequeno lago de água cristalina, e uma lenta música suave e assustadora emana das paredes, ela tortura e acalma, confunde.

- Fique atenta Jenny, estou sentindo uma presença neste lugar, e posso apostar que não é coisa boa - sussurra Akira para mim e eu apenas assinto.

Nós atravessamos a caverna tranquilamente e sem interrupções, como se o destino e a sorte enxergassem nossa situação e  quisesse ao menos uma vez na vida nos ser favorável.

Entretanto, quando começo a respirar melhor ao ver a segunda escada bem a minha frente a menos de um metro de distância, um estrondo ecoa atrás de nós e nos viramos de súbito para dar de cara com a criatura mais aterrorizante que vi em toda a minha vida.

...

Uma mulher pálida e esguia de vestido branco nos olha. Não...ela podia olhar? Pois onde deveriam haver olhos...só existiam as órbitas vazias. A boca escancarada em um sorriso infernal e melancólico exibia dentes tortos e escuros, prontos para nos devorar vivos. O cabelo da mulher era do mais claro tom de branco, parecia até angelical, não fosse a dona de tudo aquilo.

- Asmirer - sussurra Akira mirando a mulher com um olhar mortal e levantando as espadas - Fique atrás de mim Jenny. - fala, soando como um cavalheiro pronto a defender sua donzela do perigo. Mas eu definitivamente não sou uma donzela.

- De jeito nenhum - digo indignada e me posiciono a seu lado no momento em que a criatura avança em nós com a boca escancarada.

Akira golpeia de um lado enquanto eu a acerto de outro, mas ela não parece sentir os golpes ao passar direto por nós dando de cara com a parede da caverna, e também não parece ter sido atingida pois não sangra. Era como se fosse feita de metal pesado e impenetrável, e nossas espadas fossem simples gravetos a lhe fazer cócegas.

- Precisamos... - ofega Akira - afogá-la no lago, é a única forma de sairmos vivos daqui, é necessário prendê-la, ela não pode ser morta. Ela é a lenda viva...do mundo dos Trils, foi expulsa a milhares de anos por insultar gravemente um mestre espião...então veio morar na montanha, e jurou matar qualquer mestre espião que cruze seu caminho - Akira salta para outro lado quando a criatura tenta acertá-lo com a mão - eu não sabia que a lenda era verdade...temos que...- ele salta novamente para longe de outra investida de Asmirer - afogá-la...

- E como vamos fazer isso?! -pergunto pulando para longe da mulher que tentava me alcançar. - Ela vai nos matar!

- Não não vai! - grita Akira tentando golpeá-la novamente, sem sucesso - tente pegar seus cabelos, é seu ponto fraco...precisamos fazer isso logo! - diz ele pensando rápido. Esta é uma das qualidades de Akira da qual sou totalmente desprovida, pensar rápido em situações um tanto...complicadas.

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