24🌑

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Jenny

- Isso é loucura - digo mesmo assim sacando as espadas.

- É insano - diz o Akira/2 - vocês não conseguirão nos vencer.

- Por que não conseguiriamos? - pergunta Akira os olhando atento.

- Nós somos vocês - responde a Jenny/2 - sabemos de seus pontos fracos, seus medos...sabemos exatamente como podemos vencê-los sem fazer esforço...

- Tentem - desafio, a voz carregada de uma coragem da qual eu sou desprovida - e falhem miseravelmente.

Assim que termino de falar, o Akira/2 me oferece um sorriso maléfico, antes de brandir suas espadas e avançar para mim, no mesmo instante em que sua companheira avança para o Akira número 1.

🌑

Ativo um escudo a minha volta e bloqueio seu golpe, é a hora de usar meus poderes, empunhá-los pela primeira vez. É difícil lutar contra um rosto amado, mas tenho que fazer isto. 

- Quer lutar com poderes? - pergunta ele, suave como uma cobra - então vamos lutar com poderes.

Ele guarda as espadas as suas costas, e eu faço o mesmo, nervosa, mas as deixando a meu alcance caso eu precise sacá-las rapidamente.

Me mantenho em posição de lutar, e sinto meu poder formigar em minhas mãos. Tão pouco tempo...eu conseguiria mesmo lutar contra Akira? Seus poderes se igualariam aos meus?

Ele ataca. Joga uma lança de poder gelado em direção ao meu coração, um golpe frio e fatal, caso eu não o tivesse bloqueado a atacado de volta, desta vez com o oposto, fogo.

Duas chamas emanam de minhas palmas abertas, meus dedos formigam mas não sinto queimar. Ele bloqueia o fogo, mas por pouco, uma pequena parte de seu cabelo é chamuscada.

Ao lado, percebo que...não, como poderia?

O Akira real e a Jenny falsa estão em combate, e seus movimentos...eles se igualam, igualam aos nossos. Mas como?

Ao mesmo tempo que ergo um escudo para me livrar de mais um golpe, a Jenny/2 ao lado faz o mesmo. O cabelo de Akira chamusca assim como o de seu clone, e isso me desespera. Estamos numa luta perdida? 

Não, não estamos.

O Akira/2 avança novamente com uma rajada de poderes, e eu consigo bloqueá-lo novamente. Rolo para o lado para evitar mais uma gavinha do poder que vinha sorrateiramente até mim. Estratégia, ele tem estratégia, coisa que não tenho experiência.

Penso, penso em como posso lutar contra aquilo...mas como vencer Akira, como vencer qualquer um que viveu anos entre treinamentos, espadas e armaduras? Como vencer um guerreiro?

Nesta dança de ataque e defesa que estamos fazendo, me forço a pensar numa maneira de nos tirar daquilo. No fundo, acho que aquela informação estava guardada no fundo de meu consciente durante muito tempo, pois sei o que será.

Acho que eu e Akira sabemos quem é mais forte, quem tem mais chances numa luta, seja corpo a corpo, seja com poderes. Nós dois sabemos, quem tem mais chance de salvar o mundo Tril, de acabar com essa guerra de uma vez por todas e conseguir trazer um mínimo de paz para aqueles ainda vivos.

Mesmo que recente, eu sou mestra espiã deste povo, e não quero ser lembrada por futuras gerações, se existirem futuras gerações, como uma covarde, não, quero ser mais que isso.

Eu sei o que tenho que fazer, sei muito bem, por isso, no momento em que o Akira/2 volta a atacar, eu não me defendo, não ergo escudo algum, deixo que ele venha, impotente, com a magia erguida furiosa ao seu redor.

E assim que essa onda de magia sai de suas mãos e me atinge com força no peito, assim que sinto a segunda maior dor que já senti em toda a minha vida, eu vejo a Jenny/2 cair ao meu lado, no mesmo momento que sou derrubada no chão, e meus olhos encontraram a escuridão eterna.

(...)

Não

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Não. Não, e me recuso acreditar no que vejo, no que está na minha frente, no que Jenny fez. 

Eu me recuso a crer que é seu corpo que está agora a minha frente, desmaiado no chão, morto, inconsciente, eu não sei. Não há movimento, ela permanece imóvel, sem sinal de ferimentos graves a não ser a camisa chamuscada por um feitiço. E fui eu quem fiz isso.

Não eu, meu outro eu. Mas tenho culpa, pois agora percebo que ele é somente um reflexo, uma sombra minha, um pedaço de meu interior sombrio e perverso, a parte que não desperto, que fica escondida no mais profundo e obscuro lugar de meu inconsciente.

Eu sabia, sabia que um dia isso me custaria, e este dia chegou, e é  hora de enfrentá-lo.

Olho para meu reflexo, que está a minha frente e me encara. Ele não sente dor, remorso, ele apenas tem sede de sangue, do meu sangue, do sangue de minha parceira.

- Agora somos eu e você - diz ele.

- Sim - digo e me ergo lentamente do lugar em que estou agachado ao lado de Jenny - lutaremos até a morte, e eu acabarei com você, lhe destruirei até o último fio de cabelo, e você se arrependerá de ter despertado de onde quer que tenha vindo. 

 Ele sorri, e eu me concentro. Começo a entoar um feitiço complexo em voz baixa, e ele franze a testa em minha direção, pegando suas espadas gêmeas idênticas a minhas e vindo em minha direção. Porém, antes que a ponta de sua lâmina chegue e perfure meu peito, ergo a mão em sua direção, e a giro lentamente olhando fixamente para ele, que para de repente, uma onda pesada de magia o acertando lentamente, lhe fazendo largar as lâminas e tapar os ouvidos.

- Seu insolente! - grita ele me olhando - Não vê que não pode me vencer? Sou você, seu tolo! Você não pode me destruir.

- Ah, posso - digo com ódio em cada sílaba proferida - como posso - e avanço para ele com espadas em punho e magia em mente.

No primeiro choque de espadas ele vacila, meu feitiço o fez perder forças, ele é somente uma parte, eu sou inteiro, sou Akira, sou cada parte minha boa ou ruim, e não me envergonho disso. Sou o mestre espião mais poderoso da história dos Trils, e posso vencer a mim mesmo, eu posso, sei disso.

No segundo choque ele vai para a beira do penhasco, seu olhar já não é divertido. 

Ele ofega, mas tenta manter a postura, se mostrar confiante, eu faria isso. Porém, infeliz ou felizmente sua tentativa é falha, ele sente medo, eu sei disso. Está fraco, minha magia inicial fez isso com ele.

Não houve terceiro. Suas defesas vacilam e mei feitiço o atinge, o fazendo flutuar no ar no ar para fora do penhasco. 

O sustento, tempo o bastante para erguer minhas espadas e dizer.

- Eu conheço a mim mesmo, e sou capaz de vencer meus demônios internos ou externos, você não passa de um reflexo, e a partir de agora, não é mais nada.

Uma de minhas espadas corre rápida por seu pescoço e o solto, o fazendo despencar montanha abaixo, cabeça separada de corpo, e vejo seu corpo de desintegrar no meio do caminho, ao mesmo tempo que sinto algo dentro de mim se partir. Me viro para trás e solto um suspiro de alívio quando vejo a Jenny/2 se desfazendo em pedaços mínimos como papel, que voam ao vento, e Jenny, minha  Jenny correndo em minha direção.


Toque de RecolherOnde histórias criam vida. Descubra agora