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O nervosismo havia me acompanhado desde o momento em que descobri sobre os Glions, mas agora, rodeada por essa confusão de corpos com e sem vida e sabendo que podemos perder uma guerra contra eles, a ansiedade me tortura.

Porque por mais que eu não queira admitir, eu sei que se isto acontecer eles tomarão o mundo dos Trils e transformarão aquela cidade linda e iluminada que Akira me apresentou em algo horrendo e desprovido de vida, sem contar no que farão com o mundo humano. Seriam capazes de dominar mundos?

O que seria da terra? Dos humanos? A raça seria extinta por completo ou usada como escrava? E os Trils, seriam todos mortos ou submetidos a algo pior?

Eu e Akira nos levantamos lentamente e ele me olha com medo. Nunca achei que veria aquilo nos olhos de Akira, pois ele sempre sabia o que fazer, mas agora o vendo assim, eu o conforto.

- Vamos vencer - digo para ele.

- Vamos - diz ele com a voz fraca, e nós avançamos para a luta.

Um dos Trils está com dois Glions em sua cola, e eu vou para lá lhe dar assistência e para meu tremendo desespero, em segundos perco Akira de vista, mas a luta não pode parar.

Golpeio o Glion pelas costas, cravando uma de minhas espadas no meio de suas costelas, sangue jorra e ele grita, e vira cinzas antes que possa se regerenar.

Continuo nessa caminhada, sem tomar nenhuma luta para mim, apenas ajudando Trils enrrascados.

Porém, enquanto eu corria na direção de outra luta, um Glion consegue raspar a espada por minha perna me fazendo sentir um ardor terrível que me faz fraquejar, entretanto consigo me levantar com algum esforço.

Fico em posição de ataque e o Glion avança até mim. Nesta dança sangrenta nós lutamos no mesmo nível, e não conseguimos atingir o outro no confronto por muito tempo.

Mas como previsto o Glion tinha uma segunda arma contra mim. De repente sinto algo me impossibilitar de usar as pernas, o Glion havia usado algum tipo de magia contra mim, e eu caio no chão.

Ele sem perder tempo ergue a espada para me atingir e eu fecho os olhos incapaz de ver o que me esperava, entretanto o golpe não vem, e eu sinto sangue salpicar meu rosto no mesmo momento que sinto o feitiço que me prendia ceder, e quando abro os olhos vejo Scott acima de mim com a espada abaixada, os cabelos grudados no rosto por conta do suor e um rasgo em seu ombro onde o tecido de sua roupa havia cedido, ao olhar para o lado, vejo o corpo do Glion que por pouco não me tirou a vida decapitado.

- Obrigada - digo ofegante quando ele me ajuda a levantar.

- Certa vez - diz ele ofegante ao mesmo tempo que me puxa para um lado do campo mais vazio - lhe jurei que, independente do que acontecesse, eu sempre estaria com você, porque não saberia fazer o contrário, e este juramento foi real.

As lágrimas enchem meus olhos ao relembrar aquele dia no hospital onde o juramento foi feito, e olho para Scott com ternura. Ele estava sujo de sangue, e tinha ferimentos leves por todas as partes expostas de seu corpo. Ele ofegava e estava alerta a toda hora, Scott Parker, eu tinha certeza, seria um guerreiro nato.

Apesar de eu desejar não o ver novamente em um campo de batalha.

Sinto alguém tocar em meu ombro e me sobressalto erguendo as espadas, mas ao me virar vejo que é um Akira cheio de sangue que me olha, e as abaixo novamente.

- Temos que fazer algo - diz ele para minha surpresa nervoso - o confronto...corpo a corpo... Não ganharemos assim.

- O que pretende fazer? - pergunta Scott preocupado.

- Tenho um plano - diz Akira - eu espero muito que dê certo.

Eu também esperava, porque no momento em que Akira acaba de falar, o portal se ascende novamente, e dezenas de Glions entram por ele.

- Vamos subir a montanha do tempo, o portal não pode ser fechado - diz ele para mim - Vamos acabar com isso.

Assim, Scott volta correndo para o campo de batalha, e eu e Akira nós dissolvemos no ar em direção a montanha do tempo. Fazer o que, eu não sabia, mas eu precisava confiar nele.

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Chegamos perto da montanha  e Akira me puxa para perto dele e me beija. Vi o desespero dele ali, o medo, e respondi com a mesma intensidade de sentimentos.

- Nós não vamos morrer - digo.

- Não - diz ele sussurrando.

Ele estava tão nervoso, tão hesitante, preocupado. Eu seguro a sua mão, e fico em silêncio por alguns segundos. Os barulhos da batalha eram meros sussurros ali.

- Vamos subir a montanha - diz ele, os olhos vazios - e parar o tempo.

- O que?! É possível? - pergunto incrédula.

- Sim, nós podemos fazer isso. O relógio - diz ele apontando para o velho e grande relógio acima - controla o tempo do nosso mundo. - percebo que ele se referiu a aquele mundo como meu também - Nós temos que pará-lo. O tempo vai parar para todo mundo, como congelado, menos para nós, nós não podemos ser parados.

- E o que faremos enquanto isso? - pergunto num sussurro.

- Reuniremos nosso poder, e mataremos quase todo o exército Glion - responde ele, os olhos preocupados e a voz falha.

- Então vamos logo! Podemos voar até lá em cima não podemos? - pergunto agitada.

- Não - diz Akira um pouco mais firme - temos que subir pelas escadas, e enfrentar o que quer que haja lá em cima.

- E o que há lá em cima? - pergunto.

- Não sei - diz Akira baixando os olhos - os únicos mestres espiões que subiram lá não voltaram para contar história, mas sabemos que morreram, porque o dom passou para outros. - ele levanta os olhos para mim - Olha, eu posso estar fazendo uma tremenda idiotice, por isso não avisei a Kalel porque eu sabia que ele não concordaria e seria capaz de me trancar em casa com um feitiço durante o resto da guerra, e eu até acharia melhor se você não subisse comigo, mesmo que seja provável que eu não consiga sozinho. O fato - continua baixando a voz - é que perderemos a guerra se não fizermos isso, sei que perderemos porque já estive em um campo de batalha antes e eu não vou me perdoar nunca se isto acontecer sendo que eu poderia ter feito algo, mesmo que arrisque a vida para isso.

Olho para ele, os cabelos negros bagunçados e a respiração falha, então prendo as espadas em minhas costas e me aproximo, envolvendo seu corpo com meus braços e levantando sua cabeça para que olhasse em meus olhos. Vejo aqueles mirantes sempre brilhantes, opacos, por isso encosto minha testa na sua fechando os olhos e digo.

- Eu vou com você. Onde quer que vá, vou com você.

Ele me abraça apertado, e da um último beijo em minha testa antes de se virar para a montanha. Aquilo não era uma despedida, eu digo a mim mesma.

O primeiro degrau da escada fica curiosamente a cinco metros do chão, então nós conjurados as asas e voamos até lá.

O vento soprava forte e os sussuros incessáveis que vinham do caos abaixo de nós era uma tortura. Então, eu e Akira desembainhamos as espadas e começados a subir.

Toque de RecolherOnde histórias criam vida. Descubra agora