VITÓRIA LINS- Vitória Lins - chama a enfermeira na recepção. Me levanto e vou em direção ao consultório, já pensando nas desculpas que daria por não ter seguindo sua última prescrição médica: perder alguns quilos.
Apesar de ser um médico renomado no país, não consigo "engolir" o Dr. Fagundes e por inúmeras razões que posso enumerar sem problemas, mas principalmente devo essa antipatia ao fato de ter sido internada a contra a gosto quando tinha 16 anos. Engulo a seco e tento não reviver esse momento.
- Bom dia doutor! - digo com meu sorriso amarelo e sem graça.
- Bom dia Vitória, como está? - pergunta ele se aconchegando na poltrona.
- Levando... - dou a mesma resposta a dez anos e ele ainda consegue achar graça.
Após uma série de avaliações físicas rotineiras, perguntas inconvenientes e análise dos exames de imagem, urina e sangue, ele pede que me acomode e senta novamente em minha frente.
- Seus exames físicos estão ótimos, assim como os de imagem e sangue, o que me leva a crer o Lúpus entrou em remissão. Porém... - diz ele receoso.
- Porém?! - digo angustiada, odeio quando ele faz essa cara.
- Seus exames de urina deram uma considerável alteração e precisaremos refazer essa coleta, além de realizar uma Urinocultura e Proteinúria de 24 horas. Talvez a doença esteja afetando sua função renal. - diz mais sério que o normal.
Fico sem saber o que fazer, com o olhar fixo na mesa tentando assimilar o que ele acabara de dizer.
- Isso não é bom, não é mesmo? - digo com a voz embargada, tentando não desabar em sua frente.
- Não se aflija, não vamos tirar conclusões precipitadas, você sabe que isso não ajuda no seu estado de saúde. Primeiro vamos realizar esses exames e descartar qualquer possibilidade. - diz sem me olhar ao preencher as prescrições.
Após prescrever as receitas de todas as medicações - acredite não são poucas - me despeço e saio do consultório mais abalada do que imaginava.
- Meu Deus, mais isso agora! Estava tão bem, começando a ter confiança em procurar uma vaga de emprego e ele me joga uma bomba no colo. Até quando Senhor, até quando terei de suportar isso?! - digo a mim mesma enxugando discretamente uma lágrima que teima em escorrer sobre minha face mais corada que o normal.
HENRIQUE PONTES
- Pensei ter sido claro em nossa última conversa. - meu pai diz sério, de pé frente à vidraça.
- Me perdoe pai, o despertador não tocou e ontem eu ... - tento me explicar, mas ele me corta abruptamente.
- Ontem você chegou às 02:40h bêbado, não foi mesmo? Em plena quarta-feira Henrique? Como pode ser tão irresponsável e imaturo desse jeito? - diz quase aos berros.
- A verdade é que realmente não tenho argumentos que justifiquem meu atraso. Peço perdão e só posso garantir que isso não ocorrerá novamente. - falo sério, tentando amenizar a situação.
- O problema não é seu atraso e sim sua falta de responsabilidade! Hoje tivemos uma reunião importante, na qual decidimos o que fazer sobre a questão da gestão contábil do escritório e você estava ciente disto! - realmente seu Heitor Pontes estava na escala 9 de 10, melhor eu nem argumentar.
- Em todo o caso, decidimos que fecharemos o setor contábil e contrataremos uma assessoria externa, que nos auxiliará com a auditoria da antiga gestão e na administração atual. – anuncia ele me pondo a par da situação e servindo duas xícaras de Capuccino.
- As coisas estavam tão precárias a esse ponto? De precisarmos demitir todo um setor? - pergunto receoso com a atitude.
- Sim, todos serão desligados. Entraremos em processo de auditoria, pois tenho sérios indícios de desvios ocorrido nos setores contábil e fiscal, além dos inúmeros problemas relacionadas a falta de pontualidade que acabam nos gerando multas exorbitantes.
- Entendo, não há o que ser feito mesmo diante desse tipo de situação. - digo aceitando a xícara que me é oferecida.
- Mantenha sigilo sobre a auditoria, para todos os efeitos estamos tomando essa medida com o objetivo de reduzir custos. Não queremos que eles se livrem das provas e indícios. – me alerta cauteloso.
- Sim senhor! - digo me levantando e caminhando em direção à porta.
- Outra coisa Henrique, mais uma dessas e já sabe. Só estou relevando essa vez em consideração ao pedido de sua avó, caso contrário estaria recolhendo suas coisas da sala. - diz ele em tom autoritário.
- Sim senhor! Não acontecerá novamente. - caminho em direção a porta sentido o peso do olhar de reprovação e culpa sobre meus ombros.
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Um Lobo em Minha Vida
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