Capítulo 11

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VITÓRIA LINS

Após aquele café me senti bem melhor - apesar de saber que a tontura não foi por fome. Henrique foi muito gentil e atencioso, bem diferente da figura que faziam na "rádio corredor". Ainda assim, tenho de lembrar que estou aqui pra trabalhar e não fazer perfil psicológico de ninguém.

Ao chegar vejo na mesa a cafeteira com um lindo laço vermelho, que só não estreio agora por já estar entorpecida de café pelo menos por algumas horas.

Sento e começo a revisar os documentos. São cinco anos de registros e documentos pra revisar e conferir minuciosamente, e penso:

- Jesus, onde foi que me meti?! - começo a ver algumas divergências e vou destacando uma a uma.

Ouço leves batidas na porta e uma gentil senhora, que me pergunta timidamente:

- Com licença doutora, posso limpar sua sala ou quer que eu venha em outro horário?

- Primeiro, não sou doutora, pode me chamar de Vitória, qual seu nome?

- Meu nome? Me chamo Ângela senhora.

- Pois bem Ângela, vamos combinar uma coisa? Você não me chama de doutora ou senhora e sempre que vier aqui tomamos um café juntas, que tal?

Ela me olha incrédula, como se o que eu acabasse de dizer fosse a coisa mais bizarra do mundo.

- Acho melhor não, minha supervisora não vai gostar, temos um protocolo a seguir.

- Bem, ela não está aqui agora, está? E qualquer coisa deixe que converso com ela. Só não quero me sentir mais estranha do que já me sinto aqui.

Ela sorri timidamente e concorda.

Resolvo dar uma pausa e puxo conversa com Ângela, que me conta sobre sua vida e sonhos. Está na reta final da faculdade de Pedagogia e seu sonho era ser professora de crianças especiais, pois tinha um filho com Síndrome de Down e conhecia muito bem a realidade dessas crianças.

Fiquei muito emocionada com sua história de superação e a fiz prometer me apresentar seu filho um dia desses, o que ela aceitou prontamente.

- Fico lhe devendo o café, pois ainda não comprei, mas na próxima vez não vai faltar, prometo.

Ela sorri e se despede. Finalizo minhas demandas do dia e me preparo para sair.

Fecho a sala quando viro dou esbarro em um homem alto, grisalho e forte, que me olha com curiosidade.

- Você é nova aqui? Nunca tive o prazer de esbarrar em você.

- Na verdade sim, estou prestando serviços contábeis pro escritório. – digo um tanto incomodada com a proximidade.

- Ah sim! Heitor me avisou. Sou Paulo Martins, sócio do escritório, estava viajando e acabei de retornar.

- Prazer, Vitória Lins.

- O prazer é todo meu Vitória. Espero que nos esbarremos mais vezes. - podia jurar que ele disse isso com um tom malicioso, deve ter sido pelo olhar nada educado que me lançou.

Nos despedimos e sinto o peso do seu olhar me analisando enquanto caminho. Odeio mais que tudo isso, mas finjo que não percebo e sigo adiante.

- Espero não ter se esbarrar de novo com ele, algo não me agrada e geralmente estou certa nos meus julgamentos. - penso enquanto entro no elevador.

Um Lobo em Minha VidaOnde histórias criam vida. Descubra agora