Capítulo 01

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VITÓRIA LINS

Mais uma noite mal dormida. Já fiz o que pude pra tentar ao menos dar um cochilo, mas quando fecho os olhos me vem a mente tudo o que mais quero esquecer: minha vida.

Sempre fui uma criança ativa e alegre. Corria, ralava o joelho, jogava bola e todas as peraltices que uma menina está acostumada a fazer.

Criada com pais e irmãos, sempre fui muito apegada à minha família, principalmente minha avó que sempre fazia de tudo para me ver feliz.

Um dos dias mais tristes foi quando tive de aprender o que significava verdadeiramente a morte.
Aos 16 anos perdi meu exemplo de mulher, meu anjo na terra. Minha querida vozinha nos deixou levando com ela toda alegria e beleza que conseguia ver na vida.

Acordo de meus devaneios e olho para o relógio, já são 02:30h e sequer consegui fechar os olhos por dez minutos.

- Já vi que meu dia amanhã não será fácil! - digo com o rosto afundado no travesseiro.

Logo cedo tenho uma consulta com meu reumatologista, Dr. Fagundes, com quem faço tratamento a mais de dez anos. Desde de meu diagnóstico de Lúpus - logo após o falecimento da minha avó - essas consultas sempre me deixam ansiosa e com insônia.

Tento não pensar em tudo que passei, pois sei que vou perder mais ainda o sono e coloco no Spotify uma música relaxante para acalmar minha mente e dormir um pouco. Espero ao menos conseguir...


HENRIQUE PONTES

- Galera só mais uma pra fechar, amanhã tenho reunião logo cedo e se me atrasar de novo, Sr. Heitor Pontes vai me dar justa causa! - digo ironicamente.

Bebo meu último chopp, me despeço dos meus amigos, não antes de pegar o contato de uma loira escultural que passou a noite me fuzilando com os olhos.

Antes de chamar um táxi, salvo o contato da loira - Sandra ou Silvia, não recordo - e digo o destino ao motorista.

São 02:30h da manhã e não tem nenhum trânsito, o que me permite chegar em menos de dez minutos ao condomínio onde moro.

O carro para em frente a nossa casa e posso ver uma luz acessa, nem preciso ser vidente para sabem quem é: Dona Amélia, que ainda está acordada à minha espera.

Minha avó, Dona Amélia, a matriarca da família Pontes, um exemplo de força, fé e persistência. Apesar de todos seus problemas de saúde, criou todos os filhos com muita dignidade, garantindo que nunca lhe faltasse amor, comida e educação, o que fez deles homens brilhantes que construíram um império.

Entro pé entre pé tentando não avisar minha chegada, mas muito esperta como só ela, Dona Amélia está sentada poltrona com seu terço me olhando desconfiada.

- Oi minha linda, o que faz essa hora acordada? Não acho que tenha tantos pecados assim que precise ficar até uma hora dessas rezando - digo meio sem jeito tentando desviar o foco.

- Henri, já são 02:30h onde você estava meu filho? - Dona Amélia pergunta desconfiada.

- Reunião de negócios vozinha, nada fora do comum, só perdi um pouco a noção do tempo.

- Sei muito bem que tipo de reunião era essa. Estou aqui tentando encontrar o sono que me abandonou e aproveitando pra pedir a Deus por um certo rapaz que não quer tomar um rumo na vida.

- Se esse rapaz ao qual se refere for eu, não vejo motivos pra gastar suas orações, seu neto é o melhor advogado da cidade e o melhor partido também. - digo me vangloriando de meus supostos feitos.

- Meu filho, o dia que você aprender o verdadeiro significado de felicidade vou fazer uma novena pra todos os santos! - ela diz com um sorriso sarcástico que é impossível de não amar.

- Tá bom vozinha vou dormir pois amanhã, ou melhor, daqui a pouco tenho uma reunião com um cliente. - me despeço com um beijo em sua testa enrugada.

- Mais uma coisa Henri, algo me diz que você não está longe de encontrar o que procura e nem sabe. - diz com uma voz suave.

- Hã?! Tá bom vozinha, boa noite, te amo minha gata! - dou risadas e subo pensando o que mais eu iria querer que já não tenha, minha vozinha e suas "previsões".

Um Lobo em Minha VidaOnde histórias criam vida. Descubra agora