Capítulo 16

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VITÓRIA LINS

Tentei sem sucesso dormir, meus pensamentos estavam a mil pelo acontecido no restaurante.

- Como vou explicar minha situação pra ele? Ele vai me aceitar assim? O que faço? Ele vai sentir nojo de mim!- digo me debulhando em lágrimas sobre meu travesseiro.

Por muito tempo evitei a aproximação homens justamente por temer esse momento: de ter de explicar meu diagnóstico. Muitos não entendem, acham que vão ficar doentes, que posso passar algo a eles ou coisas do tipo. Mesmo que eu explique que tenho uma doença autoimune e que NÃO é contagiosa, eles mudam comigo e por fim somem.

- Estou cansada de me decepcionar. De investir em uma relação que quando chega a esse ponto naufraga. Não devia ter me deixado envolver dessa maneira por Henrique.

Depois de horas e horas mergulhada em pensamentos e lágrimas, enfim caio no sono.

Apesar da noite angustiante que tive, acordo um pouco mais disposta e com uma decisão em mente:

- Hoje vou me despir de todos os meus medos e vou explicar para Henrique o que passo. Se estiver realmente disposto a investir nessa relação, ótimo. Caso contrário será apenas mais uma decepção pra coleção, que por mais que demore vai cicatrizar como as outras.

Saio um pouco mais cedo de casa para poder tomar um café bem forte antes do expediente. Chego e logo sento à mesa próxima à vidraça que tem uma linda vista pro parque. Me distraio vendo as crianças brincando com suas pipas e bolas e me lembro da época em que podia fazer o mesmo. Talvez a última vez em que tenha sido verdadeiramente feliz.

- Bom dia Srta. Lins! Sabia que a encontraria aqui. - sou puxada de minhas lembranças pela voz de Henrique que está parado em minha frente com minha xícara de café.

- Bom dia Sr. Pontes! - tento manter o tom irônico para tentar disfarçar meu constrangimento e vergonha.

- Está melhor hoje?

- Sim, mas precisamos conversar. - digo séria olhando eu seus lindos olhos.

- Vitória, como eu disse, sei que todos temos monstros interiores, e se você não estiver pronta para me contar eu vou entender. Não quero que se sinta pressionada a nada. Vou estar aqui o tempo que precisar, só não me afaste de você.

Suas palavras me tocam tão fundo que não consigo conter uma lágrima que escorre pelo canto do olho.

- Tenho uma doença autoimune chamada Lúpus Eritematoso Sistêmico. Ela afeta todos os meus órgãos e meus anticorpos não me protegem, mas me atacam afetando meus rins, coração, pele, fígado, pulmões e outros órgãos. Tenho de tomar medicamentos de 2 em 2 horas para ter uma vida relativamente normal e esses medicamentos me deixam mais vulnerável e esgotada. Com o tempo adquiri outras doenças que me deixaram mais frágil ainda e precisando de mais cuidados e mais medicamentos. - solto de uma vez de olhos fechados, enquanto ainda tenho um fio de coragem.

Henrique me olha perplexo, sem esboçar nenhuma reação ou palavra.

- Por isso não posso ter uma relação normal, sei que é algo muito difícil de se aceitar e conviver e não quero que ninguém tenha de ser submetido a todas essas minhas restrições. - digo de cabeça baixa tentando não encará-lo.

Henrique pega em meu queixo e me força a olhar em seus olhos.

- E quem disse que não quero ser submetido a essas restrições? Quem disse que isso seria motivo suficiente para me afastar de você? Eu já sabia Vitória!

- Como assim? Ana lhe contou? Eu vou mata... - antes que consiga terminar Henrique me interrompe.

- Não foi Ana, apesar de ela dar dicas bem evidentes de preocupação com você. Digamos que foi um passarinho verde quem me contou. Mas isso não vem ao caso, o importante é que saiba que estou aqui pro que precisar, quero cuidar de você e estar ao seu lado. Você não precisa mais ficar sozinha.

Ainda não consigo entender como ele descobriu, mas as palavras dele me soaram tão sinceras e verdadeira que sem nem pensar digo:

- Você está disposto a enfrentar mais dias de lutas que de dias de glórias comigo? Não vai ser fácil, nunca foi e não será!

- Se você estiver ao meu lado todos os meus dias serão dias de glória. E estarei aqui ao seu lado nos dias de luta, pronto pra te defender.

Não consigo conter as lágrimas e pulo em cima dele o abraçando o mais forte que pude.

- Posso considerar isso um sim? - ele me olha surpreso pela minha reação.

- Não! Esse é meu sim... - o puxo pela gravata e o beijo com todo meu sentimento e paixão, de modo a ficarmos sem ar e um tanto constrangidos por esquecermos que estávamos em público.

- Não estou tão certo entendi sua resposta, mais tarde você me explica melhor. - ele me olha com um olhar maroto e um terno beijo em minha testa que me faz sentir a mulher mais feliz do mundo.

Um Lobo em Minha VidaOnde histórias criam vida. Descubra agora