Capítulo 43 - Degustação

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Ela já estava há duas horas, sentada na varanda do nosso apartamento, com o mesmo olhar distante e contemplativo. Fiquei observando-a de longe, dando tempo e espaço para ela se acalmar e voltar a interagir comigo. Dominique tinha razão. Ela tinha atingido seu limite. Pensei que de repente, eu fosse o responsável direto por todo aquele stress.

Numa coisa ela estava certa. Eu precisava me corrigir quanto à minha tendência à procrastinação. Eu era facilmente levado a adiar tomar medidas imediatas sobre qualquer assunto. Talvez com a inocente esperança de que os assuntos se resolvem por si, ou pela expectativa de que pudesse encontrar uma solução mais racional.

Respirei fundo e fechei meus olhos enquanto soltava lentamente o ar, inspirado. Não conseguia acreditar que Briana tivesse intenção de matar minha mulher e meu filho, mas também não encontrava outra resposta para a atitude tomada por ela. Não tinha consciência da periculosidade de Briana; também não tive da de Melina. E assim me dei conta de que eu confiava demais nas boas intenções das pessoas e era por isso que eu estava fazendo check-in na recepção do inferno.

Meus pensamentos foram interrompidos por uma chamada no interfone de casa. Ao atender, o porteiro informou que Dom estava no saguão do prédio e passou o fone para ele. Ouvi atentamente a novidade de Dom. E pedi que ele me aguardasse pois desceria para conversarmos pessoalmente, e expliquei o motivo.

Antes de sair, chamei por minha esposa que me respondeu mecanicamente. Informei que iria até o saguão encontrar Dominique. Ela apenas concordou e retornou para a sua posição. Fiz uma nota mental para me lembrar de resolver as coisas com ela, tão logo eu voltasse. Peguei a chave do carro e entrei no elevador.

Dominique andava de um lado para o outro parecendo um animal enjaulado. Quando cheguei no saguão ele veio ao meu encontro contando um plano muito maluco para resgatar a namorada. Entraríamos nós dois na casa de Lia e tiraríamos ela de la.

— Tá, mas você nem tem certeza de que é mesmo o Raul. Lorena está sob pressão. Pode estar vendo coisas.

— E eu vou me dar ao luxo de ficar na dúvida? Vamos lá agora mesmo. Minha garota está em perigo.

 Minha garota está em perigo

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— Dom, tenha calma. Esse seu plano está muito maluco. Faremos assim. Eu sou marido de Lia e portanto, nada mais natural que eu vá até a casa. Afinal, ela ainda não concluiu a mudança para nosso apartamento e eu preciso buscar algumas coisas. Entro na garagem e dou um jeito de enfiar Lorena dentro do meu carro sem ser vista. Ela pode entrar pelo porta-malas. Não vai ser muito confortável, mas...

— Excelente. Então vamos.

— Vamos uma vírgula, eu vou! Você fica aqui ou vai para casa. Te mando notícias quando tudo estiver concluído. Se você for, fica muito na cara que ela está la. Entendeu?

— Está bem. Eu fico aqui. Vou subir e aproveito para fazer as pazes com Lia.

— Combinado. Agora deixe eu ir.

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