Capítulo 33 - Degustação

804 133 32
                                    

Mantive os olhos fixos nela através do espelho. Ela não disse nada, permaneceu olhando para a própria imagem refletida no imenso quadro transmissor de luz.

— Lia e Lorena? Não acredito que vocês duas estão de fofoquinha no banheiro sem a minha presença — Lis apareceu quebrando o perturbador silêncio.

Lorena caminhou até a porta, a destrancou e abriu, dando passagem para nossa amiga. Em seguida saiu do banheiro e fechou a porta atrás de si.

— O que aconteceu aqui dentro? Porque Lore saiu daqui parecendo uma múmia e você está com essa cara?

— Acabei de contar para Lorena que a mulher misteriosa que supostamente é a razão de Dominique ser como é, sou eu!

— O quê? – o tom de voz alterado, expressou a já esperada surpresa.

— Isso mesmo que você ouviu Lis. Acontece que a história que seu agora marido conta em tom de piada é metade verdade.

— Não! Espera aí. Você não está querendo me dizer que é a porretona que deu um pé na bunda do Sinhozinho Dom? — ela levou a mão à boca, surpresa. — Caracas! Eu estou passada. Mulher você é destruidora!

— Lis para e me ouve. Eu não sou essa vilã que o Enzo pinta. As coisas não aconteceram assim. Isso foi no começo da minha carreira, a situação era totalmente diferente. Eu nem conhecia Lorena. E mais. Tudo ficou no estágio um. Sem avanços. Não houve sexo, uma relação, nada! Foram beijos e uns amassos e acabou.

— Mesmo assim eu estou no chão. Mas porque você nunca contou para nós?

— Porque eu nunca imaginei que esse assunto se tornaria tão grande. De repente minha vida pessoal virou assunto de folhetim. De repente eu virei responsável pela desordem sentimental da vida de Dom. Sendo que ele sempre foi mulherengo, galinha. Eu não tenho absolutamente nada a ver com isso — desabafei.

— Eu entendi. E realmente não acho que você esteja errada. Vocês eram solteiros, livres, desimpedidos. Mas, você me desculpe, eu acho que você poderia ter comentado, sei lá. Receber essa notícia assim nos peitos, a gente nem sabe como interpretar.

— Do jeito que eu falei! Nunca houve nada entre mim e Dominique. Eu não sou a filha da puta que transformou o bom partido em um garanhão — não consegui mais segurar as lágrimas que estavam me sufocando.

Lis me abraçou, numa atitude que na maioria das vezes era tomada por mim. Era eu quem as consolava quando tinham problemas. E agora, eu estava ali, com a cabeça apoiada em seu ombro manchando de maquiagem seu vestido caríssimo, comprado especialmente para o dia que deveria ser lembrado com motivos de alegria e de festa, seu casamento. E ela passaria isso em minha cara algum dia.

— Se acalme! Vamos voltar para a festa. Amanhã vocês sentam e resolvem isso. Hoje eu quero minhas duas amigas celebrando comigo. Afinal de contas, eu casei, porra! Vou trepar todos os dias, em todos os cômodos desse apartamento, pelo resto da minha vida. Adeus vida de encalhada! Eu agora tenho uma piroca ítalo-brasileira para me saciar.

Soltei um riso entre minhas lágrimas. Ela tinha razão. Aquela não era hora e nem o lugar para choro e tristeza.

— Você tem toda razão, minha maluquinha. Deixe-me lhe dizer que eu estou muito feliz por vocês. Que você seja muito feliz. Você merece ser amada por dois Lorenzos.

— Obrigada amiga! Agora vamos. Antes que a festa toda venha para cá ver se estamos nos pegando.

— Vá na frente. Eu vou me retocar e já te encontro.

Ela me deu um beijo no rosto e saiu.

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

ATRAVÉS DOS SEUS OLHOSOnde histórias criam vida. Descubra agora