Capítulo 49 - Degustação

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Afastei o indesejável pensamento imediatamente e continuei no meu caminho em direção ao quarto onde Lia estava. Pela janela no fundo do corredor do hospital, os primeiros raios anunciavam, finalmente o fim da pior noite da minha vida.

Parei em frente a porta do quarto e pousei a mão sobre a maçaneta. A última visão que tive de minha mulher, foi ela parcialmente acordada, recebendo os primeiros socorros. Seus olhos pesados demostravam todo o cansaço e abatimento de um trabalho de parto feito de qualquer jeito e de frequentes e desreguladas aplicações de sedativos.

Respirei fundo e entrei no quarto.

Ela ainda dormia. Agora sua aparecia era realmente de repouso. Ligado a seu corpo um cateter administrava algum tipo de medicamento. Coloquei-me ao seu lado e acariciei lentamente seus cabelos em desalinho.

Parecia a mulher frágil que sempre foi, por detrás da máscara de durona e inacessível. Apenas eu e talvez alguma amiga próxima a ela tenha visto o qual frágil e sensível Lia Elizabeth era. E eu achava que poderia fazê-la se sentir cada vez mais forte, e mais segura de si. Que sob minha proteção e meu cuidado ela poderia ter certeza de que nada jamais a alcançaria... Como fui tolo. Nada estava sob o meu controle. Nem mesmo a possibilidade de transformar a minha Lia, numa super-heroína. Daqui para frente, eu teria que aprender a lidar com ela em sua pura e genuína essência. Teria que estar atento aos seus sinais de fraqueza e fragilidade, mesmo que estivesse tentando camuflá-los com atitudes fortes. Daquele momento em diante, era eu que precisaria aprender a confiar nela, se quisesse que ela realmente confiasse em mim.

Permaneci mais um tempo ao seu lado na esperança de que ela despertasse do seu sono profundo. Uma enfermeira entrou no quarto, verificou os aparelhos, mediu a pressão arterial dela, ajustou a dosagem do soro e se retirou. Acho que devo ter cochilado por algum tempo, pois quando voltei a abrir meus olhos, minha mãe e minha sogra já estavam de volta.

— Vocês estão aí há muito tempo?

— O suficiente para perceber que você está muito cansado e precisa ir para casa descansar — minha sogra respondeu

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— O suficiente para perceber que você está muito cansado e precisa ir para casa descansar — minha sogra respondeu.

— Não quero estar longe dela quando acordar.

— Filho, você passou a noite toda em claro, foi até o cativeiro, acompanhou o translado do bebê, não acha que deveria dormir um pouco? Está tudo bem. Ela vai dormir ainda por algumas horas, até que o organismo esteja limpo de tantas aplicações de sedativos. Vá para casa. Aposto que quando você voltar, ainda vai dar tempo de vê-la acordar e ver que você está aqui.

Minha sogra tinha razão, eu estava um trapo. Precisava de, pelo menos, uma hora de sono.

— Mas e o bebê? — retruquei.

— Vá Henrique, nós vamos ficar aqui e tomar conta de tudo. Qualquer coisa telefonamos e você vem. Agora vá! Ande! — minha mãe praticamente me expulsou do quarto.

ATRAVÉS DOS SEUS OLHOSOnde histórias criam vida. Descubra agora