Capítulo 28 - Degustação

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No domingo pela manhã, depois do café, decidimos aproveitar a área de lazer do condomínio. O dia estava tão bonito, que eu até me atrevi a pensar que Deus estava me recompensando por finalmente ter aberto os meus olhos e me reconciliado com meu marido.

Enquanto Henrique se distraía com alguma coisa no celular, me permiti admirar a perfeição com que eu tinha o privilégio de acordar todos os dias.

O cabelo castanho, um pouco crescido, caindo parte sobre a testa, parte sobre a armação dos óculos escuros, escondiam os mais belos e falantes olhos azuis que eu já tinha visto na vida. Na noite anterior, enquanto ele tentava me fazer enxergar o óbvio, foi possível ler inúmeras coisas, que passaram por aquele oceano azul. O olhar que me fez acordar do sono absurdo do medo e da insensatez, foi o de amor. Era lindo, vê-lo demonstrando seu amor por mim, através dos seus olhos. Mesmo numa situação onde além de amor, ele precisava ter muita paciência.

"Não sou uma pessoa fácil, admito!"

Continuei passeando por seu lindo rosto e algo engraçado arrancou um sorriso dos seus lábios, deixando o charme especial ficar por conta da covinha no queixo. A essa altura, imagens da nossa noite de amor pós-briga, já cruzavam minha mente. Lembrei por exemplo daquele peitoral esculpido por longas horas de exercícios físicos, das gotas de suor, que molhavam os pêlos negros espalhados por toda região do tórax, indo até o cós da cueca boxer, sendo pouco a pouco revelado enquanto ele desabotoava, lentamente, um a um dos botões da camisa jeans que usava. Henrique era uma manifestação sexual, fato. E eu já não tinha mais adjetivos que descrevessem a energia sensual que me consumia, quando pensava nele e em nossos momentos íntimos. Era tão intenso, que uma simples lembrança ou pensamento reverberava em todos os locais sexualmente exploráveis do meu corpo.

— Você está me comendo com os olhos — ele deixou o celular sobre a mesa e me encarou por trás dos óculos.

— Você tem noção do quanto está lindo hoje?

— Estou? — ele tirou os óculos e passou as mãos pelo cabelo. — Você acha?

— Você está irritantemente lindo hoje. Gostoso também — olhei dentro daquele poço azul que começava a transbordar luxuria. — Você deveria tomar cuidado com seus olhares... Eu consigo saber o que você está pensando.

— É mesmo? E o que eu estou pensando? — ele cruzou as mãos sobre a mesa e inclinou a cabeça um pouco para o lado.

— Seus olhos estão brilhando mais que letreiro de motel de beira de estrada. Você está pensando em alguma safadeza — ele fingiu surpresa. — E não faça essa cara, porque você fica ainda mais safado. Vai me contar o que você está premeditando?

— Nada que você não esteja planejando também. Aliás, temos umas pendências para resolver — respondeu e sorriu mordendo o lábio inferior.

O meio das minhas pernas entendeu claramente o recado e se manifestou imediatamente.

— Temos? Eu não me lembro. Será que você pode refrescar a minha memória? — cruzei as pernas.

"Gente do céu. Daqui a pouco eu estou servindo de regador para a grama do playground."

— Mas é claro que sim, minha esposa — diz olhando dentro dos meus olhos. — Sabe aquelas duas cadeiras estofadas que ficam na varanda do nosso apartamento? Então, estou louco para comer você de quatro, em cima de uma delas.

— Você ficou obsessivo por cadeiras e varandas?

— Minha obsessão é por você. Mas, me ocorreu que muitos ambientes do nosso apartamento ainda não foram explorados. Temos uma boa varanda, com uma vista privilegiada. Consigo me visualizar saboreando você de todas as maneiras e em todos os cômodos possíveis.

ATRAVÉS DOS SEUS OLHOSOnde histórias criam vida. Descubra agora