— Oi amor... — estampei algo parecido com um sorriso em meu rosto, enquanto ele me encarava parecendo não acreditar no que estava vendo. — Ei! Que cara é essa? Está parecendo que eu estava morta e voltei à vida...
— Fui eu quem morreu mil vezes essa noite... Achei que não conseguiria mais ver você, nem conhecer nosso filho. Eu... Eu...
— Xiu — o interrompi. — Eu estou aqui. Estou bem, apesar de estar meio grogue e um bocado confusa. Mas estou aqui! E seria necessário mais que um sequestro para me separar de você.
Ele apoiou a cabeça no meu peito, e senti suas lágrimas molharem o robe do hospital que eu estava usando. Deixei que ele chorasse o quanto quisesse, permaneci em silêncio e apenas acariciei vagarosamente os crescidos cabelos castanhos de sua cabeça.
Eu não tinha ideia de que horas eram, e nem de quantos dias haviam se passado desde que eu saí de casa na tentativa de buscar ajuda para o meu trabalho de parto. Minha cabeça ainda doía, e um desconforto estomacal me indicava que fazia algum tempo eu não me alimentava.
Ciente de que em algum momento alguém me colocaria a par dos acontecimentos, continuei oferecendo o pouco que eu tinha naquele momento, meu carinho e meu peito, para Henrique.
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Era incrível e as vezes revoltante que Henrique fosse tão bonito. Mesmo com os olhos avermelhados e a expressão de recém-choro, ele ainda parecia perfeito, em toda a extensão da palavra. Por inúmeras vezes tentei encontrar algum defeito, algo que diminuísse o impacto de sua beleza sobre mim. Mas nem mesmo uma manchinha marrom acima da menina dos olhos, resultado de uma Heterocromia Sectorial, conseguia derrubar o conceito de perfeição que os meus critérios de beleza estabeleciam.
— Está tudo bem? — ele falou de repente, interrompendo seu relato sobre os eventos que me ocorreram.
— Sim, sim. Porque a pergunta?
— Porque você estava me olhando fixamente, pensei que estivesse sentindo alguma coisa. Tem certeza de que está tudo bem? Não quer que eu chame o médico, ou um enfermeiro?
— Henrique está tudo bem. Estava só prestando atenção no que você me contava — menti descaradamente.
— Lia Elizabeth, a senhora é perfeita em tantas coisas, menos na capacidade de mentir.
— E como você sabe que eu estou mentindo?
— Porque eu conheço seus olhares. E esse último que você estava me dirigindo tem duas interpretações. Ambas totalmente distintas.
— É mesmo? Gostaria de ouvir o relato sobre isso, senhor Villas Boas. Fiquei off-line por algumas horas e o senhor se tornou um especialista em olhares? — sorri.
— Se estivéssemos em outro ambiente, e em outras circunstancias, seria um prazer fazer um relatório completo e com direito a aplicação na prática. Mas por hora eu vou apenas dizer que eu fico muito feliz em ver novamente os seus olhos, seus olhares e seus sorrisos. Você me faz muita falta. Nunca mais quero ter que ficar longe de você, nem por uma noite, nem por duas horas, nem por um minuto.
Recebi um beijo carinhoso e saudoso, daquele a quem meu coração só sabia amar, amar e amar.
Um barulho na porta e uma voz feminina muito autoritária, quebrou o silêncio do nosso momento "só love".
— Mas vocês dois já estão se agarrando? Vocês precisam respeitar os ambientes. Isso aqui é um hospital. Henrique, Lia está em recuperação e de resguardo. Dá para segurar a onda, só um pouquinho?
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ATRAVÉS DOS SEUS OLHOS
Roman d'amour"Uma união que nasceu antes mesmo que seus olhares se encontrassem." Quando Lia Elizabeth Mendes conheceu, por acaso, Henrique Villas Boas, não fazia ideia de que sua vida mudaria completamente. Inteligente, bem sucedido, rico e dono de um par de ol...