Freddie quem? 2

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Se você é irlandês, como eu sou, então 17 de março é uma data que nunca irá esquecer: o dia de São Patrício.

Em 1985, 17 de março caiu em um domingo, e na noite anterior eu estava bebendo com alguns amigos irlandeses. Todos nós concordamos em nos encontrarmos novamente no pub no dia seguinte na hora do almoço.

Eu raramente bebo na hora do almoço, mas naquele dia eu fiz uma exceção; A tarde logo se tornou a noite e, eventualmente, eu fui para Sutton e para a cama. Tive que ir trabalhar na manhã seguinte. Eu provavelmente teria cortado a garganta de alguém ao barbear se eu tivesse ficado bebendo por mais tempo.

Esse dia de São Patrício em particular está fixado na minha memória, então eu sei que era no sábado seguinte, 23 de março, que eu encontrei Freddie novamente.

O dia começou como qualquer outro. Eu fiz um pouco de jantar, em seguida, sai vestido adequadamente para o bar gay: jeans e colete branco. O visual da época era "High Clone", completo com bigode obrigatório. Eu peguei o metrô para Vauxhall e, subindo três degraus de cada vez, coloquei meus joelhos e traseiro do meu jeans. Eles rasgaram completamente.

Quando Maket tavern fechou, peguei um taxi, conduzido por um rosto familiar que ja estava acostumado, a quem sussurrei Sutton como meu destino. Essa noite decidi que queria uma festa e disse que, ao invés disso, me levassem a Heaven. Era um lugar muito casual para mim. Sempre encontrava o maior e mais impessoal para o meu gosto.

Cheguei bastante tarde, sem pernas e, sem dúvida, em outro planeta. O pior de tudo é que, depois de pagar o táxi eu tinha só 5 libras. Ao menos não tinha que pagar para entrar, pois na porta havia um amigo.

Me dirigi diretamente para o balcão de baixo e pedi uma lata de cerveja.

-Me permita pagar - disse uma voz.

Olhei para cima. Era o cara de Cocobana em 1983. O tal Freddie. Eu havia bebido bastante. Minha língua estava afiada e as minhas defesas estavam fracas.

-Não, eu te pagarei uma - eu disse.

-Uma grande vodka tonica - foi a resposta.

Assim se foram as minhas 5 libras em um só golpe. Com sorte me sobraria um pouco mais de uma libra para pagar um ônibus de volta para Sutton.

-Qual é o tamanho do seu pau? Perguntou Freddie, rindo.

Descobri mais tarde que era uma típica frase escandalosa de abertura usada por Freddie.

Não gosto de responder perguntas tão pessoais. Então disse:

-Não é da sua conta!

Se não estivesse tão bêbado, eu o mandaria para o inferno. Mas eu o repreendi por seu sotaque, uma espécie de fala arrastada.

- Pelo amor de Deus, pare de fingir o sotaque americano - eu disse.

- Não tenho sotaque americano - Ele contestou.

Se apresentou como "Freddie". Eu sabia que era Freddie Mercury, mas na época eu tinha pouca consciência de quem ele era realmente, ou sobre o que fazia. Não me importava.

Freddie me pediu para que eu me juntasse a um grupo de amigos que estavam agrupados no centro do bar. Ali estavam Joe Fannelli e Peter Straker, o cantor, com um monte de pessoas a mais.

Joe era loiro, musculoso e estava na casa dos trinta, com uma abordagem cautelosa das pessoas e da vida.

Não tenho a menor ideia do que qualquer um de nós falou sobre aquela noite, deixei que eles fizessem a maior parte do diálogo.

Um pouco mais tarde, Freddie me sussurrou no ouvido.

-Vamos lá, vamos dançar.

Nos dirigimos a pista de dança. Eu estava um pouco animado naqueles dias, ainda que bastante lubrificado. Eu dancei mesmo que fosse só eu que tivesse vontade. Disputando o terreno por fragmentos com qualquer um que teve azar de se por no meu caminho.

Durante algumas horas lancei Freddie pela pista. Creio que ele admirou o meu jeito de dançar despreocupado.

Quando deu umas quatro da manhã, Freddie decidiu que já havia bebido o suficiente e fomos todos convidados para acompanha lo para seu apartamento no número 12 do Stafford Terrace, em Kesington. Eu sentei ao lado dele no banco de trás do carro.

A casa de Freddie era na parte inferior de uma conversão do prédio. O corredor e a sala de jantar ficavam no térreo, e a cozinha no mezanino. No porão haviam os quartos - o de Freddie era de frente para rua e o de Joe era na parte de trás - e uma grande sala de estar com vista para um pequeno jardim no pátio.

Lá fora estava chegando o amanhecer, mas naquele apartamento todos estavam dispostos a seguir com a festa. A certa altura Freddie me ofereceu um pouco de cocaína, mas não era a minha praia.

-Não, obrigada - disse - não toco no branco.

Eu fumava um pouco de maconha de vez enquando, mas nunca nada mais pesado.

De todas as formas eu estava felizmente bêbado e mais interessado em brincar com os gatos de Freddie, Tiffany e Oscar, do que colocar qualquer coisa no meu nariz.

Apesar da casa estar mais cheia de gente e barulhenta, Freddie e eu flertamos o tempo inteiro. Havia muito contato visual, com a piscada, com aceno de cabeça ou toque ocasional.

Por fim, eu e Freddie caímos em sua cama, bêbados demais para nos tocarmos sem nenhum efeito a mais. Freddie se aconchegou em mim afetuosamente. Nos fomos nos soltando e finalmente dormimos.

Na manhã seguinte, nos deitamos esticados e entrelaçados, seguindo com a conversa onde havíamos parado.

Quando chegamos em o que faziamos para ganhar dinheiro, eu lhe disse que era cabeleireiro.

-Eu sou cantor - disse ele.

Depois ele se ofereceu para ir e me preparar uma xícara de chá. Mais tarde, cerca de meio dia, quando eu ia para o meu apartamento, Freddie me deu seu número de telefone.

-Obrigações justas - eu disse - Esse é o meu.

Não tive notícias do Freddie depois dessa noite e não voltei a pensar no assunto.

Três meses depois, no início do verão, ele entrou em contato. Uma sexta-feira cheguei em casa, comecei a preparar salsichas, purê, feijões e cebola frita. Acabava de colocar as batatas para ferver quando ouvi o som do telefone próximo as escadas no corredor. A senhora Taverner contestou e me chamou.

Desci quase rolando e a voz do outro lado me disse simplesmente.

-Adivinha quem é?!

Falei alguns nomes sem sucesso.

- É o Freddie! - disse ele - Estou organizando uma pequena festa, quero que venha.

- Não posso - neguei, acabei de fazer o meu jantar.

- Bem, desligue tudo de uma vez- exigiu insistente - eu garanto que ficará bem.

Assim, desliguei o fogo e fui para a casa de Freddie. Eu não tinha nenhuma garrafa de vinho para oferecer, mas senti que deveria levar algo como presente, então, quando cheguei a Victoria Station, comprei a Freddie dois ramos de frésia a 1.99 libras cada uma.

Então peguei um ônibus para Kesington High Street e caminhei em direção ao apartamento dele. "Isso é uma idiotice! Tenho que estar louco!" Pensei comigo mesmo. Nunca havia dado flores a nenhum cara e isso havia surpreendido a mim mesmo no momento que as comprei.

Mercury And MeOnde histórias criam vida. Descubra agora