Capuz

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"Você acha que já sabem que nós os pegamos?"

"Conheço a peça. A essa altura já devem estar até fazendo planos. Idiotas."

Essas eram as coisas que eu escutava á medida que ia ficando consciente.

Acorda, Rachel. Preciso fazer algo antes que me levem daqui, digo a mim mesma, apesar de não conseguir nem me mexer direito.

Por enquanto, estava tudo escuro. Os babacas tinham me vendado, suponho. Eu não conseguia falar por conta da fita em minha boca, mas mesmo que não a tivesse eu não me arriscaria a falar algo. Sair gritando qualquer coisa não era algo racional de se fazer naquele momento.

Eu me senti apertada, percebendo então estar em um lugar pequeno. Falhei ao tentar mexer as mãos e braços, já que estavam amarrados.

Foi aí que eu senti, por conta de ter coxas e braços expostos, algo. Alguma coisa fria se encostava por todas as minhas partes expostas.

Me segurei para não gritar.

Corpos. Presumi que fossem corpos, já que conseguia sentir sua peles. Por favor, não estejam mortos, por favor.

O automóvel parou. Algumas portas bateram e uma que supus ser a do lugar que eu estava, se abriu.

Tentei manter o controle o tempo todo. Não agir impulsivamente, já que a situação não era nada boa. Uma garota começou a berrar e um grito agonizante tentava sair da sua boca, uma vez que também estava com fita. Ouvi seu corpo despencar no chão depois de alguns segundos e ela se calou. Pensei que tivessem a levado, pois não ouvi mais nada. Voltaram um tempo depois e foram embora novamente.

Ok, agora pode ser sua vez. Ok, ok. O que você vai fazer?

Pensei em me bancar a coitada, chorando e agindo inocentemente para depois chocá-los e fugir. Mas eu não queria que me vissem como alguém fraca; como um alvo fácil.

Senti duas mãos violentas agarrando meus braços. Decidi mostrar que estava consciente, mas fiquei calada.

De acordo com o que eu ouvia, a outra garota estava sendo arrastada e eu achei que o homem que me carregava estava tocando cada vez mais no meu corpo. Senti a adrenalina correr dentro da minha veia.

Quem quer que seja que me levou, parou de andar, e fui jogada no chão em questão de segundos. Meu ombro se contorceu com a dor após cair como um objeto no chão frio.

Minha venda foi retirada e o mesmo homem cheio de tatuagens da lanchonete estava agachado a minha frente. O olhei com raiva e ele só sorriu, se divertindo com tudo aquilo.

Observei cada pequeno detalhe, tentando captar alguma coisa para me lembrar depois. Ou não. Eu iria morrer? Porque eles poderiam simplesmente me dar um tiro ou algo assim.

Mas uma voz dentro da minha cabeça sugeriu que se eles tinham feito tudo isso, não era para simplesmente enfiar uma bala na minha cabeça e deu. Definitivamente, eles queriam algo.

Haviam quatro cantos, obviamente. Eu estava em um. Fui seguindo com os olhos pelos outros. A garota de antes estava em outro.

E Spencer. Ele estava ganhando consciência e começou a gritar histericamente. O calaram com um corte profundo na perna. Nós dois contínhamos os gritos agora. Todos nós, pra falar a verdade.

Os homens foram embora. Se passaram vários minutos. Pareceram horas. Eu ainda estava em choque. A garota havia pegado no sono após chorar por bastante tempo, e Spence parecia estar cada vez mais fraco por conta do ferimento. Aqueles idiotas precisavam voltar, precisavam fazer algo. Eu não aguentava ficar naquele estado, com duas pessoas naquela situação e não fazer nada a respeito. Eu não aguentava ver meu amigo daquele jeito; ensanguentado e com lágrimas no rosto.

Tentei respirar fundo e pensar. Até que um pensamento foi surgindo na minha cabeça. Se eles nos quisessem vivos, teriam que nos sustentar, pois não aguentaríamos mais de três dias sem tomar água. Uma hora ou outra, eles viriam. Aquilo me fez conseguir mais alguma disposição para permanecer acordada e atenta, esperando eles chegarem. Mas eu não conseguia enxergar nenhuma câmera, apenas uma pequena tela no alto da parede. Ok, pensar em algo.

Eles queriam alguma coisa, disso eu tinha certeza. O que o homem de tatuagens tinha falado? Espero que a gangue de Mateo nos busque? De Michael?

A porta se abriu. Droga.

– Está bem. Oi, meu nome é Noah. Estou aqui porque Lúcifer falou que eu devo dar uma rápida explicação e então deixar vocês falar. Primeiro, queria dar o pequeno aviso de que vocês dois – ele apontou para mim e para Spencer. – Se tiverem azar, morrerão. Nosso propósito não era pegar vocês, apenas a garota estúpida. – Apontou para a menina no canto, que chorando, o encarou magoada. Eles se conheciam?

Noah tirou as fitas das nossas bocas e se sentou numa cadeira. Mandou nos ajoelharmos lado á lado na sua frente.

– Podem começar.

A princípio, ninguém falou nada. Mas então, Spencer se remexeu e o olhou furiosamente.

– Por quê? – rosnou entredentes.

– Porque ela é estúpida? Bom, primeiro que conhecer gente como Shawn Mendes, Matthew Espinosa não é algo inteligente. Segundo, é mais idiota ainda confiar em alguém que conhece pela internet á dois dias.

A moça se encolheu, ficando cada vez mais ofendida. Tentei gravar os nomes e sobrenomes que ele havia citado, mas só guardei o Shawn e o Espinosa.

– Não, seu idiota – disse Spence, cuspindo as palavras. – Porque fez isso?

Noah se levantou bruscamente da cadeira, pegando Spencer pela camisa e o prensando na parede.

– Cala essa sua merda de boca e pense bem antes de me chamar de idiota!

Engoli em seco, desesperada.

– Por que está dando todas essas informações? Não seria mais racional falar o menos de informações possível? – digo tentando tirar sua atenção do meu melhor amigo.

Ele se vira pra mim e sorri.

– Vê? Isso é algo inteligente de se fazer. Pensar no que fala. – Noah volta á cadeira, largando Spencer no chão como um brinquedo velho. Então sorri pra mim. – Digamos que geralmente, quando recebem essas informações, não tem muitas chances de sair por aí espalhando.

Ótimo. Vamos morrer aqui.

A tela no alto da parede se acende. Um cara de capuz e seu maxilar aparecem. Tinha cabelos pretos iguais ao capuz.

– Estamos chegando.

E a tela se desliga, deixando Noah completamente enfurecido. Ele sai aos berros, chamando outros caras.

É, acho que não. Nós não vamos morrer aqui.

Lose ItWhere stories live. Discover now