Sob controle

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Certa vez Spencer disse que eu era muito boa em manter as coisas no controle quando tudo virava de cabeça pra baixo. Sabia colocar ordem, organizar. Mas naquela situação eu me sentia simplesmente inútil. Não conseguia e nem podia fazer nada a respeito, e isso me frustrou muito. O pensamento que tive na hora em que o cara de capuz disse que estava vindo foi bem mais positivo do que era pra ser. Quero dizer, por que eu havia ficado tão aliviada ao ver que eles – quem por acaso não fazia e nem faço ideia de quem são – estavam vindo? Poderiam ser qualquer pessoa. Poderiam ser tão ruins quanto aqueles que nos sequestraram.

Mas isso tinha um lado bom, sim. Isso significava tempo. E tempo era nosso ajudante pra conseguir sair daqui.

A questão é que eu devia ter me tocado mais rápido de que quem nos salvaria seria nós mesmos. Esperar polícia, gritar ou chorar ia ser apenas perda de tempo.

Agir. Fazer algo. Vamos, Rachel.

– O-ok. – digo baixinho a mim mesma e me aproximo da garota, tentando me mostrar calma. – Ahn, qual é o seu nome?

Ela para de soluçar e ofegante, me olha como um cachorrinho perdido. Então se abaixa e começa a chorar de novo.

Calma, digo a mim mesma. Vamos tentar de novo.

– Estou tentando ajudar, só isso. – A tranquilizo.

Ela não reage.

– Olha aqui, estamos na mesma situação, mas ficar assim não vai adiantar! – elevo o tom, tentando convencê-la de outra forma.

E é aí então que ela se vira, furiosa.

– Caso você não esteja vendo, eu estou uma merda! Talvez nenhum de nós possa sair vivo daqui. E se isso acontecer, você não precisa se preocupar, mas eu vou ter pais e irmãs preocupados comigo!

Um parte de mim foi atingida com as palavras dela. Prendo o maxilar, queimando de raiva.

– Como você... - deixo escapar, mas um forte estrondo surge do lado de fora, me assustando. Então decido ignorá-la e me dirijo até Spencer.

Depois de cinco minutos a garota percebe o que havia falado e tenta se desculpar, envergonhada.

– Me desculpe, e-eu...eu... – olho de canto de olho e volto minha atenção para Spence – Meu nome é Anne.

Apenas a devolvo um olhar mas finalmente chego até Spence que começava a resmungar algumas gemidos. Ele havia adormecido faz um tempo e presumi que o corte estava tirando suas energias. Ele já não era alguém muito resistente, e agora com um corte daquele tamanho...

– Ei – ele diz assim que me vê – Você está bem? Eles te machucaram?

Nem consigo responder quando ele começa então, a ficar exaltado.

– Eu não quero que morramos aqui, Rach. Eu não quero que você morra aqui. Você é minha melhor amiga. Você é quase minha irmã. Eu não quero que eles façam algo com você...

– Calma. Vai dar tudo certo, Spence. Nós vamos dar um jeito.

Neste nível ele já estava aos prantos e eu me segurava para não chorar também. Não queria pensar nas palavras que ele havia dito. Não queria pensar que isso poderia acontecer.

A porta se abre. Noah aparece, a expressão dura, e caminha em nossa direção. Tira Spencer de perto de mim e mais outros dois entram.

Desta vez todos nós começamos a gritar. Um dos homens arranca as amarras dos meus pulsos e pés e me segura fortemente depois que tento escapar. Até que jogam uma faca no canto da sala.

– Agora levaremos seu amiguinho conosco. Vocês tem que escolher uma pra viver e matar a outra. Caso contrário, as duas morrem.

Gritos agudos e de dor ecoam. Me viro com olhos arregalados para Anne.

Droga.

Lose ItWhere stories live. Discover now