Sanduíche

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Pov's Matthew

Odiei vê-la daquele jeito. Sentia como se a tivesse afastado de nós. Como se ela não confiasse mais na gente, em mim. Rachel estava chateada e eu entendia isso, mas ela precisava entender como as coisas funcionavam por aqui. Só que eu não queria que fosse desse jeito.

— Rach! — digo em voz alta e já indo atrás dela quando Shawn puxa meu braço.

— Sério, Matt, estamos perdendo tempo.

Me viro para ele, cansado de tudo aquilo.

— Ok, já chega. Não sei quantas vezes vou ter que lembrar que todos concordaram com isso. Que você concordou com isso. Não vê que isso pode ser um ganho ao invés de uma perda? Que talvez ela ajude a achar todos eles mais rápido? A achar Abbie mais rápido?

Encaro-o, esperando alguma reação. Ele suspira e olha para baixo, desmontando sua guarda. Conhecia Shawn; sabia que por baixo de sua carcaça e de toda essa rigidez existia apenas um irmão desesperado e preocupado.

— Olha, eu sei que quer achá-la. Cada um de nós aqui quer. Mas eu estou do seu lado, cara. Só estou tentando ajudar. Como você, como todo mundo.

Ele me olha, franzindo a sobrancelha. Parecera irritado.

— É, mas você não parece sentir tanta falta dela. Ainda mais depois de Rachel.

Pisco, sem acreditar. Ele é tão fechado ás vezes que nem consigo saber o que pensa.

— Meu Deus, não. Claro que não. Eu sinto falta dela todo dia. Ela desapareceu, Shawn. Independentemente do que tenha acontecido naquela época, ela é uma vida em perigo. Uma vida que importa pra você. Uma vida que teve um passado comigo, então também importa para mim. E Rach — ele levanta sua cabeça em minha direção, o semblante sério. Tento não demonstrar nada ao dizer o nome dela, mas é quase impossível. — Rachel é realmente boa. Você viu ela hoje. Além de tudo que ela fez até agora, eu acho que ela pode ser a chave disso, cara.

— É mas você viu que é quase impossível treiná-la. E nós não podemos simplesmente aceitar alguém nos Condrictes sem nem mesmo um treino.

— Não sem o seu consentimento. — digo, levantando as sobrancelhas.

— Você está querendo dizer...

— Como nos velhos tempos.

Rimos com a lembrança e eu fico feliz de ver que ele está bem.

— Vou conversar com ela, bom? — digo, já abrindo a porta. — Enquanto isso você tem que ver com os Jacks se eles acharam mais algo e ir trabalhando nisso. Estamos chegando perto. Sei que estamos.

(...)

Tinham colocado Rachel no quarto mais longe possível. Assim que chego em frente ao quarto, ouço-a fazendo barulho.

— Rach? O que está fazendo?

O barulho para e volta novamente. Parecia que ela estava arrumando algo.

— Você não está indo embora, né? Abre a porta, vai.

Solto um suspiro. Sou ignorado novamente.

— Olha, eu só quero conversar. Sei que você deve estar chateada, mas nós precisávamos ter certeza de que podíamos trabalhar com você. Tem que entender nosso lado também; nossa missão envolve vidas. E sim, talvez não tenha sido o melhor jeito de treinar você mas nós temos outros, sério. Nós só — Me aproximo da porta, encostando as costas na mesma. — Nós precisamos de você. Queremos você.

Ainda não recebo nenhum sinal. Tento uma última vez, mordendo os lábios com o nervosismo.

— E eu acredito em você. — solto, por fim. — Acredito muito, Rach. Eu só quero que entenda que isso é algo muito maior do que apenas eu, ou você.

A porta se abre e eu me viro de costas, assustado. Rachel aparece, me olhando. Seus cabelos escuros estavam um pouco bagunçados, como de costume, e alguns cachos caíam sobre o rosto. Sua boca também estava um pouco avermelhada, e fico envergonhado de perceber isso. Estava sendo difícil nesses últimos dias de focar só na missão. Rachel era linda. E não era só algo externo; tinha algo em seu jeito que, não sei, me atraía.

E eu realmente queria ajudá-la. Sentia que devia protege-la. Nos últimos meses ela havia perdido seus pais e o melhor amigo e agora tinha tudo isso acontecendo com ela. Eu já estava acostumado mas isso era algo recente pra ela. Eu admirava muito sua força.

Ainda meio em transe, entrego-a um pacote.

— Peguei um sanduíche para você no refeitório, achei que podia estar com fome. O café da manhã acontece as sete.

— Obrigada. — diz, recolhendo o pacote e tocamos nossas mãos por alguns segundos. Ela levanta seu olhar pra mim.

Merda. Acho que eu não conseguia ficar mais nervoso que isso.

— Então — pigarreio. Começo a falar freneticamente. — Como eu estava dizendo, temos outros jeitos de treinar você. Como o anterior não deu muito certo, vamos tentar mais um. Esse é o último, eu juro, e talvez demore um pouco, já que estamos falando de uma luta. Você pode treinar durante a semana, provavelmente um dos nossos vai ser seu mentor, e estávamos pensando no teste ser na sexta, mas claro isso é só se você quiser, se não quiser está tudo...

— Ok.

— Ok? Ah, ok. Então já vou preparar meus cinco sacos de pipoca e... — finjo ir embora e ela ri um pouco. Fico aliviado.

— Ahn, Matt? Posso pedir um favor?

— Sim, é claro. — respondo um pouco rápido demais.

— Eu meio que queria pegar algumas coisas e visitar a minha casa. Não exatamente a minha casa, o lugar onde eu morava. — Ela prende o maxilar. — A casa do Spencer.

Aceno com a cabeça, querendo abraçá-la. Ela já estava a bastante tempo conosco e somente agora pede algo. Pede pra ver as coisas do melhor amigo morto.

Não conseguia não ficar sentido com a situação.

— Pode ser amanhã? Amanhã a tarde?

— Amanhã a tarde — respondo, sorrindo de leve.

Ela também abre um meio sorriso, e eu fico meio desnorteado.

— Obrigada — diz, e fecha a porta. 

Lose ItWhere stories live. Discover now