Quando chegou a hora do almoço senti como se os anjos tivessem me abraçado. Estava soada, cansada e morta de fome. Uma pausa havia sido ótimo, já que eu tinha que enfrentar mais algumas outras batalhas depois disso.
E eu tentei, de verdade, me concentrar apenas em comer. Mas era quase impossível. Como se já não bastasse o treino anterior com Shawn e sua ignorância, minha cabeça estava rodeada de pensamentos sobre ter que ver novamente a casa de Spence; sua cama, roupas e fotos nos porta-retratos.
Olho ao meu redor, prestando atenção nas pessoas almoçando também. Algumas conversavam entre si; outras mantinham suas cabeças enfiadas em livros e outras faziam como eu, tentando ao máximo evitar qualquer tipo de contato com alguém.
É quando reparo no livro que uma pessoa estava lendo. Tinha esse costume antigo de querer olhar a capa para tentar reconhecer o livro e esse, por sua vez, tinha a capa de uma janela, com uma plaquinha de loja logo acima.
Espera. A loja!
Me levanto e saio correndo depositar minha bandeja no lugar. Eu tenho que começar a anotar as coisas, pelo amor de Deus. Havia me lembrado da loja que vi com o sobrenome dos meus pais, e essa era uma das várias coisas que eu queria perguntar para eles, caso conseguissem me ajudar a descobrir. Até porque meus pais tinham que ter alguma relação com eles, já que Matthew havia me dito que eles ficariam muito orgulhosos se eu fizesse parte dos Condrictes.
Definitivamente eu tinha muitas perguntas a serem esclarecidas.
(...)
Estava chegando perto da garagem. Havia tomado um banho pra tirar o suor, corrido para a sala central e anotado as coisas que eu lembrava, junto com todas as minhas perguntas. Estava mais ansiosa do que nunca. Eu ia descobrir, de um jeito ou de outro.
Abri a porta, logo avistando Matthew encostado na lateral do carro, de braços cruzados. Ele abre um sorriso assim que me vê.
— Achei que ia ter que ir no seu quarto fazer um convite especial — diz, ainda sorrindo de canto.
— Nós combinamos aqui, não combinamos? Então vamos. — respondo, um tom um pouco mais rude do que eu gostaria. Entramos no carro, com ele franzindo o cenho.
Matt dirigia meio rápido. Depois de um tempo em silêncio, se vira para mim.
— Sabe, eu não entendo você.
— Não sabia que eu era uma charada pra você tentar me entender.
Ele ri. Olho para ele, que gargalhava. Eu tentava cortar assunto e ele simplesmente ria. Não me seguro e acabo rindo um pouco também.
— Que foi? — pergunto, me esforçando ao máximo para ficar séria, mas falhando na tentativa. — Do que você tá rindo?
— De você — diz ele, parando de rir aos poucos e olhando para a janela, balançando a cabeça. — Uma hora você é quase normal e gentil comigo e outra hora me dá um soco na cara com essas suas grosserias. Sério, um tubarão faminto é mais fofo que você.
Agora quem ri sou eu.
— Você pode por favor parar de me comparar com animais? — pergunto em meio a uma risada. Ele a devolve. — E eu não sou tão grossa assim.
Ele me olha e arregala os olhos, dando um riso curto.
— Não quero nem ver quando você for grossa de propósito então!
— É sério! Eu não sou grossa! — Vou desmanchando meu sorriso, me sentindo cada vez mais culpada. Desvio meu olhar dele para a janela. — Ao menos, eu não queria ser. — digo tão baixo que não sei se ele me ouve.
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Lose It
ActionEla perde tudo. É isso que a vida é, certo? Perdas. Pelo menos era o que ela achava, até conhecê-los. Até conhecer ele. Entre essas perdas, eles se acham. Entre essas perdas, eles acham algo muito maior: vidas em jogo. E precisam correr, se não quis...