Surrey, Inglaterra.
EDITH
— O duque está a caminho! — Ouvi a voz de Abigail.
Arregalei meus olhos ao ouvir suas palavras exaltadas.
Papai sempre me falou sobre como eu deveria me preparar porque me casaria com um duque, pois fui prometida.
Para mim, tremenda baboseira!
Eu estava com dezenove anos. Estive atrasada para minha iniciação social, e estive em duas temporadas em Camberley, onde vivo, da qual não aceitei investidas de nenhum rapaz. Primeiro: papai também não os deixava se aproximar, por conta deste duque. Coisa que pra mim, parecia fantasia da cabeça do meu progenitor.
E dois: eu nunca me interessei por nenhum deles.
Eu sabia que teria que me casar, construir minha família, e queria isto. Desde muito cedo, Abigail, que já foi uma grande dama, se tornou minha acompanhante, governanta desta casa, a referencia materna que eu tive, por perder a minha mãe quando nasci. Ela ficou viúva e sem fundos muito jovem e me ensinou tudo para ser uma dama e boa esposa. Mas eu queria ser esposa de alguém que eu amasse de verdade, como nas histórias de amor que papai tem nos livros da biblioteca.
Um amor real, não algo social. Afinal eu vou ter que conviver com o meu esposo para o resto de meus dias.
— O duque? Aquele duque das fantasias de papai? — Perguntei eu, balançando meu corpo em minha gangorra no jardim.
Abigail nunca estaria satisfeita com nada, agora por minha negação, mas principalmente pelos meus sapatos estarem sujos de grama. Mal sabe ela, que eu estava sem eles, até agora a pouco. Sentindo a grama gelada abaixo de meus pés.
— Não são fantasias! — Ralhou. — É seu futuro noivo. — Completou.
Fiz uma careta sem me conter.
— Eu não preciso de um Romeu. — Desdenhei.
— Por Deus, Edith! A história de Shakespeare termina de maneira terrível! — Disse ela, ultrajada, me fazendo sorrir. — Mas você logo conhecerá seu futuro marido, que te levará para a alta roda em Londres. — Completou entusiasmada.
Eu por outro lado, não conseguia ficar contente. Eu amava a fazenda, e morar com meu pai. Amava minha vida e estava satisfeita em viver no interior, não me alegrava a ideia de conviver com nobres esnobes, se posso correr livremente pela fazenda, e estar perto de quem amo. Minha família... Que ia além de papai, mas Abigail, Nana, a cozinheira da fazenda, Madeleine sua filha, minha amiga, e também Thomas, meu fiel amigo.
— Papai não pode me obrigar a casar! — Murmurei, expressando minha mais sincera opinião.
— Não tem escolha, Edith. — Ouvi então, atrás de mim como um fantasma, ele decretar.
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Avistei a carruagem do nobre adentrar os portões da propriedade, da janela de meu quarto. Abigail estava empolvorosa, (a forma como ela apertou meu espartilho, pode ser usado como prova) esta estava se movimentando em extrema curiosidade atrás de mim, para, poder vislumbrar pela fresta que abri na cortina a chegada do duque.
Só então, eu percebi que a fantasia de meu pai, não era tão fantasiosa como achei que era.
Infelizmente, papai não me deixou muitas escolhas, e ao citar em como este, seria a realização de um sonho para minha falecida mãe, me vi resignada a casar sem amor com um desconhecido.
Avistei o cocheiro abrir a porta da carruagem, e dali saiu um homem loiro, muito bem trajado, bonito mas nada que enchesse meus olhos. Mas atrás dele, saiu o outro, que supus eu, ser o duque devido as vestes mais escuras e requintadas. Este tinha o rosto masculino e maxilar anguloso, era alto mas não tanto, não tinha mais que vinte seis anos, tinha bom porte, e seus cabelos eram tão negros, e seus olhos tão azuis, que mesmo ao longe, era impossível não se surpreender com tamanha beleza.
— Querida! Você é uma dama extremamente sortuda! — Exclamou Abigail atrás de mim. — O duque é primoroso. — Comentou ela.
— Não me importo. — Murmurei em contradição. Sim, ele era primoroso, um rosto bonito, uma fortuna e um título... Seria o sonho de muitas das minhas amigas da cidade, mas eu não conseguia me sentir eufórica por isso, por mais que tentasse dizer pra mim mesma, que ser desposada por um duque jovem e belo, era uma dádiva.
O vi ser recepcionado por papai em pessoa, e eles logo entraram na propriedade.
Sai da janela e suspirei, sentando em minha cama, ajeitando as saias abaixo de meu vestido.
— Querida... Deveria estar sorrindo. — Disse Abigail, se sentando meu lado.
Forcei um sorriso até que parecesse uma careta.
— Não haja assim. — Repreendeu. — Farão um belo casal. Você é tão preciosa quanto uma rosa, ele também é um grande sortudo!
Eu não me achava tudo isso, na verdade era bondade de Abigail que me criou como filha. Sou magra, altura média, esguia, sem curvas acentuadas, pele clara com algumas sardas, um tanto avermelhada nas bochechas pois gosto de tomar sol quando a Inglaterra me permite, tenho olhos esverdeados, cabelos castanhos, em tamanho médio e uma franja, eles realmente não ficam muito tempo presos em penteados.
Nada como as damas que já vi, e como mamãe foi, impecáveis.
— Eu não sei Abi, na verdade, eu não sei de nada. — Falei, um tanto perdida.
— Seu pai sabe o que faz. — O defendeu. Abigail estava sempre, sempre, sempre o defendendo.
— Fala logo pra ele que está apaixonada. — Murmurei eu, para alfineta-la.
— Ah, ora essa! Não diga tamanha asneira! — Rebateu colocando a mão sobre o peito como quem foi profundamente ofendida. E isso me fez sorrir.
Ficamos ali por volta de meia hora, mas a ansiedade estava pronta pra me corroer inteira.
Fiquei de pé.
— Vou até a sala! — Anunciei caminhando rumo a porta.
— Seu pai não solicitou sua presença. — Disse Abigail, obviamente para me conter.
— Essa casa também é minha... Papai não me proibiu de andar por ela. — A respondi com um sorriso travesso, quando ela resolveu protestar eu já estava saindo porta a fora.
Caminhei decidida pelo corredor e desci as escadas que dão direto ao hall da fazenda, quando me virei rumo a sala de visitas, acabei tensionado no lugar.
Pois bem Edith, o que pensa que está fazendo? Tola!
Papai não estava na sala, e eu pude ouvir um trecho da conversa do duque com seu amigo.
— (...) pelo desespero deste homem em casar sua filha, ela deve ser uma pobre sem nenhuma formosura. — Soltou, o amigo do duque, destilando veneno.
O duque nada disse, aparentemente sequer ouviu o que o paspalho do seu amigo disse, parecia perdido em pensamentos.
— Duas semanas! — Ouvi o duque dizer, mais pra si do que pra outros, sua voz era firme, polida. — Este homem quer me casar em duas semanas!
Arregalei os olhos estupefata.
Duas semanas? Eu não me casaria em duas semanas!
— AH, MAS NEM POR UM DECRETO! — Exclamei eu, enfim, chamando atenção para a minha pessoa.
E perdi minha total linha de raciocínio, quando o olhar do duque, se encontrou com o meu.
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NOTA:
Adiantei um pouco as coisas para trazer um pouco da Edith pra vocês...
A história ta indo devagar, mas é assim que eu prefiro, por hora. Espero que estejam gostando.
Beijos.
- cris
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Reverências ao Duque (SÉRIE 'NOBRES DE MAYFAIR')
Roman d'amourUm acordo entre pais, negociando o futuro de seus filhos. Em seu leito de morte, Charles Hallward, o duque de Abbey Mount, conta a seu único filho, Dominic, sobre um trato feito há muitos anos, com um rico fazendeiro do interior de Surrey, do qual o...