EDITH
As duas últimas semanas foram as mais surpreendentes de toda minha vida. Rumos inexplicáveis para eu que nunca imaginei nada parecido para uma vida conjugal.
Dominic foi irredutível na ideia de não me deixar ir com ele nessa expedição, por mais insistente que eu pudesse ser. Não adiantou de nada.
Mas também, ele fez desses dias tão incríveis, esteve por mim, desde os cafés da manhã juntos, as nossas noites, tão cheias de paixão. Os passeios no Hyde Park e no British Museum, fomos assistir Hamlet, uma peça de meu querido e odiado Shakespeare, no Royal Albert Hall. Mas isso era pouco... Nada como uma noite de chuva em nossa casa, da qual dançamos no jardim apenas com as luzes que vazavam pelas cortinas de Abbey Mount Hall, nos beijamos e cantamos cantigas bobas como duas crianças, livres, enquanto nossos pés descalços e roupas molhadas deixavam tudo mais simples. Como o amor deveria ser.
Não éramos ali, o duque e a duquesa.
Éramos apenas "Dois selvagens", como Dominic repetiu seguidas vezes.
Longe e sem nenhum julgamento ou olhar da sociedade. Esta que sempre tende a me olhar por cima, como se não fosse um direito meu estar entre eles. No único sarau que compareci, o de Lady Kingston, em momento nenhum fui referida como duquesa, ou sequer uma lady, mal me cumprimentaram. Dominic havia se juntando aos homens, se reparou não comentou, e se não fosse minha cunhada, Dorothy, que teimosa e prestes a dar a luz estava ali para a frustração do marquês de Hamilton, seu marido, foi a única a me fazer companhia. Éramos muito diferentes, os assuntos e a forma de ver a vida, mas pelas poucas vezes que nos vimos, foi estabelecida uma boa relação, mas superficial demais para ser chamada de amizade. Seu filho, meu sobrinho, nasceu há três dias atrás, uma bela criança, saudável, que trouxe alegria a todos. Ver Dominic com o pequeno Uriel, me fez querer ser mãe, pois foi uma das cenas mais doces que já presenciei.
Tudo contribuindo para que minhas emoções e sentimentos se afloracem, e hoje, quando Dominic iria para a expedição, tudo se tornou, muito mais difícil.
Descemos juntos, de braços dados, as escadas em frente a Abbey Mount Hall, vendo alguns empregados colocarem as malas de Dom nas carruagens, parte da cavalaria real o esperava, para que ele se juntasse aos outros, pois viajariam até o porto.
Há uma boa distância deles, Dominic parou, descendo um degrau a minha frente e se virou para mim.
Olhando em meus olhos.
Já haviamos nos despedido, ele passou o dia anterior comigo, me dando total atenção para conversas, lemos juntos na biblioteca, o ouvi tocar piano, e fizemos amor.
Mas o ver ir, doeu mais que o esperado. Eu ficaria sozinha naquela mansão enorme, cuidado de tudo, mesmo que Madeleine venha me fazer companhia, não seria igual.
Eu... Eu queria meu marido por perto, e só ele.
— Dom... — Suspirei, olhando pra baixo. — Fique comigo, por favor. — Pedi, sem evitar que meus olhos se enchessem d'agua.
— Já falamos tanto sobre isso, Edith. — Disse afagando meu rosto. — Um navio em uma viagem expedicional não é adequado para uma dama, só quero lhe poupar de privações.
— Mas é um paspalho mesmo! Eu não me importo, você sabe! — Rebati.
— Mas eu me importo. — Disse, ainda firme.
— Não adianta mesmo discutir com você, não é? — Soltei frustrada.
— Não, Lady Hallward. — Sorriu. — Mas prometo voltar logo, para tirar-lhe toda a paciência. — Se aproximou — E o ar. — Disse antes me beijar, levemente, intensamente, rapidamente, mesmo que contatos íntimos em público não fossem bem vistos.
— A paciência mais que o resto. — O alfinetei e ele sorriu largo.
— Vai me esperar, Edith Hallward? — Questionou, ao me abraçar.
— Não vou a lugar algum.
TRÊS MESES DEPOIS
— Estou voltando pra casa! Sim, Madeleine, não passo mais um dia em Abbey Mount Hall.
— Se acalme Edith. — Disse minha amiga.
— A última carta de Dominic foi há duas semanas. Eu já não aguento mais ficar aqui. Até senhora Reardon, não respeita minha opinião dentro dessa casa, a sociedade fala de mim aos cochichos que eu sei. Eu já não aguento mais ficar presa! Sinto falta de casa, da minha casa. — Protestei, já não podia mais ignorar tudo, os dias, semanas, meses, em que Dominic só foi estendendo sua distância. Suas cartas falavam sobre a viagem ser difícil, sobre terem passado por uma tempestade severa em meio ao mar, mas também narrou a beleza da ilha, como as pessoas ali vivem em situações precarias, algo que diverge da vida que vivemos... E que seu trabalho diplomático com as autoridades locais para a extração de minérios parece que irá render muitos lucros a coroa britânica. Ele também diz sobre saudade e querer me ver logo. Mas mesmo assim, não era o suficiente.
Não com alguns homens que também foram nessa expedição, terem retornado a Londres.
— Sente falta de casa, é? — Madeleine deixou no ar.
Então minhas lágrimas caíram.
— Sinto falta dele. É isso. Mas ele parece sequer se lembrar que tem uma esposa, e não vou ficar parada aqui! — Falei dentro de toda minha saudade e frustração.
— Tudo bem amiga, mas está certa disso?
— Sim. Hoje mesmo, voltaremos pra Camberley, pra fazenda de meu pai, para minha casa.
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NOTA:
Oie gente, atualizei, nem acredito. Ficou curtinho, é que a madame que vos fala está com bloqueio, mas prometo tentar retomar tudo aos poucos 💕
Edith, não vai esperar mais pelo maridinho. Certa????
Acho que a quarentena e a pressão estão me fazendo escrever, GENTE QUE SITUAÇÃO NE? QUE COISA TERRÍVEL. OLHA CORONA, SIMPLESMENTE NÃO ROLA FICAR MESES PRESA COM MINHA FAMÍLIA EM CASA, SABE? esse bastardo acha que tenho sanidade mental pra isso.
o problema n é ficar em casa, é as circunstâncias da pressão psicológica????????
Mas sério pessoas, fiquem bem, tentem ficar em casa e se cuidar, por favor ❤
Então, muitos beijos
- cris
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Reverências ao Duque (SÉRIE 'NOBRES DE MAYFAIR')
RomanceUm acordo entre pais, negociando o futuro de seus filhos. Em seu leito de morte, Charles Hallward, o duque de Abbey Mount, conta a seu único filho, Dominic, sobre um trato feito há muitos anos, com um rico fazendeiro do interior de Surrey, do qual o...