Capítulo 1

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HALSEY

Quando dizem que tequila apaga sua memória, acredite. Estou em um quarto de hotel, pelo menos acredito que seja, a julgar pela mobília no estilo vintage e a falta de qualquer porta-retrato ou objeto mais pessoal, tudo aqui é bege, branco e sem vida. Credo.
Viro paro o lado e percebo que não estou sozinha.

­— Mas que porra aconteceu? — sussurro, tentando lembrar como vim parar aqui.

O homem ao lado se mexe, virando o corpo na minha direção. Ele é lindo. Seu cabelo está desgrenhado e em cima dos olhos, sua barba é rala e sua boca está insinuando um sorriso sacana, fui flagrada o medindo.

— Pode tirar uma foto, se quiser. — diz sorrindo, com sua voz rouca. Que convencido.

Puxo o lençol na tentativa de me cobrir e o vejo se levantar, caminhando devagar em direção ao banheiro.

— Quer me acompanhar, Halsey?

Suspiro na tentativa de me acalmar e recordar o que aconteceu ontem, mas são apenas alguns flashes. Eu, segurando um copo de tequila, dançando em cima do balcão, pedindo músicas ao DJ, tirando os saltos, espremendo limão na barriga de um homem. Santo Deus, é ele.
Travo minhas lembranças na hora, sentindo um rubor se espalhar pelo meu rosto. Procuro minhas coisas, preciso sair daqui, preciso ir embora e nunca mais ver esse cara.

Não me comporto assim, não posso dizer que não saio e não me divirto como qualquer outra mulher, mas acho que passei dos limites. Até porque, nem sei o nome dele, isso já indica como tudo estava sem controle. Merda.

Aproximo-me da janela e vejo que estou em um andar muito alto. Ótimo.
Ouço o chuveiro sendo ligado e essa é a oportunidade de me vestir e pular até a rua, talvez a morte seja menos humilhante do que toda essa situação.

Encosto a porta levemente, evitando fazer qualquer barulho e ao sair, prometo que nunca mais vou beber de novo. Certo, isso é mentira. Uma mentira bem gorda, na verdade. Vou embora sem pensar duas vezes.

Moro com a melhor pessoa do mundo, Tomas. Melhor amigo e confidente desde os quinze anos, nos aproximamos no primeiro dia de aula no ensino médio, quando o ajudei em uma briga com um valentão idiota da escola, sim, eu peguei minha mochila e joguei na cabeça do infeliz que estava fazendo piadas dele.
Tomas é homossexual. Grande coisa, mas algumas pessoas não aceitam como a outra deve viver sua vida, lamentável. Aliás, ninguém tem que aceitar nada e sim, respeitar. É o mínimo.
Daquele dia em diante, somos como irmãos e aqui estamos nós, morando em um apartamento luxuoso em Manhattan.
Não sou rica, pelo contrário, meus pais têm empregos normais. Meu pai é mestre de obra e minha mãe, professora. Nunca passei necessidade, mas também não vivi na riqueza como ele.
O pai dele é dono de uma rede de hotéis em toda a Costa Leste, isso explica nossa moradia no momento. Eu nunca teria dinheiro para bancar um lugar como esse, mas gostaria.

— Gata, celular. — Tomas grita e saio em disparada pelo corredor.

— Alô.

— Halsey, por favor.

— Sim, eu mesmo.

— Meu nome é Ester e falo da TEC Enterprise. — seguro a respiração ao ouvir suas palavras — Recebemos seu currículo e nos interessamos bastante pelo seu perfil, poderíamos agendar uma entrevista?

— Claro. — solto o ar aliviada e com a alma em festa — Estou disponível a semana toda.

— Ótimo. Irei te encaminhar um e-mail com o invite.

— Perfeito. Muito obrigada.

— Eu quem agradeço. Nos vemos em breve. — a chamada é encerrada e mal posso conter tamanha alegria.

ANTONY  Uma noite * livro 1 DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora