Capítulo 5

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HALSEY

A parte da manhã passa tão rápido que quase perco meu almoço com Tomas, saio do prédio e caminho até o restaurante. Que calor.

Aparentemente minha resposta funcionou com o Sr. Carter, não recebi nenhuma mensagem engraçadinha até agora, o que é um bom sinal, afinal era isso o que eu queria, que ele ficasse longe.
Tudo bem. Mentira, mas talvez se eu acreditar com muita força ela se torne verdade.

Avisto Tomas assim que chego, aceno e vou me juntar a ele.
Pedimos nossos pratos e ele começa a conversa sobre um cara novo no trabalho que está de olho.

— Sério, ele vai ser meu marido, o match foi instantâneo, tinha que ver, vou casar com ele, gata. — não me aguento e gargalho, ele não tem vergonha nenhuma em dizer essas coisas em voz alta. Ele pega seu suco verde e me oferece, recuso na hora.

— Experimenta, por favor. Ele parece feio mesmo, mas o gosto é bom, juro. — pisca repetidamente me fazendo rir.

— Não vou tomar essa nojeira.

— Vamos fazer assim então, você experimenta e eu limpo seu quarto até domingo. — isso parece bom para mim e estico a mão para fecharmos o acordo.

— Você precisa dar dois goles para o trabalho valer a pena, seu quarto é um lixo. — assinto e ele põe sua mão sobre a minha.

— Fechado. — digo. Ele segura o copo e ponho o canudinho na boca, tampo o nariz para não sentir o gosto e fecho os olhos, assim que me preparo, somos interrompidos.

— Miller. — abro os olhos lentamente e o observo encarando meu amigo.

— Olá, Sr. Carter. — cumprimento.

Tomas olha entre nós e apoia a cabeça no meu ombro. Antony acompanha seu movimento e pressiona o maxilar, como se estivesse se esforçando muito para alguma coisa.

— Quem é você? — pergunta se dirigindo a ele e o ouço responder da forma mais cínica do mundo.

— Sou o namorado dela e você? — não poderia estar mais chocada e feliz, Tomas teve a melhor reação, nem eu teria pensado nisso, por que eu não pensei, aliás?

— Namorado é? Prazer. Eu sou o chefe. — responde sorrindo. Ficamos em um silêncio estranho, esperando que alguém diga alguma coisa — Tenham um bom almoço. — e com isso, ele se afasta e volto a atenção para meu amigo gênio. Faço conchinha com as mãos e chego próximo ao ouvido dele.

— Te devo meu rim. — sussurro.

— Não acredito que você está desprezando esse homem, ele é tão bonito, e eu não quero seu rim, gata. Quero seu cérebro. — bato em seu braço levemente rindo e nos levantamos.

Como se sentisse o peso do seu olhar, me viro e encontro o Sr. Carter com o olhar fixo em mim, ele pisca e ergue o canto da boca, insinuando um sorriso. Pela cara do inimigo, percebo que não acreditou nesse nosso teatro.

— Não me espere acordada hoje. Tenho um encontro com meu futuro esposo. — Tomas diz me trazendo de volta.

— Claro, boa sorte. — declaro o abraçando para me despedir.

Assim que me sento em frente a minha mesa, meu celular vibra com uma nova notificação.

Querendo me enganar, Miller? Tente mais forte da próxima.

E eu estava certa.

Não sei do que está falando. — envio.

Guardo o aparelho e volto ao trabalho.

Depois de algumas horas e duas reuniões, enfim estou indo para casa. Junto minhas coisas, estou tão ansiosa para poder assistir um filme e relaxar que decido ir andando hoje.

Vinte minutos de caminhada e já odiei essa ideia estúpida, paro em uma padaria para comprar uma garrafa d'água e volto para a peregrinação.

Chegando em frente ao prédio, sinto uma fina linha de suor cobrir meu corpo, estou procurando a chave a dois quarteirões, não acredito que esqueci na minha gaveta do escritório e ao lembrar que Tomas não vem tão cedo, quase choro de desespero.

Sento nos degraus para descansar e chamar um Uber, vou ter que voltar lá para buscar essa droga, não tem outro jeito.

Quinze minutos e doze dólares a menos, chego ao edifício, passo voando pela catraca e vou em direção ao elevador.

O andar está vazio, graças a Deus. Vou até a minha mesa, abro a gaveta e minha chave está lá, ao me virar bato com toda a força em alguém.
Claro que seria ele. Outro clichê.

— Por que estava tão perto? — pergunto o empurrando.

— Vim deixar uns documentos para o Jake, vi você e não quis perder a oportunidade.

— Limites, Sr. Carter.

O fingido ainda sorri.

— Por que a pressa, Miller?

— Esqueci minha chave e tive que voltar, obviamente.

— Entendo. Estou indo embora, posso te levar em casa, se quiser.

— Não, obrigada.

— Não seja boba, eu te levo. Vem.

— Obrigada, mas não tem necessidade. — ouço seus passos atrás de mim e ele segura meu braço, paro e levanto as sobrancelhas.

— Está tarde e não seria incômodo algum. — ele me lança um olhar sério, mas posso ver que está se divertindo. Cansada demais para discutir com ele, aceito o favor.

Seu carro é todo preto e brilhoso, não entendo muito de marcas, mas tenho quase certeza que é caro.

O interior é todo em couro e está limpo demais, duvido que deva usar com frequência.

Assim que seu GPS sincroniza meu endereço, ele dá a partida e saímos do estacionamento.

Nos primeiros minutos, o silêncio é bem confortável, achei que seria constrangedor, mas me enganei. Que bom.
Antony começa a mudar as músicas e para em uma do The Weeknd, ele não seria mais óbvio nem se quisesse.
Canto mentalmente a canção e o vejo sussurrar a letra.

You know our love would be tragic (oh, yeah)
Você sabe que nosso amor seria trágico (oh, yeah)

So you don't pay it, don't pay it no mind, mind, mind
Então você nem dá, nem dá atenção, atenção, atenção

We live with no lies, hey hey
Nós vivemos sem mentiras, hey hey

You're my favorite kind of night
Você é o meu tipo de noite preferido

Olho atentamente para ele, reparando em cada detalhe do seu rosto, o maxilar quadrado e bem definido, o cabelo jogado sempre de lado, a barba baixa, os cílios espessos e pesado... Céus, esse homem é maravilhoso.

A música torna o ambiente quase sufocante, estar tão perto dele é perigoso para mim, não sei quanto tempo ainda consigo ser resistente o suficiente, porque isso é uma droga.

Sua mão paira no câmbio a centímetros da minha e meu coração bate rápido no peito, se ele prestar atenção, tenho certeza que consegue ouvir o retumbar acelerado.
Quase posso tocar a eletricidade que existe entre nós, um ímã que me leva cada vez mais perto dele, é desgastante e desejoso ao mesmo tempo.

Ouço sua voz cantando ao longe e odiei o som, porque era lindo, e eu não precisava que ele fosse assim, todo lindo.

Não trocamos uma palavra por todo o caminho e nem precisava. Ele aciona a seta e estaciona em frente ao meu prédio.

— Obrigada. — agradeço, mas não saio do lugar.

O Sr. Carter me encara, solta o cinto e se aproxima, e como se estivesse pedindo permissão, passa os dedos pelo meu cabelo em um toque suave, colocando alguns fios atrás da orelha. Beija minha bochecha devagar e então, se aproxima ainda mais, roçando seus lábios nos meus e dessa vez, eu não o impeço.

ANTONY  Uma noite * livro 1 DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora