ANTONY Uma noite * livro 1 DEGUSTAÇÃO

Capítulo 11

ANTONY

Estou sorrindo e nem sei muito bem o motivo, ter Halsey aqui no meu apartamento, ouvindo a coisa monstruosa que fiz e não me julgando, me deixou um pouco melhor.
Ela tem isso dentro dela, uma luz que acalma o barulho dentro de mim, sua alma doce e solidária mexe comigo, ela está despedaçada, posso ver isso e mesmo assim, tenta tirar o meu sofrimento.
Levando em conta toda a bagunça emocional que tem sido nossa conversa até agora, ainda tenho coisas a dizer, preciso que ela saiba de tudo, não quero que se afaste, Deus me livre perder essa garota, ter ela está fazendo cada dia ser mais suportável.

— Steff me ajudou há alguns meses, eu estava vendo uma moça, ela era gentil e começou a me fazer sentir coisas de novo. Estávamos saindo com bastante frequência, coisa que não acontecia comigo mais, eu não ficava mais de uma vez com a mesma mulher, não permitia que ninguém se aproximasse o suficiente, mas com ela era diferente, eu estava voltando a ser feliz novamente.
Ela tinha uma filha, mas eu não a conhecia, a gente evitava falar de coisas muito pessoal no início, ela também não estava interessada em um relacionamento, mas as coisas entre nós começaram a ficar mais séria. —respiro pesadamente e olho para Miller, ela me encara com atenção, esperando que eu continue, tão linda – Certo dia, ela comentou que não poderíamos sair para jantar naquela noite, porque a babá havia cancelado com ela, mas como a sensação de sentir novamente era boa, queria vê-la e disse para levar sua filha e ela aceitou. Combinamos de nos encontrar no restaurante, cheguei primeiro e fiquei aguardando as duas. Quando chegaram, me levantei para conhecer a menina, era uma graça, deveria ter uns dez anos, ela sorriu e me disse seu nome e porra, Miller, eu agi como um animal. – vi que ela estava sem entender e levantou as sobrancelhas confusa — Ela tinha o nome da minha filha e eu perdi o controle quando ouvi. Não conseguia respirar. Não conseguia estar ali e sabe o que fiz? Eu ri, uma risada horrível e doentia. Sentia que Deus parecia estar brincando comigo, eu era uma piada e merecia morrer sozinho, era a única coisa que eu pensava. A menina ficou assustada e começou a chorar, mas eu não me importava, porque naquele momento, eu fechei meu coração de novo. Não poderia ter essa mulher na minha vida, não iria suportar conviver com aquela criança e lembrar do que eu perdi, do que eu havia causado, do que eu nunca iria superar. Fui embora do restaurante na mesma hora e abandonei as duas lá, não respondia e nem atendia mais o celular quando via o nome dela na tela e com o tempo ela parou de tentar.

Observo a expressão dela mudar e vejo toda a minha tristeza refletida nela, todo o caos martelando no meu peito sem parar, sendo transferido. Pego sua mão e deixo um beijo ali, preciso dela. Halsey puxa de volta e meu coração afunda. Queria poder abraçar seu corpo perfeito, depositar beijos por cada parte dele, nos colocar em uma bolha onde ninguém nos atrapalharia. Queria ver seu sorriso de novo e suas respostas sarcásticas, como eu queria ela nos meus braços agora, mas entendo. Ela está magoada, eu fiz isso e me odeio um pouco mais, então por mais que eu queira seus lábios em mim outra vez, preciso que ela me conheça por completo antes de decidir se ainda me quer. Ela sustenta meu olhar e continuo, mesmo com o peso dessa realidade entre nós, escondo essa sensação ruim em algum canto e deixo ela lá.

— Fiquei um trapo de novo, comecei a beber sem parar, faltava no trabalho, esse lugar fedia, estava imundo e continuaria assim, se não fosse pela Steff. Contei a ela o que aconteceu quando me encontrou caído na porta de um pub no centro e por mais chocante que seja, ela colocou todo seu plano vingativo de infernizar minha vida de lado e me ajudou. Ela começou a vir aqui diariamente, trazia comida e mandava minha roupa para a lavanderia, isso durou algumas semanas e comecei a acreditar, que talvez pudéssemos nos acertar outra vez. Nossa convivência tinha melhorado, não no sentido romântico, mas como amigos.
Voltei ao trabalho e tudo estava indo bem, eu estava me erguendo, passo por passo, até ela descobrir que coloquei esse apartamento a venda e então enlouquecer. Ela não apoiava a decisão, disse que estaríamos mandando o resto que sobrou de nossa menina embora, o quarto de Melody está intocável, ela não conseguiu doar nada, todo santo dia passo em frente aquela porta e uma parte de mim morre de novo, dá pra imaginar isso, Miller?
Eu queria que isso parasse, tentar seguir em frente, entende? — levo as mãos pelo cabelo e puxo levemente — Carrego ela no meu peito, minha doce e linda menininha, mas não poderia continuar vivendo assim, não poderia mais. Então ela parou de vir aqui e começou toda a merda novamente, me mandava mensagens falando coisas horríveis, ligações na madrugada ficaram comuns, ela estava sempre bêbada e ficava me culpando pela vida dela ser uma droga e disse que se eu não vendesse o apartamento, assinaria o divórcio e eu aceitei, apenas para amenizar um pouco todo aquele sofrimento e tirar ela da minha vida. — respiro profundamente depois de ter contado, pela primeira vez, tudo isso. Levanto meu olhar até ela, vejo seu rosto marcado pelas lágrimas e tenho que me segurar para não chegar tão perto, mas sou fraco e desisto.
Tomando fôlego, me aproximo e deslizo meus dedos pelos seus fios em desordem, colocando uma mexa atrás da orelha e torcendo para aceitar meu contato.

— Antony, não. — sussurra e com muito esforço, respeito seu pedido. Forço meu corpo a manter um pouco de distância e continuo novamente.

— Steff apareceu no escritório sem avisar aquele dia, uma cópia dos papéis do nosso contrato estava sobre a mesa, em um momento de distração minha, ela leu um trecho e por esse motivo, disse aquilo. Ela estava lá quando desmoronei pela segunda vez, você conhece essa parte agora — murmuro — Ela acredita que nunca mais irei me relacionar de forma saudável com alguém, que morri naquela noite junto com a minha família, por isso disse aquilo sobre juntar meus cacos de novo, porque ela jura que eu nunca estarei inteiro novamente. — ela estremece e vejo a compreensão passar por seus olhos, e um peso, que nem sabia estar sobre mim, alivia a pressão e vai embora.
Meu coração aumenta o batimento quando ela diminui o espaço entre nós e deita a cabeça em meus ombros, sei que a machuquei e isso é foda demais, porque ela tem a facilidade em trazer luz para as trevas que existe em mim, mas eu não mereço ser consolado, não mereço redenção.