"Há vários motivos para não se amar uma pessoa e um só para amá-la."
- Carlos Drummond de Andrade
Olhos...
Profundos e intensos olhos rubros a observavam, lhe espreitavam com furor e iam tão longe que podiam ver através de sua carne.
Ela corria, tentava se esconder mas era inevitável, aqueles olhos vermelhos a seguiriam aonde quer que fosse, até o fim.
Se debater não adiantava mais, gritar, chutar, socar, ela era fraca diante deles, submissa...
Podia senti-los a devorando, as virgulas próximas das pálpebras se unindo e tomando nova forma, consumindo sua alma.
Fechava suas jades em busca de refúgio
É um sonho...apenas um sonho
-É um sonho...
O suor a incomodava, o tormento era visível em sua face alva.
-É um sonho...
Ela girava de um lado para o outro, esfregava sua pele se marcando, qualquer coisa que a tirasse daquela tortura.
-É UM SONHO!
Abriu os olhos em um rompante acordando com o próprio grito e sentando-se de imediato, a garganta seca, os cabelos desgrenhados, a pele pegajosa...
Mais uma vez aquele maldito sonho.
Por várias noites ininterruptas aquelas imagens vinham lhe castigar.
Já era de manhã e ter de encarar as pessoas era cada vez mais difícil depois daquelas noites, sempre se machucava durante os sonhos em tentativas por vezes falhas de acordar.
Como explicar pesadelos daquele tipo? Provavelmente a taxariam de uma obcecada perturbada e a mandariam internar.
Se levantou indo até a janela que lhe proporcionava poucos raios de sol. A brisa do iniciar do dia a alcançou e o cheiro da relva impregnava suas narinas. Fechou os olhos por um instante e pediu proteção para mais uma jornada. Abriu-os ouvindo os risos das crianças indo pela primeira vez para a academia ninja, deixou-se dar um pequeno sorriso encostando no batente da janela as observando por poucos momentos, caminhavam contentes segurando a mão de seus pais. Quando estava prestes a se retirar dali observou uma delas caminhar lentamente, sozinha, olhando adiante a alegria de seus futuros colegas. Ainda segurando o batente ela encostou a cabeça no vidro e fechou seus olhos por somente mais alguns segundos e pediu por ele, onde quer que estivesse, que o protegesse...
Pediu como pedia em todos os aniversários, e naquele dia pouco ensolarado, em que o sol sorria tristemente pra ela...um dia tão parecido com ele, frio,distante, ela pediu...
Abriu os olhos novamente e olhou diretamente para o garotinho que havia parado seu caminho para recolher uma flor que estava caída próxima a uma árvore.
Ele pegou a flor e olhou diretamente para aquela janela no ultimo andar daquele prédio antigo, atraído pela garota com o mesmo nome daquela flor que segurava e que o observava.
Ele deu um tímido sorriso, ela respirou fundo ainda o olhando e retribuiu o gesto dando um gentil e terno sorriso a criança, aos poucos a expressão dele foi se modificando e os lábios que apresentavam tímidos movimentos se alargaram de alegria, ele balançou a pequena mão pra ela ainda sorrindo e saiu correndo tentando alcançar seus futuros colegas. Ela também balançou a mão e a colou ao vidro, pena que o garotinho não pode ver...
Seguiu com o olhar até o perder de vista, depois direcionou o mesmo para o horizonte, sentiu novamente o vento lhe tocar a face como num beijo de agradecimento, o vento que sempre levava suas preces.
Se desencostou da janela deixando a mão que estava no vidro esbarrar na cortina de renda branca. Era hora de se lavar e se preparar para mais um dia.
Olhos...
Olhos rubros...vermelhos como sangue, sempre estariam com ela, a todo o momento...até a eternidade.
Sempre era recebida com sorrisos por seus pacientes, sejam eles quem fossem àquela cerejeira tinha um dom...
O de curar pessoas.
Quando as luzes verdes preenchiam suas mãos, não só o corpo se recuperava mas alguma coisa mais além, algo refletidos não no verde do chakra mas sim no verde de seus olhos.
Sakura tinha paixão.
A paixão que levava consigo fluía por seus poros e transparecia em cada traço. Seu chakra acolhedor preenchia um vazio profundo que por vezes não sabiam que existia.
Podia ser explosiva, ralhar com Naruto ou insultar Sai, ofender Ino ou desconfiar de Kakashi, mas nada seria capaz de abafar a paixão que a movia.
Quem poderia ver dentro dela e descobrir o dom escondido por detrás de jades tão bem feitas, as vezes inundadas por lágrimas, as vezes apertadas por sorrisos, mas sempre, acima de tudo...cobertas de esperança.
Caminhava sob o sol, levava consigo as frustrações de qualquer adolescente de 17 anos.
Não esperava ser vista
Ouviu um barulho, levantou a cabeça e olhou para o céu
Uma ave negra passava por ali, um corvo gritava insinuando sua presença.
Alguém, naquele instante a viu. Encontrou as íris esverdeadas e as ultrapassou, caminhou em seu interior, viu suas veias, seu sangue correr, seu chakra fluir, as células que compunham sua carne.
Foi além, enxergou suas lembranças, seu passado, suas alegrias, seus sonhos, seus desejos escondidos, seus temores, seus amores.
Viu mais... viu um futuro pra ela.
Uma rajada de vento correu por todo seu corpo e ela piscou com mais um grito do corvo.
Retirou os olhos da imagem do pássaro levando -os para o chão argiloso, algo dentro dela a perturbou fazendo com que levasse ao mão ao peito. Respirou fundo tomando todo o ar que conseguisse, por fim sorriu...não era nada.
Continuou seu caminho que agora seria trilhado independentemente de sua vontade. Ao longe, além do céu da Vila da Folha...
Os olhos vermelhos a viram, pela primeira vez.
-E então?
As pupilas em forma de vírgula pararam de girar.
-É ela!
CONTINUA...
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Olhos Vermelhos
FanfictionOlhos... Profundos e intensos olhos rubros a observavam, lhe espreitavam com furor e iam tão longe que podiam ver através de sua carne. Uma ave negra passava por ali, um corvo gritava insinuando sua presença. Alguém, naquele instante a viu. Encontro...