Uma semana havia se passado desde que Camila havia terminado seu livro, ela procurava respostas dentro de si mesma, mas sentia um vazio existencial. Parecia que, pela primeira vez, sua essência amorosa havia finalmente se expirado, como se fosse um ser humano sem sentimentos. Como se todo seu alívio amoroso tivesse passado, seu coração tivesse agora apenas uma calmaria fria e nada confortável. A garota se via em um beco sem saída.
Andava em direção ao parque da cidade, para lembrar da noite que conheceu seu primeiro amor. A cidade estava iluminada, era uma sexta feira com muitos nova-iorquinos na rua, a maioria deles, comemorando seu dia de folga.
Ela entrou, com passos leves, em seu paraíso pessoal. Via as crianças correndo de um lado pro outro com seus casacos grossos, pais e mães caçando desesperadamente os pequenos, e só conseguia rir das bobagens feitas por seres tão pequenos.
Aumentou o passo em direção à roda gigante, o único lugar aonde conseguia pensar perfeitamente bem, e escrever todos seus sentimentos de uma vez. Por incrível que pareça, Camila se sentia confortável no topo da cidade, olhando as minúsculas cabeças e luzes da cidade.
Pagou seu ingresso e entrou, olhando o anoitecer, que na verdade estava extremamente bonito. Não era azul, e sim roxo, um tom extremamente diferente da noite naquela cidade.
- Oi...- Ela ouviu uma voz rouca perto de seu corpo. - Eu acho que...vou ter que ficar na roda gigante com você.
Virou seu rosto, reparando uma jovem adulta, assim como ela, olhos extremamente verdes, quase da cor de uma esmeralda, e a pele branca, feito porcelana. Ela tinha um sorriso sem graça no rosto, segurava firme em seu banco, tentando se arrumar sem incomodar a garota de cabelos castanhos, que não tinha expressão nenhuma.
Camila não estava chocada, mas impressionada. Talvez estivesse fissurada com os olhos verdes da mulher, mas apenas encostou sua cabeça confortavelmente em seu braço, de frente para a visão do céu, e começou a divagar, já que não podia mais escrever.
Era a primeira vez que alguém sentava ao lado dela naquele brinquedo, e ela se sentia um pouco...esquisita, como se estivesse sido expulsa de seu espaço próprio, mas a garota parecia desconfortável, assim como ela. O brinquedo não era muito famoso, então as duas nunca tiveram problemas, mas a garota de olhos verdes se perguntava internamente, o porque diabos a mulher ao seu lado era tão quieta.
- Qual seu nome? - Camila olhou pra garota ao seu lado, que estava virada pro outro lado da vista. Ela, por incrível que pareça, queria ver os olhos dela novamente, porque parecia não ter criado informações o suficiente.
- Lauren. - Ela sorria amarelo, mais confortável com a situação.
- Seus olhos são muito bonitos... - Camila falava baixo, ainda encostada em seu braço. Parecia estar dopada, mas só estava pensando sobre a imensidão nos olhos da garota.
- Eu fico feliz que você os ache bonito, obrigada. - A garota se virou novamente e tirou uma máquina fotográfica da bolsa. - Você se incomodaria se...eu tirasse uma foto sua olhando para o céu?
- Uma foto...minha? - Camila soava confusa pela expressão em seu rosto, afinal, ela desde nova odiava fotos e exposição, achava seu nariz feio, sua boca torta, seu olho grande e seu corpo esquisito. - Eu não acho que sirva pra isso...
- Você na verdade está muito bonita sob essa visão. Por favor...
- Tudo bem...eu vou me virar.
Ela preparou sua câmera e o foco, pegando a garota de olhos castanhos em cheio, com uma foto do luar e luzes da cidade incríveis.
- Obrigada. - Sorriu enquanto guardava a câmera em seu bolso de novo. - Qual seu nome?
- Camila...- Fechou os olhos devagar, olhando pra garota de novo, que parecia animada.
- Você parece um pouco...sonolenta. Aconteceu algo?
- Estou incerta sobre minha vida e meus sentimentos.
- Casamento?
- Longe disso! - Camila se espantou, levantando a cabeça.
- Tudo bem... - A garota riu da reação de Camila, que ficou corada logo após. - Mas então...o que te aflinge?
Camila sentia extrema necessidade de desabafar com a mulher, até então, uma estranha ao seu lado. Queria botar toda sua frustração em relação ao seu livro pra fora, sentia que aquele olhar era reconfortante, e que talvez, por um minuto, desabafar com alguém desconhecido não fosse uma má ideia.
- Estou desapontada. Escrevi um livro, demorei dois anos para escreve-lo, e parece que agora que terminei, não sinto mais nada. - Na verdade, Camila sabia que Lauren teria lhe dado uma pontada no coração, mas não queria contar isso como valido. - Somente uma angústia, porque estou sem saída, terminei o livro, mas não tenho aonde pública-lo, estou com medo de ser rejeitada pelas editoras, pelo mundo...no final das contas, eu nunca deveria ter acabado esse livro e continuar sonhando com as impossibilidades dele, era menos frustrante.
Lauren olhava a expressão de chateação da mulher ao seu lado, que se sentia perdida ou desnorteada, ou pelo menos, passava isso.
- Seu livro...ele fala sobre o que?
- Amor, romance, paixão...
- Eu tenho uma editora. - Lauren dá uma risadinha, mas não vê expressão no rosto da garota. - Eu posso...publicar seu livro.
- Eu não acho que você vá gostar dele, afinal, nem sei porque insisti nessa ideia boba.
- Eu posso ler...O que você acha? - Lauren vai virando o rosto lentamente, pra encaixar seu olhar no da garota, que parece despertar.
- Podemos...tentar.
- Eu imagino que deve ser um livro muito bom, e eu já li muitos livros na minha vida... - Você pode ir ao meu escritório qualquer dia da semana. Afinal, com o que você trabalha?
- Sou colunista da New York Times.
- Uou, nada mau. Eu sou dona de uma editora que foi passada de família, mas sou formada em letras e literatura.
- Você soa bem inteligente.
Camila estava feliz. Por alguns segundos, sentiu seu coração palpitar pela generosidade de Lauren e, talvez estivesse vendo uma luz no fim do túnel. Sua autosabotagem não estava dando certa dessa vez, e ela estava impressionada que o destino havia colocado alguém tão bonito para ajuda-la.
- Bom...você quer tomar um sorvete? A roda gigante já vai parar.
Oh, é óbvio que Camila queria. Ainda estava impressionada com o olhar hipnotizante da garota, sua pele que parecia tão macia, suas mãos cheias de anéis, seu batom e seu delineado. Sua roupa, o jeito que ela sorria, seus dentes brancos, as expressões de seu rosto...ela estava marcando tudo dela, e queria escrever tudo, queria colocar em seu livro, de uma forma bem clichê, que encontrou um anjo andando por Nova York.
- Oh...nós podemos sim. - O homem se aproximou e tirou o cinto das duas, que saíram do brinquedo.
A garota de olhos castanhos voltou para sua órbita aos poucos, o silêncio sendo preenchido novamente, um vento frio batendo em seu corpo, seu cabelo bagunçando e sua franja caindo em seu rosto, estava sentindo tudo de novo.
Sentiu a mão de Lauren lhe puxar rapidamente para o outro lado do parque, enquanto suas botas batiam rapidamente naquele chão, e ela tentava desviar do máximo de crianças possíveis.
- Eu estou feliz essa noite...eu não sei explicar por que. - Lauren sussurrou, mas não queria que ninguém escutasse, somente ela mesma.
A garota de cabelos castanhos estava confusa, porque não sabia o que saíria dali. Ela não podia criar expectativas, mas não podia se conter.
Lauren era uma grande garota, e ela podia aproveitar isso da melhor maneira possível, ela queria fazer isso. Ela queria conhecer cada parte dela, e talvez, com cuidado, ela conseguisse desvendar os maiores segredos de quem parecia tão frágil e delicado.

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If I Fell {camren}
FanfictionCamila jurava que suas histórias de amor ficariam somente em seus livros, até conhecer uma mulher tão romântica e apaixonada por literatura quanto ela.