Capitulo 1

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Músicas: Heart Of Stone de Iko; Love Will Take You de Angus e Julia Stone; Decode de Paramore; The Other Side do filme The Greatest Showman; Fire on Fire de Sam Smith; Way Up de Fintan; Drivers Licence de Olivia Rodrigo; Bella's Lullaby;  I Don't Wanna Live Forever de Zayn e Tayler Swift; Locked out of heaven de Bruno Mars; 


É impressionante como a vida dá voltas. Num momento somos umas meras crianças e noutro já somos uns adolescentes prontos a partir para a universidade, deixando todos os familiares e amigos para trás, de modo a criar uma vida nova a partir das nossas próprias mãos. Foi por isso que em vez de entrar em Coimbra, cidade do meu coração e onde cresci, decidi entrar em Lisboa, uma cidade assustadora para os que veem de uma cidade tão pequena como a minha. Sinceramente não sei o que me espera, nem sei qual foi a minha ideia. Estava decidido que iria entrar na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, para o curso de estudos artísticos, mas em vez disso, quando recebi a confirmação que entrei na Faculdade de Direito de Lisboa foi como que o meu coração soubesse que eu teria de partir. 

Quando disse ao meu avô que decidira ir para Lisboa ele felicitou-me com uma lágrima  no canto do olho. Não queria partir e deixá-lo aqui sozinho, e ainda tentei convencer-me a ficar, mas ele recusou tal ideia, afirmando que ele já passa o dia todo num lar quando eu estou por casa, não fazia qualquer sentido eu ficar apenas para lhe dar companhia. O meu avô é um senhor com 82 anos, com uma vida cheias de histórias que não para de contar sempre que estamos juntos. Aqui há tempos contou-me a história de quando levou a minha avó, a mulher dos seus olhos, ao Porto para saltarem de paraquedas. Disse-me que nunca viu a minha avó gritar tanto. "A tua avó gritou tanto que o senhor que estava com ela, virou-se pra mim no fim da queda e disse que ainda ouvia os gritos dela", disse ele a rir. Por vezes penso em como seria se eu tivesse conhecido a minha avó, a senhora Maria. Ela morreu quando eu tinha apenas um ano de idade, e por isso não me lembro de nada dela. Em vez disso, limito-me a imagina-la pelas fotografias espalhadas pela casa e pelas histórias que o meu avô me conta. 

Tinha poucos amigos. A minha melhor amiga, Lily, e o meu melhor amigo, Adam, eram os mais importantes claro. Quando contei à Lily que iria partir e deixar para trás todos os planos que tínhamos traçado, como por exemplo, irmos as duas comprar o traje da universidade ou irmos sempre juntas para a Queima das Fitas ou para a Latada, independentemente de termos escolhidos cursos diferentes, ela começou a, literalmente, gritar comigo por ter quebrado todas as ideias que tínhamos. Passado uns dias lá consegui acalmá-la, prometendo que iria tentar vir cá pelo menos 2 fins de semana por mês, e claro, prometendo mete-la a par de tudo o que iria acontecer em Lisboa. 

Ás vezes questiono-me como é que eu desenvolvi uma relação tão grande com a Lily, sendo que ela é o total oposto de mim. Era morena, e eu loira, tinha olhos castanhos, enquanto eu tinha uns olhos azuis. Sempre me disseram que as raparigas como eu, com cabelo loiro e olhos claros, eram aquelas que tinham sempre os rapazes atrás, mas não creio que isso seja verdade. Quem tinha todos os rapazes atrás era a minha melhor amiga, que como disse era uma rapariga portuguesa banal. Claro que também tinha alguns rapazes atrás de mim, até porque cá em Portugal, uma rapariga com estas características é muito raro. "Nasceste em Portugal?", "Os teus pais são portugueses?", perguntavam-me sempre as pessoas que me conheciam pela primeira vez. Claro que a minha resposta era sempre a mesma - "Não sei". Porque era verdade, eu não sabia de nada... 

O meu melhor amigo, Adam, um rapaz com um cabelo moreno e olhos verdes, estava também a estudar da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Foi ele que me obrigou a pelo menos mandar uma candidatura para a sua universidade, e foi ele que, por um lado, me convenceu a ir para Lisboa. "Tens de abrir os horizontes, Kath. Tens de sair de Coimbra. Vai te fazer bem.", dizia ele. Assim espera. 

- Kath? - Rachel, mãe de Adam, estava ao meu lado, no lugar do condutor, a olhar para mim com uma cara preocupada. Provavelmente estava a falar de alguma coisa, mas não estava a prestar atenção. Estava tão embrenhada nos meus pensamentos e a visualizar na minha mente as lágrimas de alguns dos meus amigos e do mau avô que nem sequer notei que já estávamos no parque de estacionamento do aeroporto do Porto. Podia ter ido de autocarro ou até mesmo de carro para Lisboa, mas decidi que, pelo menos da minha primeira vez, queria ir de avião, de modo a que a viagem fosse mais rápida. Assim não ficava tão cansada com a viagem. 

- Já chegamos querida. - Disse Rachel com um sorriso, que lhe retribuí. Tirei o sinto de segurança e sai do seu carro. Quando cheguei perto do porta bagagens, pronta a tirar as minhas malas, já a Rachel estava ao meu lado. - Tens a certeza que é isto que queres fazer? - Fiquei surpreendida com aquela pergunta. Não é que pudesse fazer nada agora. Já tinha confirmado a minha entrada na Universidade de Lisboa e já tinha rejeitado a de Coimbra. Se quisesse voltar atrás só poderia entrar na universidade na segunda fase, um que me deixava atrás dos outros que já tinham entrado. Só de pensar na quantidade de matéria que iria perder dá me um arrepio. 

- Também perguntaste isso ao Adam quando ele partiu no ano passado? - perguntei, com uma pequena gargalhada. A Rachel riu-se.

- Sinceramente, não. O meu filho sempre quis meter os pés fora de Coimbra, por isso já era uma coisa que esperava. - Era verdade. Adam e a sua família vieram morar para Coimbra quando este tinha 6 anos. Quando o vi pela primeira vez estava todo amuado por ter deixado o Porto, uma cidade tão grande, para ir viver para Coimbra. "Coimbra não tem nada!" reclamava sempre ele quando íamos dar uma volta. Nunca pensei isso, mas na verdade não tinha nenhuma cidade como comparação, uma vez que nunca morei noutro lugar. 

- Estou pronta. - disse decididamente, mais para me convencer a mim mesma do que a ela. Estava pronta não estava? Tinha de estar. 

With(out) you (português)Onde histórias criam vida. Descubra agora