Capítulo 33

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Quando saímos do restaurante reparo que está a nevar. Tudo à nossa volta está branco. Isto podia ter sido uma noite perfeita, mas o Tyler tinha de estragar tudo.

Olho para trás. Podia voltar e deixa-lo aqui...

- Vens ou vais ficar aí? - pergunta-me o Tyler zangado.

Viro-me novamente para a frente e reconheço a andar até ao carro dele. As botas pretas do Tyler deixam umas pegadas gigantes comparadas com as minhas. Suspiro, olhando para o céu. Quando sai do restaurante deixei 100 dólares em cima do balcão para tentar pagar alguns estragos, mas acredito que o prejuízo fique muito maior do que 100 dólares.

Quando chegamos ao seu BMW peço-lhe as chaves.

- Não te vou deixar conduzir o meu carro. - ri-se como se eu estivesse a gozar com a cara dele.

- Queres que vá contigo, não queres? Então dá-me as chaves do carro. - Estendo a minha mão para ele. - Não estavas à espera que eu te deixasse conduzir bêbado, pois não?

- Eu não estou bêbado e não, eu não quero que venhas comigo. - responde, cruzando os braços no seu peito.

Viro-me rapidamente e começo a andar de volta para o restaurante. Que merda é esta? Não estou para a aturar o orgulho dele e apesar de saber que ele não está a dizer a verdade, não tenho forças para o contradizer.

Quando chego á porta sinto a sua mão a puxar-me.

- Desculpa. Toma. - Mete as chaves na minha mão e vira-se. Sei que está envergonhado.

Suspiro, pela milésima vez hoje, e volto para o carro. Cada vez que entro neste carro questiono-me como é que ele teve tanto dinheiro para o comprar. É este o nosso problema. Eu não sei nada sobre ele.

- Para onde queres ir? - Pergunto-lhe assim que o Tyler entra no carro.

- Vamos pra minha casa. - O seu tom está tão agressivo como há pouco. Reviro-lhe os olhos e meto o carro a trabalhar.

Da última vez que fui a casa do Tyler não correu nada bem e tenho a certeza que desta vez também não vai correr melhor.

O clima dentro do carro está tão denso que eu até abro a janela. Pelo caminho vou espreitando o Tyler pelo canto do olho. O seu olhar nunca deixa a janela do carro e está com um ar pensativo. Gostava de saber no que ele pensa... O seu punho ainda está cerrado por causa dos nervos e tem um pequeno corte, provavelmente por causa dos pratos que partiu. Ele próprio está um caco. Tem umas olheiras gigantes e o cabelo todo despenteado. Será que ele sofreu tanto como eu? Provavelmente não, deve ser estado a comer aquela gaja...

- CUIDADO! - grita o Tyler ao meu lado e eu acordo do transe. Quando vejo um gato a atravessar a rua travo a fundo, fazendo nos lançar os dois para a frente. - MAS TU ÉS MALUCA? - Estou envergonhada. Não costumo ser má condutora, mas o Tyler destabiliza-me. - Eu bêbado sou melhor condutor do que tu. Agora faz me um favor e presta atenção à estrada em vez de mim. Não tenciono morrer hoje. - Agora quem está zangada sou eu. Ele quer que eu esteja atenta à estrada? Então é isso que ele vai ter.

Olho para a estrada à minha frente. Está vazia. De um lado e do outro só há arvores. Ótimo.

Faço rapidamente a mudança e prego a fundo. 100... 120.... Sinto os olhos do Tyler colados a mim. 140... 150... Os BMW costumam ter muita resistência por isso espero que este também tenha. Quando alcanço os 180 sinto a adrenalina nas minhas veias. O controlo que tenho no carro e a velocidade faz me sentir livre. Quando vejo uma curva mais à frente não abrando. Vamos lá ver o que vales. Ajeito-me no volante e preparo-me. 190!

- O que é que estás a fazer? - Pela sua voz parece que está com medo, mas quando olho para ele rapidamente vejo que está com um sorriso. Um sorriso nervoso, mas pelo menos sei que é um sorriso.

- Aprende a conduzir, Tyler Scott. - provoco-o, acelerando mais um pouco.

- Só não me dês cabo do carro, por favor. - diz e mete a mão na minha perna. Fico surpreendida quando sinto a sua mão, mas quando ele apercebesse do que fez tira-a logo. Abano a cabeça para me concentrar. É agora.

Troco de mudança e viro rapidamente o volante. As rodas do carro viram-se rapidamente fazendo um barulho que me dá ainda mais adrenalina. Que saudade que eu tinha de fazer isto.

- VAIS ME DAR CABO DAS RODAS! - grita o Tyler, mas está a rir-se.

Assim que a curva acaba vou abrandando. Por mais que goste de fazer isto não posso correr o risco de estragar o carro do Tyler e para além do mais estamos quase a chegar ao seu apartamento.

- Onde é que aprendeste a fazer isto? - o clima entre nós já parece estar mais leve. Finalmente.

- O meu avô ensinou-me.

- Uau! - O seu sorriso é radiante, mas eu sei que lá no fundo ele acreditava que eu ia nos matar. - Vais ter de me contar como ele te ensinou isto e, claro, vais ter de me ensinar.

- E tu contas-me mais sobre ti? - vou olhando para ele, sem nunca deixar a estrada de vista. O seu maxilar torna-se mais tenso. Não tenho resposta.

Que estúpida que eu sou. Quando estava tudo a correr bem e ele estava com uma boa disposição é que eu lhe pergunto isto. Mas pensando melhor, se ele quer ser meu namorado tem de me falar sobre ele. Não posso namorar com alguém que eu não conheço e se ele ainda não se sente preparado sobre isso, então não há outra opção senão acabarmos de vez.  

With(out) you (português)Onde histórias criam vida. Descubra agora