Capítulo 27

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Fico paralisada a olhar para o Adam. Ele disse mesmo isto? Estou sem reação. O Tyler está tenso ao meu lado e o Richard chama por mim, mas eu nem lhe presto atenção. Estou num mundo só meu, completamente traumatizada com as palavras do meu melhor amigo de infância.

Automaticamente começo a andar para trás, em direção à residência. As lágrimas começam a descer pela minha cara e tenho vontade de vomitar. Corro até à casa de banho e assim que chego à sanita vomito. Estou um caco. Apetece-me desaparecer daqui e nunca mais aqui voltar. Começo a chorar e a gritar desalmadamente, e quando me limpo e olho para o espelho, não me reconheço. Os meus olhos estão inchados e o rímel está todo borrado, manchando a minha cara com um preto. Como é que cheguei a este ponto? Como é que eu acabei nesta figura?

Irritada, grito e dou um murro no espelho, partindo-o. Alguns pedaços de vidro caem para o lavatório, tal como o sangue do meu punho. Não me importo com a dor. A dor física doi menos do que a dor psicológica.

A porta da casa de banho abre-se. O Richard mete-se atrás de mim e quando olha para o espelho vejo que a preocupação toma conta dos seus olhos. Ele vê o sangue a escorrer pelo meu punho e pega num guardanapo para o limpar. Ele não diz nada, o que agradeço imenso. Molha o papel e assim que mete por cima da minha ferida gemo de dor.

- A vida dá reviravoltas inexplicáveis. Num dia podes estar feliz da vida, no outro podes estar a chorar pelos campos. Acredita que já passei por muita coisa. Claro que não tanto nem pior do que tu, mas eu, ao contrário de ti, aprendi com o que a vida me dá. - O Richard fala com tanta calma que até é estranho. Nunca o vi assim tão sério. - Quando te vi pela primeira vez e à medida que te fui conhecendo, notei que és muito ingénua. - Olho para ele chateada. O Richard olha para mim por uns segundos, mas logo depois desloca a sua atenção para o meu punho. - És muito ingénua porque só vês bondade nas pessoas. Não estou a dizer que isto é mau, pelo contrário, é ótimo. Já há poucas pessoas bondosas no mundo e agradeço por uma das poucas ser a minha melhor amiga. Mas penso que agora tens de aprender com a tua vida. Não te podes ir a abaixo dessa maneira. Isso é o que o Adam quer. - Ele larga a minha mão e poe as suas mãos na minha face para que eu olhe para si. - Nada disto é fácil. Sei que a tua vida deu uma grande reviravolta, mas tens de estar pronta para isto e para muito mais. Não podias pensar em esconder isto para sempre, tens de aprender a lidar com o teu passado e a não ver apenas bondade nas pessoas. Não podes simplesmente fazer tudo para as outras pessoas serem felizes. Primeiro tens de ser tu a sentires-te feliz. Kath, a vida é uma merda, eu sei. Mas tens mesmo de aprender com ela. Estares numa casa de banho a chorar e a partir espelhos não te vai ajudar. - O Richard deixa-me sem palavras. Não sabia que era isto que ele pensava de mim, mas agora que o oiço sei que ele tem razão. Desde que me lembro sempre tentei fazer de tudo para fazer os outros felizes. Ajudava a Rachel nas tarefas domésticas, vendi as bolachas da minha melhor amiga quando ela partiu o pé, fiz os trabalhos de casa do Adam, sempre fiz tudo pelos outros, mas penso que agora chegou a altura de fazer algo por mim.

- Obrigado, Richard. Penso que alguém tinha de me dizer isso para eu ganhar noção.

- Só não quero que percas o teu tempo a chorar. Não quero que te vás abaixo. Tens um namorado... - olha para mim e começa-se a rir. - Posso lhe chamar de teu namorado certo? - começo me a rir com ele. Quem diria que o Tyler Scott ia ser meu namorado. - Pronto, tens um namorado que te vai apoiar, assim espero. E, claro, tens-me a mim. - abraço-o com força. O Richard disse me coisas que já devia saber há mais tempo, mas mesmo assim preciso do meu tempo. Quando lhe digo isto ele despede-se e sai da casa de banho. Fico a olhar para mim pelo espelho partido, a pensar no que vou fazer a seguir e no que será o meu futuro. Sinceramente, até tenho medo do que me espera.

Lavo a cara e vou para o meu dormitório. Não vejo o Tyler desde que o deixei lá fora, mas espero que ele não tenha feito nada e esteja bem. Pego no meu telemóvel para ver se tenho alguma mensagem ou chamada, mas o ecrã está vazio. Deito-me na cama de barriga para cima. Parece que já não me deito numa há meses, por isso assim que puxo os lençóis adormeço logo.

With(out) you (português)Onde histórias criam vida. Descubra agora