Capítulo 29

20 3 0
                                    

Saio a correr do restaurante com o Richard atrás de mim. Ele grita por mim, mas ignoro-o. Quero acabar como esta dor que sinto, mas como? Eu amo o Tyler. Nunca pensei que amar fosse tão doloroso. Sempre pensei que o amor apenas trazia felicidade. Que a partir do momento em que encontras a tua cara metade, vivias com ele para sempre. Casavam, tinham filhos e envelheciam os dois, sempre com uma grande felicidade. Mas agora que sei o que é o amor de verdade, noto que os livros que li e os filmes que vi são todos uma fantasia e não uma representação do que é a realidade. Já tinha percebido isto mais cedo, mas só agora é que me está a doer verdadeiramente.

Nunca fui e senti amor por ninguém. Nunca namorei e nunca tive uma família presente. O meu avô tomou conta de mim e tenho muito carinho por ele, mas não é o amor de avô que eu precisava, era amor de pai e mãe. Só quando conheci o Tyler é que tomei consciência do que era o amor. Mas não foi só isso que eu aprendi. Aprendi também a odiar. E aprendi isso com o Adam. Disse ao Tyler estava igual e que não tinha mudado, mas agora que penso seriamente no assunto, noto que não estou. Já não sou a mesma Kath que ele conheceu, porque amadureci. Agora a verdadeira questão é se eu gosto desta nova Kath.

Ainda estou a correr e quando olho para trás já não vejo o Richard. Abrando o ritmo e vejo uma paragem de autocarro mais à frente. Já é tarde, mas ainda deve haver alguns autocarros. Vejo os horários e tinha razão, passa um daqui a 15 minutos. Sento-me no banco e fico à espera, desejando que não passe nenhum carro enquanto eu estou aqui sozinha.

Passando os 15 minutos, o autocarro chega e eu pago ao motorista a viagem. Noto que os únicos passageiros são uma mulher que aparenta ter 30 anos e provavelmente a sua filha. A menina sorri-me quando passo por elas e eu também lhe sorrio, sentando me nos bancos de trás. Fico a ver a menina a brincar com a sua mãe com a barbie. Quando a mulher a abraça e dá-lhe um beijo na cara, eu afasto o olhar virando a cara para a janela, mas já é tarde de mais. Começo a chorar silenciosamente, quando os meus pensamentos se deslocam para a relação de mãe e filha que nunca tive. Não é que eu tenha inveja, apenas tenho pena de mim própria por nunca ter tido uma família e uma vida como todas as outras pessoas.

Saio do autocarro quando ele para mesmo à frente da minha universidade. O campus está pouco iluminado e vazio, o que me dá arrepios, mas mesmo assim vou lentamente até ao dormitório. Assim que entro no meu quarto deito-me na cama mesmo vestida e sem puxar os lençóis para trás. Grito e bato na almofada com força, para tentar tirar toda a raiva e dor dentro de mim, mas não tenho sorte. O meu telemóvel vibra no meu bolso e quando o tiro vejo que é uma mensagem do Richard. "Estou no dormitório. Manda-me uma mensagem quando chegares ao teu quarto. Por favor, não cometas nenhum erro e tem cuidado. Boa noite". Respondo-lhe dizendo que já estou na residência e que vou dormir. Sempre pensei que o Richard ia estar super preocupado a tentar me encontrar, mas em vez disto já está no seu quarto. Não me espanta, já o chateei bastante com os meus problemas e ele também precisa de tempo para si.

Volto a deitar me na cama e fico a olhar para o teto. Tento afastar a cara do Tyler quando ele se sentou novamente ao pé daquela rapariga morena, mas não consigo. O seu sorriso quando ela estava a falar para ele parte o meu coração e o beijo que ela lhe dá na bochecha dá me enjoos. Tenho de dormir, só dormindo é que paro de pensar na merda que a minha vida se tornou.



- Tyler! - está de costas para mim e não me responde. - Tyler! - chamo-o outra vez, mas assim que se vira arrependo-me totalmente de o ter chamado. A rapariga morena que estava com ele no restaurante... ele... ele estava a beija-la!

- Precisas que alguma coisa, Katherine? - o seu tom frio magoa-me ainda mais. Puxa a rapariga mais para perto de sim e mete o seu braço por cima dos seus ombros. A rapariga sorri-lhe e aconchega-se mais a ele. Mas que merda é esta? - Bem como já vi que não precisas de nada, nós vamos embora. - Ele sorri e sussurra alguma coisa que a faz ficar toda excitada e mandar alguns gritinhos para o ar.

Fico paralisada e calada. Queria-me ir embora, mas as minhas pernas parecem estar coladas ao chão. Como é que em tão pouco tempo, ele já anda aos beijos com outra? Eu a chorar por ele enquanto ele estava a foder esta cabra que está a minha frente.

- É verdade, Kath. Tenho de te agradecer de uma coisa. - Fico à espera que ele continue. - Tenho de te agradecer porque se não pedisses um tempo eu nunca teria comido a melhor gaja na cama de todas. Esta miúda sabe o que faz com as ancas e... com a boca. - Ele morde o lábio e eu enjoo-me com as suas palavras e ainda mais quando ele beija a rapariga à minha frente.

Começo a gritar e finalmente as minhas pernas colaboram comigo quando eu começo a bater no Tyler. Ele agarra nos meus pulsos e baixa-se para meter a sua cara na mesma a altura da minha. Os seus olhos azuis estão cheios de odeio, enquanto os meus estão cheios de tristeza e lágrimas. Ele olha pra mim intensamente e diz – Nunca ninguém te vai amar.


Acordo a gritar por causa do pesadelo. Estou a transpirar e ofegante. Era só um sonho. Suspiro e olho para o relógio que está na minha mesinha cabeceira. São 4 da manhã, só dormi duas horas. Fico de barriga para cima a olhar para o teto, tentando não pensar no pesadelo e nas palavras do Tyler. "Nunca ninguém te vai amar". Este é o meu maior medo. Não ser amada.  

With(out) you (português)Onde histórias criam vida. Descubra agora