Capítulo 24

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Estou parada à frente da casa da família Cooper. A dor na minha cara ainda está presente e quando acordo para a realidade vejo que a Rachel e o Adam estão a discutir.

- O que é isto, Adam? Agora bates numa mulher, é? - vejo que a Rachel está a abraçar-me. Há quanto tempo ela está ao pé de mim?

- A mãe não a pode defender! Eu é que sou o seu filho!

- O meu filho nunca bateria em nenhuma rapariga. - Olho para a frende e vejo que o Dylan está à porta. Olha com um olhar confuso, provavelmente  sem perceber a confusão que se está a passar, mas tenho a certeza que a Rachel tratará de lhe contar os pormenores.

- Eu sou o seu filho! Eu estou igual, porra!

- Muito bem, então. Se é o que achas eu não discordo – o Adam olha para mim com um sorriso. Claramente convencido de que ganhou esta batalha, mas sinceramente já nem quero saber. Quero me ir embora daqui. Quero me ir embora de Portland. -  Mas agora, desculpa filho, mas vais ter de ir embora. - Olho pra a Rachel. O que? Eu sei que o Adam me bateu, mas ele é seu filho. Não era minha intenção acabar com a relação de mãe e filho.

- O que? - engasga-se. - A mãe não pode estar a falar a sério. - Ele olha para o pai à procura de apoio, mas ele não diz nada. - A mãe não me pode expulsar de casa assim!

- Eu não te estou a expulsar de casa, nunca te faria isso. Mas estou apenas a dizer-te para ires para Washington. Quando voltares novamente nas próximas ferias falaremos sobre o assunto mais calmamente. - Enquanto o Adam grita a Rachel fala num tom calmo, mas sei que ela está a conter-se bastante para não chorar.

- Sabe que mais? Tudo bem. Eu vou me embora. Vou fazer como a mãe, que me deixou sozinho com o pai durante bastante tempo. Que quase não me viu crescer até aos meus 6 anos! - pela primeira vez vejo o Tyler a chorar. Merda, o Adam a chorar. A mãe dele sempre foi um bocado ausente por causa da sua profissão. Ela foi para África, por causa de um trabalho sobre a Floresta do Congo, quando o Adam tinha apenas 1 ano. Sei que lhe deve ter custado, mas vendo bem, eu quase nunca tive uma família presente.

- Não te atrevas a esfregar-me o passado à cara, meu menino.

- Não me atrevo, mãe? Você não gosta de falar no assunto, porque sabe que fez merda. Deixar o seu filho e não vê-lo crescer deve ter sido horrível para si, mas mesmo assim nunca parou de trabalhar. Sei que ser "exploradora da natureza" é complicado e que precisa de sair de casa, mas pelo menos tinha feito um esforço para estar com o seu filho em vez de se armar numa "Dora - a exploradora".

- Já chega. - O Dylan aparece atrás do Adam com um saco e as chaves do seu carro na mão. - Vai te embora, depois falamos.

- Não acredito que o pai também esteja do lado dela. - Olha para o pai com uma dor imensa nos olhos. - Muito bem, eu vou me embora. - Pega no seu saco e dirige-se ao carro. Quando abre a porta vira-se para mim e diz - Não penses que isto vai ficar assim Katherine. - Entra no carro e vai-se embora. São apenas 8 da manhã e a minha vida já deu uma volta de 360 graus. Não estou pronta para mais discussões e muito menos para ir falar com o meu avô sobre o meu passado.

Passando apenas 10 minutos do Adam partir, eu já estou um bocado mais calma. Quando estou sentada na mesa com um chá na mão oiço a Rachel a falar ao telefone.

- O que? - ela parece confusa mais não presto muita atenção á conversa. - Muito bem, depois vou buscar a chave. - Ela desliga a chamada e suspira. - O Adam foi de avião, deixou o carro estacionado e a chave com alguém do aeroporto. - diz para o Dylan. Logo de seguida vira-se para mim. - Linda, penso que queres falar sobre o que se passou, certo? - aceno-lhe e começo a contar-lhe sobre o que se passou com o Tyler. No fim, para meu espanto, não estou a chorar. Penso que já gastei todas as minhas lágrimas hoje.

- Pensas que ele vai acabar com a relação? - encolho os ombros. Não sei mesmo o que o Tyler quer fazer a seguir, mas sei que se acabarmos eu vou mesmo muito abaixo, mais do que já estou hoje.

- Espero que não. - É a única coisa que lhe consigo dizer e ela abraça-me fortemente.

- Hoje é véspera de natal. Contamos contigo para jantar. Apesar de não estar cá o Adam e não termos feito muita coisa, temos de ter pelo menos um bocadinho de espírito de natal.

Sorrio, um sorriso pequeno, mas genuíno. Levanto-me do sofá e vou ajudar o Dylan na cozinha. O seu cabelo escuro está branco por causa da farinha e quando ele me vê a rir por causa da sua figura pega no saco e começa a atirar-me farinha para cima. Começo a correr pela cozinha para fugir dele e quando já estamos esgotados da nossa corrida a cozinha está toda suja. Ele mete um dedo à frente da sua boca para que eu não diga nada à Rachel, o que me faz rir. Agradeço-lhe por me animar um bocadinho e ele faz uma espécie de vénia, fazendo me rir ainda mais. Dou me melhor com a Rachel do que com ele, mas mesmo assim gosto bastante dele. O Adam não tem mesmo noção dos pais que tem.

Quando acabo de os ajudar com os  preparativos de Natal já são 15 da tarde. Digo-lhes que tenho de ir tomar banho e vou para minha casa. Olho para a minha casa outra vez. Devia estar aqui com o Tyler. Devia estar aqui a mostrar-lhe todas as divisões. Podíamos estar a montar a árvore de natal. Podia mostra-lhe Portland e falar-lhe sobre a minha infância. Mas ele não está cá.

Dispo a minha roupa e meto-a em cima da mesa para a levar novamente para Washington, é o meu melhor vestido e por isso não o quero deixar cá. Subo para o andar de cima, vou buscar roupas ao roupeiro e entro na casa de banho. Meto a água a escorrer e assim que aquece meto-me dentro do chuveiro. A água tranquiliza-me um pouco, mas os meus pensamentos nunca se desligam do Tyler. Há já 7 horas que ele foi embora. Como ele estará? Se calhar devia lhe ligar. Mas e se ele não me atende? É melhor não... Meto o champô no cabelo antes que a água quente acabe. Vou lhe ligar, não aguento mais. Saio do banho rapidamente e pego no meu telemóvel com a minha mão a tremer. Vou aos contactos e o nome "Tyler" é logo o primeiro nos meus contactos preferidos. Sem matutar mais clico no seu nome e ao segundo toque ele atende.

- Tyler?

-  Kath, como estás? – as suas palavras são prolongadas. Espero bem que ele não esteja... - o gato comeu te a língua? Okķkk – está bêbado e a conduzir. Isto não podia estar pior.

With(out) you (português)Onde histórias criam vida. Descubra agora