With(out) you (português)

Capítulo 42

- Sabes qual é uma das coisas que mais gosto em ti? - pergunta o Tyler, ao mesmo tempo que enche a boca com uma das sanduíches.

Franjo o sobrolho, à espera da resposta. - A tua ingenuidade. - Ele começa-se a rir tanto que quase se engasga e eu fico envergonhada.

- Não tenho culpa de não ter prática nenhuma no sexo! Se quiseres alguém mais experiente vai procurar outra! - Estou prestes a levantar-me quando o Tyler me agarra o pulso, impedindo-me. 

- Gosto da tua ingenuidade e da tua sinceridade. A sério, miúda, nunca vi uma pessoa tão direta como tu. 

- Boa pra ti. - Reviro os olhos. Já não estou a gostar da conversa.

- Mas são esses teus defeitos que me fazem apaixonar mais e mais por ti. - Faço o gesto de que vou vomitar com as suas palavras e ele começa-se a rir. Mas, sim, claro que as palavras dele agitaram o meu coração. 

- Tens bom remédio se não gostares ou se não lidares com os meus defeitos : Ires à procura de outra. - Estou só a querer pica-lo, mas também quero ver a sua reação. 

- Passo. Preciso a minha defeituosa. - Puxa-me para cima de si e dá me um beijo na testa. A minha cabeça está deitada no seu colo e as suas festinhas leves no meu cabelo fazem me arrepios.- Como é que eu me tornei nisto?

- Nisto o que?

- Um rapaz numa relação. 

Franzo o sobrolho. - Estás arrependido?

- Não, mas ainda é estranho pra mim. Quer dizer, eu costumava ter uma gaja diferente na minha cama todos os dias.

- Podes voltar a ser assim quando quiseres. - Digo-lhe, secamente, levantando-me do colo dele. 

- Não quero. - E puxa-me novamente para o seu lado. - Estou a fazer uma observação, porra. Não é isto que os casais fazem? Falarem de tudo?

- Penso que sim. - respondo, ainda meia chateada com os seus pensamentos. 

O Tyler encolhe os ombros e começa a fazer zapping, à procura de algo de interessante para ver na televisão. Os meus olhos saltam da televisão para a foto que aqui há tempos peguei. O dia em que parti a moldura daquela foto passa-me pela mente. Agora tem uma moldura nova, mas é quase idêntica à outra. Questiono-me se acertei corretamente nas pessoas que estão na foto.

- Nunca chegaste a cumprir a tua promessa. - O Tyler olha para mim confuso. - Lembraste quando estávamos no restaurante? No dia em que eu te contei do meu passado? Tu prometes-te que me falavas do teu.

Ele agita-se desconfortavelmente no sofá. - O que queres saber?

- Quem são aqueles que estão naquela foto? - Os olhos dele deslocam-se rapidamente para a moldura. Tem um olhar intenso e os seus lábios são uma linha continua. 

- É a minha mãe, o meu pai e o meu irmão. - Diz, apenas, e continua a fazer zapping.

- E, onde é que eles estão? - insisto. 

Ele suspira. - Eles são de Nova Iorque. Eu sou de Nova Iorque. 

- Tu és de Nova Iorque e vieste para Washington? - Eu vim para cá porque Portland não é grande diversão e também não me trás boas memorias, mas Nova Iorque é a cidade que nunca dorme!! Quem é troca Nova Iorque por Washington? - Porquê? Nova Iorque tem tudo!

- Fartei-me. - Encolhe os ombros. Está-me a esconder algo.

- Sabes, é suposto contares a verdade. 

- Porra, Katherine. Simplesmente estava farto de viver no mesmo teto dos meus pais e com o meu irmão, e de fingir que éramos uma família perfeita.

- Nenhuma família é perfeita. Todas têm os seus problemas.

- A questão é que para a minha mãe ela tinha de ser perfeita. - Os punhos do Tyler já se encontram bem cerrados. Com certeza não está a gostar nada da conversa.

- Não digas isso, de certeza que ela se esforçava para ver apenas todos felizes. 

- Foda-se, mas que merda sabes tu da minha família? Ou melhor, que merda sabes tu sobre famílias?

As suas palavras são tipo uma bala contra o meu coração. Já pensei ouvir isto de toda a gente, mas nunca do meu namorado. 

- Como? - É a única coisa que consigo dizer. 

- Foi o que ouviste. Tu não entendes a minha família, e sinceramente nunca vais entender.

Levanto-me rapidamente do seu colo, chocada e zangada com a sua atitude. Não dá para não ter uma discussão com o Tyler um dia. Quando eu penso que ele não me pode maguar mais, ele mostra com todo o prazer que o consegue fazer. 

- Sabes que mais? Tens razão, nunca vou entender, e sabes porquê? - Estou a gritar com ele novamente. Até parece que isto já virou rotina. - Porque se a tua família for uma merda como tu, eu prefiro manter a distância. 

O Tyler levanta-se rapidamente e agarra o meu pulso com força. - Tu não tens o direito de falar mal da minha família! - O seu olhar parece que deita fumo. 

- E tu não tens a porra do direito de me mal-tratares. - Respondo, afastando o meu pulso da sua mão. 

Pego na minha mala e quando vou a abrir a porta, viro-me pra trás e digo - Agora já podes voltar a ter uma gaja diferente todos os dias na tua cama. Até deve ser o melhor pra ti, uma vez que elas não te fazem perguntas sobre a tua família. - E fecho a porta, ao mesmo tempo que o Tyler grita o meu nome.

Chamo rapidamente o elevador, com medo de que ele venha atrás de mim, mas não vêm. Como sempre,o orgulho do Tyler nunca o faz pedir desculpas ou a vir atrás de alguém, até porque isso ia manchar a sua imagem. Quando o elevador se abre, olho para a minha imagem no espelho. Tenho as lágrimas a escorrer pela minha cara. Novamente.