CAPÍTULO OITO

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|Alicia A. Sanders|

Eu perdi a conta de quanto tempo já estávamos aqui fora, mas sabia que já havíamos acabado com três garrafas de uísque barato e o céu já tinha todas as estrelas cobertas pelas nuvens que anunciavam o mal tempo que assolaria a cidade.

— Eu nunca fiquei pelada no meio da rua. - sorri para Teresa esperando ela pegar o copo com uísque e virar o conteúdo dentro da boca.

— Eu não acredito que perdi isso! - Ric anuncia, descrente revezando o olhar entre eu e minha amiga que me fuzilava com os olhos.

— Você perde muitas coisas quando viaja para Dallas. - dou de ombros e ele bufa antes de voltar a atenção para a rodinha que formávamos no chão de seu terraço.

Tinha perdido a conta de quantas rodadas já tínhamos jogado e quantos shots eu já tinha virado. Talvez uns dez? Pela forma como meus dedos estavam dormentes e o meu filtro já estava falhando, com certeza era dez ou mais. Uísque não era o meu ponto fraco, minha resistência sobre ele era muito maior do que com qualquer outra bebida.

— Sua vez, Ric. - uma garota, que eu não lembrava qual era o nome, lembrou.

— Eu nunca... - ele olhou para Rafael. — Dormi abraçado com um urso de pelúcia depois dos vinte anos.

Rafael praguejou em minha frente e eu ri enquanto assistia ele virar a bebida enquanto fuzilava Ric do mesmo jeito que Teresa tinha me fuzilado minutos atrás.

Imaginar Rafael deitado em sua cama, dormindo abraçado com um ursinho cor de rosa me garantiu uma longa crise de riso que eu só consegui parar quando minha mente mudou a imagem que eu imaginava e ao invés de abraçar um urso enquanto babava no cobertor, Rafael agora dormia como um anjo, de barriga para cima na cama e apenas de cueca box. Preta, para contrastar com sua pele clara.

O álcool me deixava com uma mente muito poluída.

— Eu nunca tive algum fetiche estranho. - a tal garota que eu não lembrava o nome continuou a brincadeira e quase todos na roda, com exceção dela e de outro cara que o nome também era desconhecido para mim, beberam.

— Eu nunca baguncei a coleção de alguém. - Rafael falou, e eu revirei os olhos enquanto virara o copo. 

Se você quer seguir por esse caminho, Rafael, vamos seguir por esse caminho.

O cara de nome-não-importante falou e logo depois de beber mais um pouco, foi minha vez. — Eu nunca tive uma crise claustrofóbica porque o elevador parou. 

Rafael bebeu me encarando com um olhar que, creio eu, tentava ser ameaçador.

— Eu nunca roubei uma loja. - Ric diz e é a vez de Teresa virar o copo encarando Ric.

— Eu nunca... - ela parou ao receber uma mensagem no celular, assim que ela leu e desligou a tela, um sorriso vingativo estampou seu rosto enquanto ela encarava Ric. Já sinto pena dele antes mesmo de saber o que é. — Eu nunca tive policiais interrompendo minha festa.

Ric ficou parado, olhando para os outros da roda esperando beberem o copo. Lerdo sóbrio, lerdo bêbado. — Essa foi sem graça, ninguém bebeu. - ele falou, olhando para Teresa.

— Acho que você tem que beber, Ric. - ela respondeu.

— Não tenho, não, eu nunca... - ele parou de falar por um instante e Teresa o encarou com uma sobrancelha arqueada, na minha frente, Rafael segurava a risada. — Droga! - e em segundos, Ric já corria para fora do terraço.

Rafael começou a rir imediatamente, rindo muito. O tipo de risada incontrolável que fazia lágrimas escorrerem por seu rosto sem sua permissão. Caramba, até rindo esse cara conseguia ficar bonito. Como alguém tão insuportável podia ser tão gato? Se ele fosse mudo, seria perfeito. Não, não seria. Porque se ele fosse mudo, eu não escutaria essa risada, e caramba a risada dele era linda demais. Tipo, tão bonita quanto as músicas de Ed Sheeran. Ou será que eu escutaria? Mudos sabem rir? Ou eles riem como se alguém tivesse diminuído seu volume até o zero como em uma televisão?

Por que eu estava pensando nisso afinal de contas?

— Não vai descer? - Rafael perguntou, me fazendo despertar de meus devaneios e encara-lo, percebendo naquele momento que ele estava perto demais de mim. 

Rafael estava abaixado em minha frente, com a distância de poucos centímetros nos separando eu podia ver seus olhos de perto e concluir que ele tinha olhos azuis bonitos demais para alguém com uma personalidade tão irritante. 

E um sorriso bonito demais para um ser tão insuportável.

E um cabelo muito bem arrumado. Será que ele usava laquê? Ou mousse? Ou gel?

— Alicia? - ele chamou de novo.

— Oi. - eu precisava parar de beber.

— Você vai descer? - ele pergunta novamente, dessa vez, mais devagar, como se eu tivesse dificuldades para entender o que ele está falando.

O que ele achava que eu era? Uma retardada? 

— Claro! Tudo o que eu menos quero é ficar sozinha com você! - respondo me levantando e fazendo ele recuar, finalmente, alguns passos para longe de mim.

— Por quê? Medo de não conseguir se controlar comigo por perto?

— Sim. Toda vez que te vejo uma vontade enorme de te matar me domina. 

Não espero por sua resposta e vou a passos largos e firmes, ou o mais firmes que poderiam estar após vinte doses de uísque, ou mais, até a porta, a puxando assim que alcanço a maçaneta.

Maçaneta essa que não se move mesmo com minhas inúmeras tentativas de gira-la.

— Eu sei que você não quer ficar longe de mim, mas será que dá para adiantar aí? Está começando a ventar. - Rafael reclama atrás de mim.

— Eu estou tentando. 

E eu realmente estava, mas a porta permanecia imóvel e bem fechada.

— Sai da frente. - ele pede e me empurra de leve para dar espaço para ele em frente a porta. 

Ele faz força contra a porta mas a mesma continua parada.

Okay, isso não pode estar acontecendo!

— Mais força aí, magrelo! - mando, sentindo o efeito entorpecente do álcool me abandonar rapidamente.

Isso não pode estar acontecendo.

Depois de mais algumas tentativas de arrombar a porta e nos tirar daqui, Rafael vira-se para mim e eu não quero escutar o que ele vai dizer a seguir, mesmo assim, ele diz. — Acho que vamos ficar aqui por um tempo, Lili. - ele sorri, como se o que tivesse acabado de dizer não fosse, a coisa mais terrível e assustadora do mundo.

Isso, definitivamente, não deveria estar acontecendo!

[💔]

Devo postar outro capítulo na quinta?

Carma - Uma história de amor que não deu certoOnde histórias criam vida. Descubra agora