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|Alicia A. Sanders|
— O que está fazendo?
A voz de Teresa me desperta do estado de torpor ao qual eu me encontrava desde que terminei de escutar a última mensagem de voz. A data dessa última mensagem é de 2012, o mesmo ano em que Richard começou a dividir o quarto com um colega que ele denominou de Ralph e que eu nunca esbarrei durante todos os anos em que fui visita-lo na república onde ele morava.
Era tão estranho que depois de escutar todas aquelas mensagens a única coisa que eu consigo pensar é que eu passei oito anos frequentando os mesmos lugares que Rafael e mesmo assim eu só consegui esbarrar com ele quando este veio se mudar por acaso para o apartamento ao lado meu.
— Você sabia que o Rafael se formou na UC? - pergunto, olhando para ela rapidamente antes d voltar a encarar o celular de modelo completamente ultrapassado que eu tinha jogado para alguns metros de distância de mim.
— O que?
— Rafael. Ele se formou aqui. Na Universidade de Chicago.
— Como você sabe disso?
— Ele me contou.
— Como assim ele te contou? Vocês dois conversaram? Você foi conversar com ele? Vocês se resolveram? - Teresa disparou, sem intervalos para respirar.
— Não. Ele me contou oito anos atrás.
— Vocês se encontraram oito anos atrás? Por que você nunca me disse isso?
— A gente não se encontrou. - neguei.
Teresa balbuciou algumas coisas incompreensíveis antes de parar em minha frente e se abaixar para ficar na minha altura, já que eu estava sentada no chão.
— Alicia, eu preciso que você me ajude a te entender. São cinco horas da manhã, eu não funciono muito bem ás cinco da manhã.
Já era assim tão cedo? Ou tarde. Eu fiquei esse tempo aqui? Sentada no chão da cozinha, encarando um celular velho jogado do outro lado do cômodo?
— Eu escutei.
— O que? - Teresa parecia estar fazendo um grande esforço para não perder a paciência.
— As mensagens de voz. Eu escutei. Escutei as mensagens de voz que Rafael mandou para mim nove anos atrás. Eu escutei. Todas.
Senti as mãos de Teresa tentando tirar as lágrimas que eu nem tinha percebido escorrerem pelas minhas bochechas.
Eu deveria estar um trapo. Meus olhos deveriam estar inchados e meu nariz vermelho como tomate. Muito provavelmente meus lábios estariam ressecados porque sempre ficavam assim quando eu chorava. Mas eu não estava nem aí. Eu merecia. Merecia estar um trapo. E sofrer com uma ressaca moral e uma dor de cabeça infernal. Eu merecia tudo isso. Eu era a vilã. Vilãs mereciam castigos.
— Como você escutou essas mensagens se não está mais com aquele número desde 2011? - Eu não consegui falar. Porque no fundo ainda era uma completa covarde, então apenas apontei para o celular no chão há alguns metros de nós e deixei que ela mesma ligasse os pontos que eu não conseguia falar. — Você tinha esse telefone esse tempo todo? - assenti com a cabeça, sem coragem de falar em voz alta qualquer coisa que fosse.
Teresa me olhou como se olhasse para um passarinho de asa quebrado que caiu em sua janela e me abraça. Abraça tão forte que sinto dificuldade de respirar, mas eu não reclamo. Eu precisava disso. Eu precisava disso mesmo que vilãs não merecessem abraço.
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Carma - Uma história de amor que não deu certo
RomantikAlicia A. Sanders teve seu coração partido desde muito pequena, quando seus pais foram embora. Desde então, ela tinha essa terrível tendência a achar que todos que se aproximassem dela, iriam, inevitavelmente, a deixar em algum momento. Para que evi...