CAPÍTULO TREZE

505 40 90
                                    

|Alicia A. Sanders|

Antes que eu pudesse reagir ao reconhecimento da voz de Rafael próximo de mim, senti sua mão me puxar pelo cotovelo e me virar para que eu o encarasse. Perto demais. Muito perto.

— Calma aí, camarada! Espaço pessoal, lembra? - o fuzilo com o olhar e depois olho para a sua mão em meu braço em uma espécie de ordem calada.

Ele solta, porque pode ser insuportável, mas não é louco, e eu volto meu olhar para ele que me encarava irritado, como se fosse um pai repreendendo sua filha desobediente. Seus olhos cor de safira me encaravam com raiva, seu rosto contorcido em irritação e eu me perguntei como alguém, que fraze a testa com aquela irritação, conseguia, ainda assim, ficar tão lindo.

— Quantas vezes vou ter que mandar você ficar longe do Sidney? - ele explode, não gritando, acho que Rafael não é do tipo que grita, é do tipo que sussurra com raiva. Murmura as palavras quase as rosnando e juro, pode ser bem pior do que um grito, para qualquer outra pessoa exceto eu.

— Primeiro, é melhor você dar seu chilique afasto de mim antes que eu chute suas jóias. - faço uma pausa, sem desviar o olhar do dele e ele recua dois passos. Dou um passo para trás, considerando a aproximação ainda como um fator perigoso demais para mim, e continuo. — Segundo, você pode mandar quantas vezes quiser querido, nenhuma delas vai servir. Porque, só pra eu te lembrar. Você não manda em mim. E terceiro, não tem terceiro mas odeio não completar três coisas e tô muito brava com você para lembrar de alguma outra coisa que pudesse servir para eu falar.

Ele me olha sem acreditar e em seguida passa as mãos nos cabelos como se eu o tirasse do sério, ah qual é? Eu deveria estar daquele jeito. Foi ele que veio com as mãos incontroláveis tentar mandar em mim.

O ignoro e chamo meu uber.

Dez minutos para chegar. Ótimo.

— O que veio fazer aqui? - ele pergunta, após uma longa pausa que jurava ter sido o fim de nossa conversa, ah que tola.

— Não lhe diz respeito. - respondo ríspida.

— Diz respeito sim porque tenho certeza que se trata do meu cliente e tudo o que diz respeito ao meu cliente me interessa.

Idiota.

Quase conto para ele sobre as coisas que descobri mas acabo me controlando, Rafael que fizesse sua própria investigação, isso se já não tivesse feito.

— Não vou discutir com você.

— Ninguém pediu para você discutir nada. Eu estou apenas repassando avisos e perguntando coisas normais. - ele dá de ombros, cínico. — Quer ver eu perguntar de novo? Como foi deu dia, Alicia? Com certeza foi muito produtivo já que você acabou nesse lado da cidade.

Reviro os olhos e confiro o carro.

Sete minutos. Maravilha.

— Meu dia também não lhe diz respeito.

— Não pode ser ao menos falsamente gentil e monossilábica e me dizer que seu dia foi bom?

Me viro para ele, cruzando os braços sobre o peito e o encarando tentando demonstrar minha irritação.

Seis minutos.

A minha real vontade era de contar para ele que: não, meu dia não foi bom, na verdade foi horrível. Eu não consegui dormir bem porque a única coisa que eu conseguia fazer era pensar no beijo que nós demos naquele terraço e depois teve uma tempestade horrível, o prédio onde trabalho faltou luz, eu cai da escada, estou toda machucada, com um galo na testa, como se não bastasse eu sonhei com ele e não consegui parar de pensar nisso e no fato de talvez ser uma memória e de eu estar ficando louca.

Carma - Uma história de amor que não deu certoOnde histórias criam vida. Descubra agora