CAPÍTULO VINTE E QUATRO

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|Alicia A. Sanders|

Eu não consegui processar o que aconteceu durante minha caminhada até em casa, nem quanto tempo levei para dar o primeiro passo para sair daquela chuva que tinha se tornado torrencial. O vento forte que batia em mim enquanto eu andava pela rua deserta até o prédio onde eu morava não me afetou e eu não lembrava de sentir frio. Era como se eu estivesse anestesiada. A única coisa em que eu conseguia pensar era nas palavras de Rafael que não paravam de se repetir em minha mente.

"Eu nunca estive fora, Alicia."

Eu só conseguia pensar nisso. O que ele queria dizer com isso? Claro que isso poderia muito bem ser apenas uma metáfora dele, uma forma dele querer dizer que apesar de esta longe de mim, ele ainda estava comigo, mas por que eu sentia tanto que não era uma metáfora? Por que eu sentia que ele não tinha dito isso de forma poética? Por que eu sentia que ele queria dizer exatamente o que ele disse?

Quando eu lhe dei as costas e fui embora correndo para casa, com lágrimas nos olhos como se fosse uma personagem de filme romântico que descobre algum podre do mocinho, eu me arrependi quase no mesmo instante. Eu fui uma idiota por ter ido embora quando ele claramente queria me dizer alguma coisa. Mas eu não admiti. Eu estava chateada, com o coração partido. Caramba, eu era apaixonada por ele, e ele tinha acabado de terminar comigo. Qualquer motivo que ele tivesse para se explicar, não era suficiente. Na minha cabeça, nenhum motivo justificava partir meu coração.

Era plausível que eu me sentisse assim. Eu era apenas uma adolescente completamente apaixonada por um cara. Um coração partido na idade em que eu estava era mil vezes pior do que um possível coração partido agora.

Mesmo assim, agora, admito que errei em reagir de maneira tão... extrema. Eu sinto, intensamente, que foi um terrível não ter ficado para escutar Rafael.

Ric estava certo. Eu sou uma covarde. A maior covarde de todo o mundo. Se a covardia se personificasse teria, com toda a certeza, a minha forma. 

Se eu não fosse covarde, teria batido na porta dele para tirar satisfações e o fazer responder todas as perguntas que rondavam minha mente ao invés de entrar em casa.

Teresa veio até mim assim que eu parei sobre o tapete na soleira da porta. Eu tinha completa noção de que estava completamente encharcada pela chuva que caía lá fora. Minhas roupas e meu cabelo estavam pingando e molhando tudo ao meu redor mas eu realmente não consegui me importar naquele momento. Algumas lágrimas também escorriam pelo meu rosto, mornas e grossas rolando pelas minhas bochechas, eu percebi Teresa analisar cada pequeno detalhe de mim, em especial as lágrimas antes de ela me puxar completamente para dentro, fechar a porta e me arrastar para o banheiro sem dizer nada.

Eu a agradeço silenciosamente por isso. Por não me atacar com perguntas e preocupações. Esse era, afinal de contas, o motivo por Teresa ter sempre sido minha melhor amiga.

Quando chegamos ao banheiro, ela me fez entrar debaixo do chuveiro e tirar minha roupa, regulou o chuveiro para a temperatura quente e abriu o registro para eu tomar banho.

Eu fiquei ali, embaixo da água quente, vendo minha pele ficar vermelha pela temperatura da água enquanto Teresa tinha me deixado sozinha me avisando que iria em meu quarto pegar uma roupa para eu vestir.

Já vestida e quente, fomos para o meu quarto, onde deitamos em minha cama e ficamos lá, encarando o teto sem falar nada, apenas escutando a chuva cair lá fora.

— Você quer conversar? - ela perguntou, baixinho, quase sussurrando.

Senti meu nariz arder avisando que as lágrimas voltariam a qualquer momento.

Carma - Uma história de amor que não deu certoOnde histórias criam vida. Descubra agora