|Alicia A. Sanders|
Eu não gosto de muitas coisas.
Não gosto de cachorros, nem de morangos. Não gosto de filmes mudos ou franceses e nem de flores de cor lilás. Não gosto de supermercado e não gosto, principalmente, que me lembrassem coisas que eu lutava todos os dias para esquecer.
Por isso saí sem me despedir de Ric hoje pela manhã, muito mais cedo do que achei que poderia acordar depois de uma bebedeira como a de ontem. Ele tinha acertado um ponto em mim que me quebrava, o que foi muita sacanagem considerando o fato de que eu já estava trincada após a traição de Teresa e o reaparecimento de Rafael.
Eu tinha certa noção de que talvez estivesse exagerando, mas o que eles queriam de mim? Eu era humana afinal de contas, eu errava. Eu era egoísta, orgulhosa e errava muito, nunca disse para ninguém que eu era perfeita. Eles superestimaram minhas ações e se decepcionaram quando não atingi suas expectativas.
Falar do meu irmão e de meus pais no meio de um argumento para comprovar que eu gostava fugir das situações de conflito e dos problemas que me cercavam foi uma jogada feia. Uma jogada feia e desleal. Pior do que qualquer outra coisa que Rafael ou Teresa fizeram.
E daí que eu gostava de fugir? O que ele tinha a ver com isso se seria eu que lidaria com as consequências disso depois?
Ric poderia ter ficado calado, mas ao invés disso, preferiu piorar a situação.
— Temos que conversar. - foram as primeiras palavras que Teresa proferiu para mim quando cheguei em casa.
Fechei a porta atrás de mim e segui para meu quarto a ignorando prontamente.
Não estava a fim de conversar com Teresa agora, não significava, como todos pensavam, que eu nunca mais conversaria com Teresa. Eu iria conversar com ela em algum momento, Teresa era minha melhor amiga, a pessoa que sempre esteve do meu lado para tudo, era claro que eu não pararia de falar com ela por qualquer assunto que envolvesse Rafael, não valeria a pena. Eu só não conversaria com ela agora. Agora eu queria ficar sozinha e curtir minha dor. Me soterrar de trabalho e beber até perder a consciência também era algo que eu queria fazer.
Mas Teresa não pareceu entender isso, porque continuou me seguindo.
— Eu não quero conversar. - lhe digo, mas ela apenas ignora e entra em meu quarto sem permissão,
— Não importa. Eu não perguntei se você queria conversar comigo, eu disse que temos que conversar.
— Não temos nada para conversar. - digo, lhe dando as costas e tirando a roupa suja que eu estava usando.
— Temos sim. Temos muito. Você precisa me escutar, precisa me deixar explicar o porquê de ter feito o que fiz. Precisa me deixar explicar o meu lado da história e não fazer como...
— "Como você fez com Rafael?" - a interrompo, me virando. — Era isso que iria dizer?
— Eu não ia...
— Não. Você ia sim. Você desviou o olhar quando eu perguntei, você ia sim dizer isso.
— Alicia, olha...
— Não, eu não quero olhar nada. Eu quero tomar um banho, vestir uma roupa limpa e ir dormir sem ninguém ao pé do meu ouvido falando coisas que eu não quero escutar. Então, por favor, seja uma boa pessoa e saia do meu quarto para que eu possa fazer o que eu quero.
Teresa nega com a cabeça e ao invés de sair, dá alguns passos para frente, se aproximando de mim.
— Não, eu não vou sair. Não vou deixar você...
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Carma - Uma história de amor que não deu certo
RomanceAlicia A. Sanders teve seu coração partido desde muito pequena, quando seus pais foram embora. Desde então, ela tinha essa terrível tendência a achar que todos que se aproximassem dela, iriam, inevitavelmente, a deixar em algum momento. Para que evi...