CAPÍTULO DEZ

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|Alicia A. Sanders|

Já faziam exatas cinco horas desde que eu e Rafael tínhamos no beijado naquele terraço e eu ainda conseguia sentir o gosto de seu beijo, a textura de seus lábios e juro que se fechasse os olhos eu sentiria as mãos dele sobre meu corpo, uma apertando minha cintura, a outra em minha nuca, me empurrando para perto dele a cada novo instante. Já tinha tomado dois banhos nesse meio tempo mas ainda sentia o perfume dele em mim.

Isso era assustador. 

Foi assustador quando o ar nos faltou e percebemos que alguém tinha aberto a porta do terraço, foi assustador quando eu lhe dei as costas e fui para casa aos tropeços ainda sentindo os arrepios em meu corpo e continuou sendo assustador enquanto eu engulo a seco minha torrada e espero minha carona para o trabalho chegar.

Está sendo assustador, principalmente, porque eu não deveria ter me sentido tão afetada com um simples e maldito beijo de meu estúpido vizinho engravatado.

Foi só um beijo, um beijo que não foi o meu primeiro e que eu esperava que não fosse o último. Um simples beijo no meio de uma chuva assustadora enquanto estávamos trancados em um terraço.

Não deveria ser nada demais. Mas ainda sim, meu corpo tremia quando eu me lembrava da forma e da intensidade que aquelas malditas safiras me encaravam.

Queria acreditar na teoria de que eu só tinha me sentido impressionada demais graças a situação em que me encontrava instantes antes do beijo, quer dizer, eu estava vulnerável, prestando muito mais atenção na chuva que caia do que nos lábios que tocavam os meus, entretanto, a verdade era que, a partir do momento em que os lábios macios dele, tocaram os meus, eu me esqueci de absolutamente tudo. Duvidava que conseguisse saber meu nome naquele momento.

O que não fazia sentido. Deveria ter sido apenas um maldito beijo qualquer. Eu já beijei tantas outras pessoas antes, e nenhuma dessas vezes, nem mesmo com meus ex namorados, eu me senti tão afetada quanto me sentia até agora, após cinco horas do acontecido. Os outros beijos tinham lá os seus atributos, mas nenhum tinha gosto de uísque e menta, nenhum tinha lábios que pareciam terem sido criados apenas para encaixarem perfeitamente nos meus. Nenhum dos outros beijos tinha ficado na minha mente por mais de cinco horas.

— Quando você pretende sair do carro? Eu meio que tenho horário pra chegar no trabalho.

Olho para Ric como se fosse a primeira vez que o visse hoje. Nem lembrava como tinha acabado em seu carro, ou do caminho que fizemos do meu apartamento até aqui. Na verdade, eu nem lembrava como eu sai de casa.

Olho pela janela e percebo que estamos estacionados em frente ao prédio do jornal onde eu trabalhava. O edifício de quinze andares que ostentava acima da portaria principal o nome gigante e poderoso da Gazette ainda me fazia suspirar com toda sua imponência.

— Alicia? Vai sair ou não? - volto a olhar para Richard.

Olhar para meu amigo me lembrava que ele não era só meu. Ele também era amigo de Rafael. Melhor amigo, para ser mais específica. Como Ric poderia ser melhor amigo de alguém tão insuportável quanto meu vizinho? Como ele conseguirá suportar todos aqueles anos da faculdade, dividindo o mesmo quarto? Era carma demais para uma única pessoa.

— Rafael tem medo de chuva? - perguntei, me lembrando da forma como Rafael agiu quando a chuva começou a cair sobre nós, o jeito como ele falou e agiu fora no mínimo peculiar para mim, como se eu já tivesse passado por aquilo antes.

Ric me encarou como se eu tivesse três cabeças, franzindo o cenho e piscando para ver se entendia o que eu falei.

— Olha, pelo que sei a única pessoa que eu conheço que tem pavor de chuva é você.

Carma - Uma história de amor que não deu certoOnde histórias criam vida. Descubra agora