Epílogo

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Um ano e meio depois...

A coisa mais difícil em se estar vivo é ironicamente viver a vida. Não é estranho como tudo parece tão complicado quando estamos olhando de apenas um certo ângulo, mas quando algo maior como a ameaça da morte acontece pode fazer tudo ficar mais simples?

O mais curioso ainda é que a morte não espreita só quem tem câncer, mas também quem não tem e insiste em fingir que a vida não é frágil.

Agora imagina você ser o Pedro! Morrer sem dizer tudo que queria dizer. Sem fazer tudo que queria fazer. Deixando para trás mais planos do que coisas realmente concretizadas. Agora imagina ser eu e ter tempo o suficiente para mudar toda a sua vida. Para se despedir de quem você ama, para ver as flores e o sol uma última vez. Imagine ter chance de viver a sua vida de verdade.

Você tem essa chance nesse exato momento.

Então viva!
Viva enquanto há dor. Porque a dor precisa ser sentida. É o que nos move. É o que nos torna fortes. É o que nos guia. Quando parar de doer tudo vai parar também. Não pare. Só não pare.

Terminei de escrever o último capítulo e suspirei empurrando o notebook na minha cama.

— E então? Pronto? — Leo questionou da porta e eu assenti.

Passei a mão pelos meus cabelos curtos, ansiosa pela edição.

— Será que a editora vai gostar?

— Tenho certeza que irão amar. Agora termina de se arrumar logo porque daqui a pouco o Bernardo chega.

— Tem razão.

Levantei da cama e segui até o armário. Separei um macaquinho bem fofo preto e meus tênis all star. Sempre prezando pelo meu conforto.

Tomei um banho rápido e me arrumei mais rápido ainda. Olhei meus cabelos no espelho e sorri feliz ao vê-los crescer novamente.

Estava em remissão.
Finalmente.

No câncer não dizemos que estamos curados completamente, pois há sempre chance da doença voltar. Por isso dizemos que estamos em reemissão. Não há mais nenhum sinal do câncer em mim.

Eu venci. Eu venci o câncer.

Senti meus olhos marejados e notei no reflexo atrás de mim Luana sorrir.

— Vamos logo que eu estou louca para usufruir do meu coração e meus pulmões novos. — Disse animada e eu sorri.

— Vamos!

Segui de braços dados com ela até a sala e então encontramos Bernardo, mais lindo que o normal, parado com um rapaz que eu nunca tinha visto antes. Nos olhamos intrigados e ele pigarreou.

— Esse é o Francisco. Ex namorado da Andréia. — Avisou nos deixando em choque.

Luana ficou pálida ao meu lado e eu senti meus olhos cheios de lágrimas.

O rapaz colocou as mãos nos bolsos e abaixou os olhos vermelhos que já se derramavam em lágrimas.

— Eu queria muito conhecer a pessoa que recebeu os pulmões e o coração da minha namorada. — Disse com a voz embargada. — A pessoa que vai continuar respirando por ela. Que vai continuar vivendo por ela.

— Sou... Eu. — Luana disse com a voz vacilante e se aproximou vagarosamente dele.

Os dois se olharam à curta distância. Choraram como se a vida dependesse das lágrimas.

Ele a olhou arrasado, mas sorriu fraco. Eu também me entreguei às lágrimas, Bernardo me abraçou forte e eu ouvi Luana soluçar.

— A família dela foi muito generosa! Eu nunca vou poder agradecer o suficiente. Sei que foi um momento de muita dor, eu... Nem posso imaginar o quanto, mas salvaram a minha vida. Por anos eu lutei contra um câncer de pulmão que há poucos meses se tornou metastático. Se não fosse pelos órgãos da sua namorada... Eu não estaria aqui. Sei que é muito triste ter que esperar alguém partir para viver, mas infelizmente foi o que aconteceu.

As Últimas Flores De SetembroOnde histórias criam vida. Descubra agora