The Gift

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Ouço uma voz atrás de mim, olho para o lado a tempo de ver Lud passar pela porta de vidro, duas canecas em suas mãos. Sei que é algo quente, pois é possível ver a fumaça sair pelo topo de ambos os copos. Sorrio para ela, ajeito-me no banco e dou espaço para que ela possa sentar ao meu lado. 

— Na verdade não.

— Aqui, café com creme, do jeito que você gosta. - Me estende a caneca branca com desenhos de patinhos. Ela passa um braço por cima dos meus ombros e me puxa para perto dela, inclino a cabeça para trás e me apoio em seu ombro. — O que tanto pensa? Parecia bastante concentrada quando eu cheguei aqui. 

Levo a caneca até os lábios e sorvo um pouco do café, soltando um suspiro de satisfação pelo gosto maravilhoso da cafeína mesclando com o gosto doce do creme de baunilha. Lud sabe tudo do jeito que eu gosto, por isso é a esposa perfeita. 

— Estava tentando me lembrar dos nossos tempos de escola. Queria entender um pouco mais sobre nós duas. - Bebo um grande gole do café, sinto os dedos dela acariciarem meu ombro esquerdo. — Minha mente parece ter uma grande bolha de nada, eu só consigo me lembrar claramente de algumas coisas. Porém, nada importante. 

— Me pergunte, talvez eu consiga te fazer lembrar. 

Um sorriso nasce em meus lábios, é isso. Essa mulher é um gênio. Viro-me de lado e coloco minhas pernas sobre as dela, ela apóia a mão em minha lombar para me dar equilíbrio. Seguro a caneca com as duas mãos e olho para ela, penso no que devo perguntar primeiro.

— Depois do nosso primeiro beijo. 

— Que você me atacou e saiu correndo. 

— Sim. - Sorrio sem jeito, ela bebe um gole do café dela. — Você disse que eu comecei a evitar você, certo? Mas por quê? Foi somente por causa do beijo? 

— Bem, sim? - Sua testa franze em confusão. — Quero dizer, você não podia me ver que parecia estar correndo do diabo com medo dele te possuir.  

Você era como o diabo.

— Nossa.

— Pois é, era exatamente dessa forma. Eu me lembro do dia que a Lari ameaçou cortar seu cabelo e você veio falar comigo. - Ela olha para frente, mais precisamente para o céu. Seu olhar se torna nostálgico. — Você comentou sobre ter ouvido alguma coisa, um desafio. Não me lembro direito, alguma coisa assim. Acho que era uma aposta, sim! Sim! Era isso.

— Uma aposta?  

Pergunto mais para mim mesma. Fecho os olhos e respiro fundo, faço aquela palavra ecoar na minha mente. Tento me lembrar do que ela está falando, mas tudo que consigo enxergar é um grande borrão de nada. É frustrante, sabe? Você querer lembrar-se do seu passado e não conseguir pelo simples fato de que seu cérebro não quer cooperar com você.  

— Lua? Tudo bem? - Ouço a voz de Lud bem ao longe, sinto meu corpo um pouco leve. É uma sensação tipo aquela que você sente quando está quase bêbada, ou então quando fuma maconha. É como flutuar sem sair do chão.—  Amor? Fala comigo pelo amor de Deus. 

Sinto uma pressão em meus ombros, tento abri-los para olhar minha esposa e pedir por ajuda. Mas tudo que sinto é a escuridão tomando conta de tudo, e então simplesmente não me lembro de nada mais.

Corro pelos corredores desesperada. Minha mente é uma eterna confusão, tento achar algum lugar para me esconder. Ela não pode me encontrar, por que ela fica me perseguindo? Tudo bem que ela já fazia isso antes, mas parece que agora é muito mais do que antes. Chega a ser assustador.  

Olho para os lados, algumas pessoas passando pelo corredor, nem parecem me notar aqui. Menos mal, não quero ter que ficar me explicando para ninguém. Devo estar com a aparência de uma louca que está fugindo de alguém mais louca ainda. Para onde ir agora? 

Stupid Wife - Versão BrumillaOnde histórias criam vida. Descubra agora