Capítulo Três

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 CAMILA SANTIAGO RUTHERFORD

Uma péssima ideia. Péssima.

Desde o momento em que Ethan Hall-Johnson disse que o amigo ''talvez aparecesse, mas que não tinha certeza", eu soube que era uma péssima ideia. Meu alarme interno piscou e disse que era cilada, mas aceitei mesmo assim. Claro, até porque, também é do meu interesse o assunto que trataríamos.

Agora me arrependo amargamente da decisão, já que recusar o cardápio da lanchonete pela terceira vez é mais vergonhoso que sentar arrumada e sozinha numa mesa para dois.

Não costumo sair muito desde que desmanchei o noivado com Frederic, então apenas o fato de me arrumar para sair, já valeu o esforço. Mas ainda sim é vergonhoso.

"Quer mais um copo d'água?" a garçonete cheia de espinhas me pergunta enquanto masca um chiclete. Não parece feliz nada quando nota minha negação.

Claramente a adolescente está desanimada com o primeiro emprego e pouco ansiosa com a gorjeta da cliente isolada. Estou no estabelecimento por uma hora e ainda não fiz nada além de viajar a porta como um cão.

Já entraram dois senhores de meia idade, um casal de jovens e uma grávida. Todos se conhecem porque são residentes da Prince e acabam se conhecendo pelo fato da cidade ser ridiculamente pequena. É fácil distinguir os moradores dos universitários na maior parte do tempo, porque os primeiros se tratam com muito mais carinho. Os universitários raramente cuidam do jardim ou criam raízes por aqui, qualquer brecha é um convite para pegar uma passagem de ida para casa.

Feriados deixam a cidade deserta e repleta de idosos, um clima muito aconchegante e que adorei quando presenciei por aqui. Mas agora tudo em New Jersey e especialmente na Prince, parecem um atraso inapropriado para minha vida.

Quero apenas acabar tudo e seguir em frente. Em alguns meses, eu terei minha vida de volta no Arizona.

Também não sinto que Pheonix é minha casa. Meu lar. Mesmo com meus pais e irmãs, o lugar parece inapropriado. Inacabado.

Não sei o que será depois da formatura. No momento, o que posso fazer é torcer para que a experiência com Levi me ajude em alguma coisa. Compreender onde tudo deu errado, entender onde aquela loira escandalosa do Victoria Secret's se encaixa... E talvez voltar a dançar sem me preocupar.

Mais uma pessoa entra. Um sujeito tão alto que eu juro eu o vi ter problemas com o sininho da porta estreita na lateral da lanchonete. Todas as garçonetes começam a se cutucar enquanto ele tira a touca de um jeito desajeitado e começa a ajeitar o moletom dos Red Sox. Pelo jeito que deixa a porta bater com o vento, um Universitário.

Mesmo para uma lanchonete conhecida, há lugares suficientes para que ele se sente no lugar mais próximo que seja. Mas, ainda sim, o sujeito olha ao redor e sorri antes de escolher um lugar. Na diagonal a minha mesa.

Espio mais um pouco o cara –que parece lindo demais para ser despercebido –, e vejo-o tirar um livro do bolsão do moletom antes de se lançar na cadeira despreocupado. As garçonetes começam uma pequena guerra para ver quem vai atende-lo e volto meu olhar a porta, esperando que o tal Levi surja.

Eu devia ter pedido uma foto dele a Ethan ou até para minha colega de quarto, para facilitar essa situação. Talvez olhar nas redes sociais e me esforçado um pouco mais também ajudaria, mas estou apenas contando com a sorte nesse momento.

O sino da porta toca outra vez e me sinto uma tola por me deixar enrubescer tão facilmente com o olhar imediato que o sujeito me lança. O homem parado a porta me encara por alguns segundos e parece uma eternidade. Ele logo percebe o que acontece e fica tão desconfortável quanto eu, porque vira de costas para tirar os casacos livremente e acaba com o transe.

Objetivo MútuoOnde histórias criam vida. Descubra agora