Objetivo Mútuo

Capítulo Quatorze

LEVI THEODORE STANDERS

Tem certas coisas na vida de um homem que crescem como uma grande espinha no meio da bunda. Espere, não. Não gosto de coisas na minha bunda. Então, digamos de maneira mais direta: existem coisas na vida de um homem que surgem para incomodar, nos momentos mais inoportunos. Não deviam estar lá, mas estão. Como uma simples sentada na cadeira pode ser tortura com uma espinha na bunda, saca?

A depilação no início da pré-temporada é uma dessas coisas. Além de ser no inverno, onde ainda há o ar mais frio e cortante, a droga arde e coça como um inferno. Mas não o bastante para estar sempre 100% livre para passar a loção de alivio, porque você vai estar sempre cheio de agasalhos.

Por isso a maioria dos caras simplesmente foge do dia da tortura. Ou tenta.

Desde que cheguei a Prince, nunca consegui me esquivar. Todo o time coorporativo já é ciente da relutância da equipe masculina e nos pega de surpresa, colocando a droga da depilação entre dias que todos costumam comparecer. No caso de hoje, foi o dia de exames médicos. Nenhum de nós saiu ileso.

Não é como se fossemos obrigados, mas ninguém jamais olhou para Susan com os palitos e a cera e começou a chorar. Ou correr? É uma tortura prolongada, mas aceitamos porque faz parte do pacote dos melhores resultados na água.

Sempre foi essa a questão. Sem pelos? Mais sensibilidade com a água e mais velocidade em impulsos leves quando flexionamos os músculos. Com pelos? Olhares feios de técnicos que falariam eternamente sobre como você poderia melhorar com maior sensibilidade –mesmo que isso não fosse de fato verdade.

Sei bem porque foi assim que comecei. Nunca tive problemas com as costas ou peito, mas sou um cara normal com pernas normais e tenho pelos. Ou ao menos tinha.

Ah, a dor é insuportável.

"Essa porra de loção ajuda em nada!" McKleen, um dos calouros da equipe, reclama com o sotaque texano arrastado.

Já vi o cara reclamando de neve vezes suficientes para ter certeza que ele entende o que há de errado com esse lado do país, então, decido consola-lo.

"Relaxa aí, Mc." Aproximo-me da pia para recolher minhas coisas, enquanto diversos caras brigam pelo espelho ao tentar lustrar as peles irritadas de óleo grudento "Água gelada resolve mais que essa droga. Tente um banho frio."

"Mas está nevando! Vai demorar uma vida se todos tiverem que esperar pelo secador." O texano responde desanimado, desistindo de tentar usar o espelho das pias.

"Ousem sair de cabelo molhado e é o suficiente para a Karen e a Julie lembrarem a que vieram!" Mark, nosso treinador e preparador físico, entra no banheiro com o sorriso diabólico e as piadas prontas de sempre "Tentem não fazer tanto drama, as garotas adoram a depilação de graça e ainda saem se gabando disso."

"Elas não são pegas de surpresa no exame médico!" Quill, um dos reservas prontos para a posição titular, protesta enquanto guarda tudo com raiva na mochila "Isso é desumano."

"Vocês viriam se eu avisasse?" Mark debocha, checando a prancheta de sempre e satisfazendo-se com o silêncio como resposta "Foi o que pensei. Aliás, todos vieram? Sentiu falta de alguém, Standers?"

"O Gillian não veio, mas me deixou avisado que faltaria nos exames porque teve uma emergência em New York."

"Sabe se ele está bem?" Mark pergunta outra vez, assinando a prancheta "Mandei uma mensagem, mas ele ainda não respondeu."

"Eu também mandei algumas, mas ele n..." o meu celular apita no mesmo instante, chamando a atenção de Mark e dos caras que se preocupam com Gillian. Mas não é isso.