O Livro de Aurum

Capítulo Nove

Se passaram horas e horas, nenhum dos livros da biblioteca tinham a resposta. Muitos contavam apenas métodos de matar vampiros, apenas os vampiros. Nenhum deles falou em momento algum sobre o livro mais importante para os filhos da noite. Estava começando a ficar frustrante e o meu tempo estava acabando. Eu precisava encontrar a resposta e pensar em um plano, antes que fosse tarde demais.

Quando o relógio da biblioteca tocou avisando que já era meio dia, algo dentro de mim ficou inquieto. Faltavam doze horas até meu prazo final. Nicholai estava espreitando nas sombras, eu sabia. Podia sentir. A presença dele sempre me assombrava e era tão familiar como o som do meu nome. Mesmo à distância, ele estava perto. O cabelo da minha nuca arrepiara ao que esse pensamento ocorreu.

Robin tinha certeza que sua esposa iria voltar para casa na hora do almoço, então, fomos para a delegacia que ele trabalhava e ficamos na sua sala. Ele fechou todas as persianas e eu tirei o casaco que cobria meu rosto e meus braços.

— Nós podemos ficar aqui, eles não vão me incomodar hoje. Vou pedir alguma coisa para comermos, ok? Fique à vontade.

Com um sorriso, ele saiu e fechou a porta. O escritório que ele usava era simples e toda a mobília parece antiga, devia ser coisa de cidade pequena, querer conservar a história em bens materiais. No canto da sua mesa um porta-retrato trazia outra foto, ele parecia feliz com a família que montara. Por muito tempo ouvi as histórias que minha mãe contava e em todas elas, meu pai parecia completamente apaixonado por ela. Claro, na época, eu não sabia da existência das poções do amor, então sempre acreditei que eles haviam se separado apenas por problemas no meu nascimento. Dois anos da vida do meu pai haviam se apagado da sua mente e ele lembrava de pouco, mas mesmo assim seguiu em frente e construiu uma família sem trapaças.

Me afastei da mesa e sentei no sofá do outro lado da sala. Ele poderia estar tendo um dia de folga tranquilo, mas eu aparecera na sua porta na noite anterior e agora ele, e sua família, estavam correndo perigo. Ao contrário do que minha mãe pensou, nós nunca seriamos felizes no mundo dos humanos. Talus iria nos caçar até conseguir que voltássemos para Monte Louiur, para a sua comunidade. Se não nos encontrasse ele iria atacar meu pai, já que ele é e sempre foi o homem que minha mãe amou. Apesar de querer ficar e, pela primeira vez, conhecer meu pai, eu não podia. Depois que tudo isso acabasse, eu iria embora.

Horas depois, a sala estava cheirando a comida chinesa. Foi a primeira vez que comi algo tão diferente em todo a minha vida. Só não estava melhor que a comida da Madeline, a esposa do meu pai. Quando tudo acabou, espalhamos os papéis em cima da mesa de arquivos no canto direito, embaixo da janela. Começamos a revisar todos os detalhes e informações que reunimos nos livros, mas nada estava fazendo sentido. Estava faltando alguma informação, mas não sabíamos o que era.

Passamos mais algumas horas, relendo e avaliando todas as opções. Madeline ligara várias vezes durante a tarde, perguntando que horas meu pai iria voltar, só então percebemos que estava completamente escuro lá fora. O que deixava a situação ainda mais tensa. Sem a luz do sol, Nicholai poderia estar parado na entrada apenas esperando para me pegar e matar o meu pai.

— Você tem certeza que nenhuma dessas formas funciona? — Robin perguntou quebrando o silêncio que tomava conta do escritório, ele me olhou passando as mãos no cabelo, claramente ansioso.

— Tenho. Todo o vampiro sabe que essas coisas não funcionam. Se mata um vampiro retirando seu poder mágico ou seu sangue. O livro não tem sangue, então a gente descarta essa opção e... eu não tenho força o suficiente para sugar a magia que tem no livro. Minha mãe teria, mas essa deve ter sido a primeira coisa que ela tentou.

— Tudo bem, mas e se, apenas e se... — ele me encarou com um olhar de esperança. — Essas maneiras de matar os vampiros que estão em todos os lugares estejam se referindo ao livro e não aos... seres em si?